Terremoto no Chile ‘chacoalha’ feixe de luz do superlabotório Sirius, acelerador de partículas brasileiro; entenda


Sirius é um dos três laboratórios de luz síncrotron de 4ª geração no mundo, e abalo no país vizinho mexeu com feixe de luz do equipamento em Campinas (SP). Sirius, laboratório de luz síncrotron de 4ª geração que fica no CNPEM, em Campinas (SP)
Nelson Kon
O terremoto de magnitude 7,4 que atingiu o norte do Chile e foi sentido por moradores no estado de São Paulo mexeu, inclusive, com o feixe de luz do superlaboratório Sirius, mais avançado equipamento de pesquisa do Brasil e um dos mais importantes do mundo, que fica no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).
De acordo com a dra. Liu Lin, chefe da Divisão de Aceleradores do CNPEM, os monitores de posição do feixe de elétrons do acelerador de partículas detectaram o reflexo do terremoro às 22h55 de quinta (18), sendo que o período de maior instabilidade durou dois minutos.
O Sirius é um dos três laboratório de luz síncrotron de 4ª geração do mundo, e ele atua como uma espécie de “raio X superpotente” que analisa diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
❓ Como funciona o Sirius? Para observar as estruturas, os cientistas aceleram os elétrons quase na velocidade da luz, fazendo com que percorram o túnel de 500 metros de comprimento 600 mil vezes por segundo. Depois, os elétrons são desviados para uma das estações de pesquisa, ou linhas de luz, para os experimentos.
🧲 Esse desvio é realizado com a ajuda de ímãs superpotentes, e eles são responsáveis por gerar a luz síncrotron. Apesar de extremamente brilhante, ela é invisível a olho nu. Segundo os cientistas, o feixe é 30 vezes mais fino que o diâmetro de um fio de cabelo.
Sistema de monitoramento do superlaboratório Sirius, acelerador de partículas que fica em Campinas (SP), detectou alterações durante o terremoto no Chile, na noite de quinta (18)
Reprodução/SIRIUS
De acordo com Liu Lin, vários monitores de posição no anel medem esse feixe de luz, e inclusive há um sistema de correção para que ele seja mantido em uma posição estável “para não afetar o funcionamento e aplicações em pesquisas”.
“Normalmente, a estabilidade de posição é da ordem de 100 nanômetros. E aí, quando teve o terremoto, chacoalhou. Então, nos gráficos chegaram a amplitudes de 10 a 20 micrômetros. É bem maior do que a posição que normalmente a gente tem, que é de centenas de nanômetros”, destacou a pesquisadora.
Vale explicar que o micrômetro é 1.000 vezes menor que o milímetro, enquanto o nanômetro é 1.000 vezes menor que o micrômetro. Ou seja, são variações numa escala imperceptível para o olho humano.
Tremor no interior de SP
Moradores da região de Campinas relatam que sentiram tremor após terremoto no Chile
Moradores de ao menos cinco cidades da região de Campinas (SP) relataram ter sentido a terra tremer na noite desta quinta-feira (18) minutos após o terremoto no Chile.
Os relatos de Campinas, Americana (SP), Hortolândia (SP) Valinhos (SP) e Paulínia (SP) foram feitos à EPTV, afiliada da Globo, e ao Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (SismoUSP), conforme mapa abaixo.
“Apesar da sensação estranha sentida pelas pessoas, as chances de danos estruturais causados por um tremor tão distante são bastante pequenas”, explicou o SismoUSP.
Moradores de cidades da região relataram tremor após terremoto no Chile
Reprodução/Centro Sismologia USP
Campinas
Larissa Pereira, moradora da Vila Industrial, contou que o tremor foi por volta de 23h. “Eu e meu marido estávamos assistindo filme e sentimos o tremor de terremoto. Primeiros ouvimos o box do banheiro tremendo, nunca tremeu e a janela do banheiro estava fechada”.
Moradora do distrito de Barão Geraldo, Márcia relatou a experiência ao Centro de Sismologia da USP. “Estava sentada no sofá e senti ele se mexer um pouco. Olhei para uma planta ao meu lado que estava balançando e confirmou o que eu estava sentindo”.
Terremoto em Campinas? Há um ano, moradores sentiam terra tremer igual ao abalo em Minas
Ricardo, morador do bairro Guanabara, também relatou ter sentido a terra tremer. “Estava no celular deitado na cama, quando a cama começou a chacoalhar, corri para sala e vi os lustres balança e logo parou”.
Em nota, a Defesa Civil de Campinas informou que moradores de dois bairros de Campinas relataram no final da noite desta quinta-feira, 18 de julho, ter sentido tremores em suas residências, como reflexos do terremoto ocorrido Chile.
“Foram duas consultas à Defesa Civil, de moradores do Jardim Paulicéia e da Ponte Preta, porém sem necessidade de vistoria. A Defesa Civil de Campinas informou que não há risco de danos ou pessoas feridas e que a população deve entrar em contato pelo telefone 199 para informar este tipo de ocorrência e avaliar a necessidade de vistoria”, disse em nota.
Terremoto no Chile
Local do terremoto de 7,4 graus que atingiu o norte do Chile
Reprodução
O terremoto de magnitude 7,4 atingiu o norte do Chile por volta das 22h50 (horário de Brasília) desta quinta-feira (18). O epicentro do tremor foi na região de Antofagasta, próxima ao deserto do Atacama, na fronteira com Bolívia e Argentina.
Segundo o serviço geológico dos Estados Unidos (USGS), o tremor ocorreu a 126 km de profundidade. O epicentro foi localizado a 20 km ao sul da cidade de San Pedro de Atacama, na região de Antofagasta, que fica a 1.630 km da capital Santiago.
Moradores de São Paulo também relataram que sentiram o tremor. Segundo o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, “a cidade de São Paulo está localizada sobre uma bacia sedimentar que possui a característica de amplificar ondas sísmicas”.
“Não é tão raro que sismos ocorridos nos Andes sejam sentidos em São Paulo, principalmente em bairros mais altos e também por moradores de prédios. Isso já ocorreu outras vezes no passado”, informou o instituto.
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