Ataques de cachorros: genética e ambiente em que vivem podem favorecer agressões


Veterinário comportamental e adestrador de cães afirma que segredo para comportamento seguro é a sociabilidade. Porteiro de condomínio e dois adolescentes ficam feridos após serem atacados por cachorro
A cena de um cachorro da raça american bully atacando o porteiro de um prédio e dois adolescentes não é rotineira. Mas também não é incomum.
Só na Bahia, episódios como o registrado em Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador, no sábado (13), ocorreram outras duas vezes neste ano.
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👉 Em abril, um vira-lata foi atacado por um pitbull enquanto passeava com a tutora na orla da Barra, na capital baiana.
👉 Semanas depois, um poodle foi atacado por outro pitbull na mesma região. A situação foi semelhante: o cão passeava com a tutora, uma adolescente de 12 anos, portadora de Síndrome de Down. Dessa vez, no entanto, o animal não sobreviveu aos ferimentos.
Para o médico veterinário comportamental Rafael Ramos, é preciso estar atento, pois há sim raças de cães que podem ser mais agressivas.
“Existem algumas raças que têm características genéticas mais voltadas para esse tipo de comportamento. (…) Ao longo do tempo, selecionamos características de agressividade, de temperamento voltadas para a mordida, para ter um cão de guarda”.
Mas não se trata apenas de estrutura física e predisposição genética. A criação e o meio social no qual o animal está inserido contribuem de forma significativa para o comportamento que ele vai desenvolver. Deixá-lo sozinho, sem passeios ou interações, como acusam a tutora de ter feito com o american bully, também pode ser estressante.
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“É o ambiente de manejo. Se eu pego um cachorro que tem característica genética voltada para um pouco mais de animosidade, de agressividade, eu preciso ter um manejo mais correto, um treinamento mais focado para não deixar isso aparecer”, indica o veterinário.
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Também adestrador de cães, Ramos acredita que o segredo para o desenvolvimento saudável e anti-agressivo dos cães é a sociabilidade. O processo é recomendado especialmente para animais com altura e desenvoltura e, segundo o veterinário, há o momento certo para isso.
“Existe uma fase específica na vida do cão para que ele seja socializado, que normalmente é entre a terceira semana de vida até a 12ª semana de vida”.
Como o profissional lembra, esse é também o período vacinal. Nessa época, é importante que o animal conviva com outros para que essa relação seja naturalizada no futuro.
E se passar da fase? Nem tudo estará perdido. O adestrador garante que é possível, sim, adaptar o animal às relações sociais. Porém, o trabalho tende a ser mais lento e mais difícil.
Agressões encerraram festa
O cão da raça american bully atacou os “vizinhos” na tarde de sábado (13), quando ocorria o aniversário de um adolescente. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento que o canino atacou o porteiro e outros dois garotos.
“Mordeu também o pai do aniversariante, um menininho de 13 anos, que não chegou nem a comemorar. A festa foi cancelada, nem parabéns tocou”, contou o morador Paulo Ricardo Leal.
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Segundo ele, os tutores do animal deixaram o condomínio há cerca de três meses. Desde então, o cão ficaria trancado e sozinho dentro do imóvel.
Ao g1, a tutora do cachorro disse que vai verificar as câmeras da casa para entender o que de fato aconteceu. Ela negou as acusações de abandono, acrescentando que duas pessoas cuidam diariamente do american bully. A mulher acredita que o portão tenha sido aberto por uma criança.
Como aconteceram os ataques
Porteiro e dois adolescentes ficam feridos após serem atacados por pitbull em condomínio na BA
Reprodução/TV Bahia
Ao g1, o pai da criança aniversariante relatou que as cenas que circulam nas redes sociais aconteceram após ele e o porteiro do condomínio perceberem que o portão da casa não estava trancado. Veja a sequência de acontecimentos:
👉 A festa acontecia na área de lazer do condomínio, próxima a casa onde o american bully e um outro cachorro estavam. Segundo moradores, os dois animais estavam sozinhos na casa há meses.
👉 Durante a festa, um outro cachorro, que não era o american bully, saiu da casa. O animal não mordeu ninguém. O pai do aniversariante e o porteiro foram até o imóvel e viram que o portão estava quebrado. Eles não entraram na casa, porque sabiam que havia um cachorro grande no quintal.
👉 Eles relataram o caso ao síndico e uma amiga da tutora, que cuida dos animais, foi até o local. Foi nesse momento que o american bully teria saído da casa.
👉 Ao perceber que o cachorro estava solto no condomínio, o pai do aniversariante colocou os convidados dentro da quadra e trancou o local. Ele também pediu que as outras pessoas que estavam na área de lazer se escondessem.
👉 Segundo ele, alguns convidados entraram na piscina, outros se trancaram no banheiro e alguns subiram nos brinquedos do parquinho.
👉 Os adolescentes que estavam no futebol de sabão continuaram em cima do brinquedo, porque acreditaram que, devido a altura, o animal não subiria no local. Após o cachorro entrar no brinquedo, eles correram pelo condomínio. [Veja foto abaixo]
Animal sobe em cama elástica e ataca adolescentes
Reprodução/TV Subaé
👉 Depois de deixar os convidados em segurança na quadra, o pai do aniversariante saiu do local para tentar parar o cachorro e evitar que mais alguém fosse mordido. Ele foi atacado e precisou entrar em um carro para fugir do animal.
👉 O último a ser atacado foi o porteiro do condomínio. Ao tentar fugir do cachorro, ele caiu no chão e foi mordido. O animal só parou de atacar o funcionário, porque um dos convidados o ajudou a segurar o animal.
👉 Os convidados foram retirados da quadra e o animal foi trancado no espaço até a chegada do filho da tutora, que o tirou do condomínio.
Porteiro foi atacado pelo animal em Feira de Santana
Redes sociais
Após os ataques, a festa foi encerrada e as pessoas machucadas foram atendidas pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu).
“Nem cantamos parabéns, não teve clima, acabou a festa. Todos ficaram muito assustados”, detalhou.
O pai do aniversariante ainda contou que só percebeu que estava ferido ao final da festa. Ele foi mordido na barriga, perna e nádegas. Por causa das mordidas, o homem precisou passar por exames médicos no Hospital Clériston Andrade (HGCA) e tomar vacinas para se prevenir de doenças.
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