Usina investigada por mortandade de peixes em Piracicaba alega não ser responsável, mas admite vazamento de resíduos


Santuário natural de Piracicaba (SP) reúne centenas espécies de animais e tem importância turística para a cidade. A usina São José S/A de Açúcar e Álcool, investigada pela mortandade de milhares de peixes no Rio Piracicaba e na região do Tanquã, conhecido como minipantanal paulista, alega que não é responsável pelas mortes dos animais e atribui à má qualidade do tratamento da água pela prefeitura de Rio das Pedras (SP).
A declaração foi feita à Polícia Civil e chegou ao Ministério Público, por meio do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema). Equipes do MP vistoriaram às instalações da usina na tarde desta terça-feira (16).
A usina, porém, segundo o MP, admite que houve um vazamento de resíduos agroindustriais ocorrido após rompimento de tubulações, mas que quantidade do material extravasado não seria suficiente para provocar a morte dos animais nos mananciais.
A usina São José S/A de Açúcar e Álcool declara que a mortalidade de peixes no Rio Piracicaba é desconhecida e que as insinuações de responsabilidade sobre a empresa são precoces. Abaixo, leia a nota na íntegra.
Carneiro ressalta, porém, que no primeiro relatório enviado pela Cetesb a pedido do MP, há apontamentos de causalidade entre os despejos dos resíduos e a mortandade de peixes. Mas, ainda são aguardados
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“Fomos à Usina São Jose a fim de verificar as condições de armazenamento dos produtos utilizados pela empresa, do melaço e xarope de cana inclusive. Eles alegam que o extravasamento foi decorrente do rompimento de canos e que não teria sido suficiente para provocar mortandade de peixes”, disse o o promotor Ivan Carneiro.
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O que diz a Usina São José
A Usina São José S/A Açúcar e Álcool afirmou em nota que não é responsável
“Após cinco inspeções realizadas por técnicos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) nas dependências da Usina São José S/A Açúcar e Álcool, nada foi informado à empresa formalmente que explique o motivo ou a origem da mortalidade de peixes registrada nos últimos dias. Insinuações de envolvimento da usina nessa ocorrência são precoces e não tem, até agora, qualquer comprovação ou fundamento.
A empresa considera precipitadas as notícias divulgadas nos últimos dias, citando poluentes que teriam sido liberados no Ribeirão Tijuco Preto e chegado ao Rio Piracicaba, a 42 quilômetros de distância. Lembra ainda que diversos incidentes envolvendo morte de peixes no Rio Piracicaba vem ocorrendo nos últimos anos, período este que a Usina São José estava inativa, tendo retomado suas atividades somente em maio deste ano.
A empresa esclarece que não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público, fornecendo todas as informações e acessos solicitados para garantir uma investigação transparente e justa, que leve às causas desse incidente”, conclui.
O que diz a Cetesb
Em boletim atualizado pela Cetesb e enviado à imprensa na noite desta terça-feira (16), a Agência Ambiental afirmou que notificou a usina responsável pelo lançamento irregular e solicita retirada imediata dos peixes mortos do Tanquã. Leia nota na íntegra, abaixo.
Em decorrência de mortandade de peixes identificada nos últimos dias na região do Bairro de Tanquã, a CETESB realizou novas coletas de amostras que constataram baixo nível de oxigênio dissolvido. Esse evento está associado ao lançamento irregular realizado pela Usina São José S/A Açúcar e Álcool na semana passada, chegou a essa localidade e provocou a mortandade de peixes.
Diante dos novos fatos a CETESB notificou a empresa causadora da poluição para que faça a retirada imediata dos peixes mortos na área do Tanquã. A CETESB também informa que os novos fatos observados poderão implicar no agravamento das penalidades que serão determinadas ao agente poluidor e que serão apresentadas na sexta-feira (19).
A companhia também adiantou que, pelo crime ambiental, é prevista multa no valor de até R$ 50 milhões aos responsáveis.
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de Piracicaba informou, em nota, que realizará a recolha dos resíduos (peixes) da região do Tanquã, por meio de contrato emergencial com empresa especializada. ]
“Os trabalhos serão iniciados nos próximos dias a fim de diminuir os possíveis danos ambientais”, afirmou.
A administração acrescentou tem acompanhado e age desde o primeiro momento, na manhã de domingo (7), quando o Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) identificou alterações na oxigenação das águas do rio, às 4h, e agravamento às 6h, por meio da estação de monitoramento da autarquia.
E que na sequência, ainda na manhã do mesmo dia, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Meio Ambiente (Simap) constatou irregularidades nas águas, quando os peixes começaram a aparecer.
“Em conjunto com o Semae e Pelotão Ambiental da Guarda Civil Metropolitana, a pasta acionou a Cetesb de imediato. A companhia, então, elaborou laudo preliminar, por meio de amostras das águas, que identificou o descarte irregular de resíduos industriais no ribeirão Tijuco Preto, que deságua no rio Piracicaba. O ponto de descarte foi identificado pela Cetesb, sendo originário da Usina São José, instalada no município de Rio das Pedras”.
Na última quinta-feira (11) força-tarefa criada pela prefeitura e integrada por diversos órgãos e entidades para limpeza do rio Piracicaba recolheu 2,97 toneladas de peixes mortos na área urbana do município. Os peixes mortos foram encaminhados para a terceirizada responsável, a Piracicaba Ambiental, que fez o descarte correto.
“Além disso, a Prefeitura também acionou o Ministério Público para que notifique a Prefeitura de Rio das Pedras, onde a usina está localizada. O prefeito Luciano Almeida, que atualmente é também presidente dos Comitês PCJ (rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), solicitou à Cetesb, por meio de ofício no dia 11/07, autorização para instalação de três novas estações de monitoramento, sendo nos rios Atibaia e Jaguari e no ribeirão Tijuco Preto”, completou.
Tanquã, em Piracicaba, registra mortandade de peixes
Edijan Del Santo/EPTV
Minipantanal paulista
O Tanquã é conhecido como o mini pantanal paulista, devido à semelhança com o ecossistema do Centro-Oeste brasileiro.
O local abriga diferentes espécies da fauna e da flora, algumas em risco de extinção. Foram registradas pelo menos 400 espécies diferentes de aves no local.
O surgimento do mini pantanal ocorreu nos anos 60, quando a usina hidrelétrica Barra Bonita foi construída na foz do rio Piracicaba e os últimos quilômetros do rio acabaram adentrando as margens, formando uma área de remanso, com águas lentas.
Mortandade de peixes chega ao Tanquã, em Piracicaba
Edijan Del Santo/EPTV
Recuperação pode levar 9 anos
A recuperação da população de peixes no Rio Piracicaba após a mortandade registrada nos últimos dias pode demorar até nove anos para acontecer, o que equivale a três gerações de animais.
A estimativa foi feita pelo analista ambiental, Antonio Fernando Bruni Lucas, em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo.
O especialista também comentou a possibilidade de “sequestro” de oxigênio pelo poluente, as perspectivas sobre a recuperação da qualidade da água e elencou medidas que podem ser adotadas para evitar descargas irregulares no rio. Confira a entrevista completa.
Peixes mortos boiando às margens do Rio Piracicaba
Gian Carlos Machado/Arquivo pessoal
Rio Piracicaba amanhece com milhares de peixes mortos neste domingo
Gian Carlos Machado/Arquivo pessoal
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