AR-15: como a arma usada para tentar matar Trump virou ‘o fuzil da América’


De acordo com associação nacional, há 20 milhões de fuzis nos EUA. Arma foi usada por atirador para atingir Trump e está por trás de vários tiroteios em massa recentes no país. Fuzis AR-15 em exibição na convenção anual da Associação Nacional do Rifle dos EUA, no Texas
REUTERS/Carlos Barria/File Photo
No sábado (13), Donald Trump foi vítima de uma tentativa de assassinato durante um comício em Butler, cidade da Pensilvânia, e acabou atingido por um tiro de raspão na orelha. A arma usada pelo atirador foi uma das mais populares dos Estados Unidos: um fuzil do tipo AR-15.
Segundo dados da NRA (Associação Nacional de Rifles dos EUA), o país tem hoje mais de 20 milhões de AR-15 comprados legalmente —lá, a arma é conhecida como “America’s rifle”, ou fuzil da América, frequente inclusive em tiroteios em massa. No começo dos anos 90, eram 400 mil.
Mas por que uma arma tão poderosa se tornou tão comum entre a população?
A expansão do número desse tipo de armamento entre a população se deu, principalmente, depois de 2004, quando caiu uma lei que proibia a fabricação, transferência e posse de armas de estilo militar para uso civil —e em vigor desde 1994.
Em 2005, com a Lei de Proteção do Comércio Legal de Armas, que dava imunidade à indústria se as armas fossem usadas ilegalmente —aprovada pelo governo George W. Bush—, a venda de equipamentos de estilo militar ganhou ainda mais força.
Fuzil AR-15
Arte/g1
De acordo com a National Shooting and Sports Foundation, entre 2002 e 2012, a produção de fuzis nos EUA cresceu mais de 160%.
Os atentados terroristas de 11 de setembro e as ações militares americanas no Iraque e no Afeganistão também ajudam a explicar esse aumento exponencial, além do uso para caça.
“Acho que o evento realmente crítico que define a cultura das armas hoje, embora as pessoas não o reconheçam, é na verdade o 11 de setembro”, afirma AJ Somerset, ex-soldado e jornalista canadense que passou grande parte da carreira documentando a indústria de armas de fogo, em entrevista à BBC em 2023.
Arma foi usada em vários ataques nos últimos anos
Com a popularização, nos últimos anos, esse tipo de armamento foi usado em pelo menos 10 de 17 tiroteios em massa nos Estados Unidos, segundo o jornal “The Washington Post”.
Os fuzis AR-15 foram utilizados, por exemplo, ​​nos massacres das escolas Sandy Hook e Parkland; do festival de música em Las Vegas; da igreja de Sutherland Springs; da boate Pulse em Orlando; da escola primária de Uvalde; e do colégio Covenant School, em Nashville. No Brasil, a arma é proibida para uso geral —a posse é permitida para CACs (colecionadores, atiradores desportivos e caçadores).
Esse tipo de ataque reacende protestos pelo país e apelos para proibir fuzis de estilo militar. Apesar disso, alguns legisladores dos EUA até já propuseram um projeto de lei para tornar o fuzil, oficialmente, a “arma nacional” dos Estados Unidos .
Balas de AR-15 causam mais danos aos órgãos
O que também faz o fuzil AR-15 ser tão popular são algumas de suas características. Acessível, customizável, leve e letal, ele é uma variação de um modelo criado nos anos 50 por Eugene Stoner, designer de uma pequena companhia no sudeste da Califórnia, a ArmaLite.
De acordo com a NSSF (Associação Comercial da Indústria de Armas de Fogo dos EUA), “os fuzis estilo AR-15 podem parecer fuzis militares, como o M-16, mas, por lei, eles funcionam como outras armas de fogo esportivas civis semiautomáticas , pois disparam apenas um tiro a cada puxão do gatilho”. Eles se referem ao AR-15 como um “fuzil esportivo moderno”.
Outro atrativo é o preço: eles são vendidos por um valor que varia entre US$ 400 (R$ 2.170) a US$ 2.000 (R$ 10,8 mil), e quase todos os grandes fabricantes de armas produzem um. A munição é barata e pode ser comprada online, e os carregadores podem ser usados ​​entre os fabricantes.
De acordo com uma reportagem do “USA Today”, o alcance do disparo da arma para atingir um alvo do tamanho de um veículo pode variar entre 365 e 550 metros, dependendo da habilidade do atirador, o calibre do cartucho usado e fatores ambientais.
Poderosos, os fuzis AR-15 foram criados para infligir o que um de seus projetistas chamou de “efeito de ferimento máximo”, de acordo com a “Newsweek”. Os AR-15s têm uma velocidade de saída maior do que alguns outros fuzis e as balas, deixando a munição em uma velocidade tão rápida que os projéteis causam mais danos aos ossos e órgãos.
Republicanos seguem apoiando
Apesar de Trump, do Partido Republicano, ter sido atingido e quase morto por um disparo de AR-15, políticos republicanos são contrários a uma eventual restrição nas leis de armas do país. Nenhum dos 12 delegados republicanos ouvidos pela Reuters defendeu limites ou proibições de fuzis de assalto, aumento da idade legal para comprar uma arma ou mesmo verificações de antecedentes mais rigorosas.
Para os delegados, as reformas deveriam se concentrar em financiar melhor suporte de saúde mental para cidadãos problemáticos, uma posição republicana padrão.
Eles culparam os crimes com armas e massacres com armas de fogo – incluindo a tentativa de assassinato de Trump – em grande parte por doenças mentais e armas caindo em mãos erradas.
“É tudo sobre saúde mental. O direito de ter uma arma está consagrado na Constituição. Quando você começa a infringir isso, outros direitos começam a ser tirados”, defendeu Will Boone, de Montana.
O porte de armas, aliás, está proibido dentro do Fiserv Forum, que abriga a convenção em Milwaukee, e em seu entorno imediato, que está sob controle do Serviço Secreto. No entanto, fora desse perímetro, sob a lei do estado de Wisconsin, o porte está liberado.
Segundo uma portaria da cidade de Milwaukee aprovada recentemente, não estão permitidas nesse “perímetro flexível” o porte de bolas de tênis e armas de paintball, mas o texto não cobre a maioria das armas de fogo.
Isso significa que, a uma curta distância do salão de convenções, as pessoas não podem portar uma arma de paintball, mas podem portar um AR-15.
“É completamente ridículo. Posso imaginar essa imagem de alguém chegando ao ponto de entrada com um AR-15 em um ombro, um fuzil longo sobre o outro e duas pistolas no cinto, e os policiais perguntando a ele: ‘Você tem alguma bola de tênis?'”, ironizou Robert Bauman, um vereador da cidade contrário à portaria à ABC News.
Na Pensilvânia, onde ocorreu o atentado a Trump, o porte do AR-15 também é permitido. Maiores de 18 anos podem possuir armas longa e não há a exigência para o armazenamento trancado e nem limite para o número de armas de fogo ou a quantidade de munição que um indivíduo pode comprar. O estado também não realiza verificações de antecedentes em compras de munição.
Durante seu mandato, de 2017 a 2021, Trump tentou várias vezes flexibilizar as leis sobre armas. Pouco depois de assumir o cargo, ele sancionou um projeto de lei que reverteu uma regulamentação da era Obama que tornava mais difícil para pessoas com doenças mentais comprarem armas.
Este ano, falando à Associação Nacional do Rifle, o candidato republicano prometeu revogar todas as restrições relacionadas a armas decretadas pelo presidente democrata Joe Biden.
Infográfico – atentado Trump
Arte/g1
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