Emerson Luis. Esporte: Entendedores

Estava eu na última segunda-feira (5) puxando um ferrinho e queimando os excessos do fim de semana, na VO2 Artes Marciais, quando o professor Everson de Oliveira, o Preto, lembrou da semifinal de Gabriel Medina no surf.

Cortou o som e conectou o computador no Youtube da Cazé TV.

Passamos a torcer pelo brasileiro e secar o australiano.

Gabriel Medina na espera de uma onda perfeita na semifinal. Foto: Carlos Barria/Reuters

No treino funcional, a cada sessão, você dá uma respirada de 1 minuto.

Nos intervalos, me aproximei da tela para ver a disputa e também para acompanhar em tempo real (era inevitável porque apareciam aos montes) os comentários dos “especialistas”.

Gabriel Medina em ação nas ondas do Taiti. Foto: William Lucas/COB

Dei muita risada.

Afinal, o brasileiro se supera em pitacos, piadas e memes.

Nisso, somos imbatíveis.

O registro icônico de Medina . Foto: Jerome Brouillet/AFP

Têm pessoas que entendem do riscado.

Mas, a esmagadora maioria (em quase todos os esportes) não sabe nada de regras.

Gabriel Medina comemora título em 2023 na etapa de Margaret River na Austrália. Foto: Divulgação/WSL

A melhor revertida que um corneteiro recebeu foi essa:

“O cara mal consegue se equilibrar em um skate e se acha no direito de criticar um tricampeão mundial”.

Gabriel Medina, bronze no masculino e Tatiana Weston-Webb, prata no feminino. Foto: William Lucas/COB.

O patrimônio de Medina supera os R$100 milhões. 

Fatura por temporada cerca de R$ 11 milhões.

Com prêmios de campeonatos e das campanhas publicitárias que participa.

Em tempo, o surfista é um dos casos fora da curva quando olhamos a trajetória dos nossos 276 atletas.

O simples fato de estar em uma Olimpíada já os torna campeões.

Não fazemos ideia do sacrifício que fazem, do que abrem mão, o que ralam para chegar lá.

Rayssa Leal, 16 anos, foi medalha de prata em Tóquio e bronze em Paris. Foto: Internet

Como Matheus Corrêa.

Que terminou a prova de 20km da marcha atlética em 39º lugar.

O blumenauense, que também esteve em Tóquio e foi 46º colocado, tem só 23 anos.

Em tese, tem mais três ciclos para tentar repetir, no mínimo, o feito de Caio Bonfim, medalha de prata em sua quarta Olimpíada.

Matheus Corrêa durante os 20 km em Paris. Foto: COB

O atleta do Distrito Federal é a maior referência do gênero no país.

Não por acaso.

Integra o Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) das Forças Armadas do Brasil (é terceiro sargento da aeronáutica).

É treinado pela mãe, Gianette Bonfim, que foi oito vezes campeã de marcha atlética.

João Sena, o pai, também faz parte do seu staff.

Caio treina nas ruas e no estádio Augustinho Lima, onde o projeto Centro de Atletismo de Sobradinho, organizado pela família Bonfim, é realizado.

Caio Bonfim é treinado pela mãe e o pai. Foto Alexandre Loureiro/COB

Matheus também marcha nas ruas de Blumenau e no Parque Ramiro.

Ao contrário do colega, não tem pista em estádio para treinar, pois a estrutura do Sesi está sem condições de uso.

Brasileiros comemoram medalha de prata de Caio Bonfim. Foto: Alexandre Loureiro/COB

Fala-se muito em foco, disciplina e persistência.

Contudo, quando um profissional tem melhores condições de trabalho para se aprimorar, as chances de vitória aumentam consideravelmente.

Ivo da Silva é o treinador de Matheus. Foto: Arquivo pessoal

Matheus recebe de Bolsa Atleta do Governo Federal, como atleta olímpico, R$ 3.437,00.

Nas terças, quintas e sextas-feiras à noite é professor de corrida.

Matheus em uma aula de corrida. Foto: Arquivo pessoal

O marchador até poderia aumentar sua renda se medalhasse, embora chegar a esse patamar seja tarefa das mais difíceis.

Até porque houve um aumento de 40% na premiação.

O valor para quem ganha um ouro é de R$ 350 mil.

Prata: R$ 210 mil.

Bronze: R$ 140 mil.

Para as modalidades coletivas:

1º lugar: R$ 700 mil.

2º lugar: R$ 420 mil.

3º lugar: R$ 280 mil.

Rebeca Andrade recebeu R$ 826 mil (R$ 350 mil pelo ouro, R$ 210 mil por cada prata e R$ 56 mil pelo bronze).

Quantia que vai ajudar muito, com certeza.

No entanto, a ginasta com seis medalhas olímpicas, já era antes mesmo de Paris, um nome consolidado e cobiçado.

Tanto é que viajou para a Europa com 16 parcerias comerciais firmadas.

Faturamento que pode chegar entre R$ 600 mil e R$ 1 milhão por ano.

Simone Biles e Rebeca Andrade. Foto: Internet

Sucesso também refletido em suas redes sociais, onde o número de seguidores da ginasta de 25 anos no Instagram cresceu exponencialmente, passando de 2,5 milhões no início das Olimpíadas para mais de 10 milhões atualmente.

Ginasta exibe com orgulho e emoção a medalha de ouro. Foto: Internet

Nada mais justo para quem foi persistente e precisou suar muito quando começou a carreira em Guarulhos SP.

Seu salário no Flamengo é de R$ 20 mil – quando no futebol temos “bagres” faturando R$ 200, 300 mil por mês.

Beatriz Souza em seu grande momento na carreira. Foto: Internet

Oxalá Beatriz Souza, 26 anos, a primeira brasileira a conquistar a medalha de ouro para o Brasil na França, receba de alguma forma, a mesma atenção da mídia e dos patrocinadores.

A judoca do Pinheiros SP foi mais uma atleta negra a subir no lugar mais alto do pódio.

Como falou após o feito no tatame: “Mulherada, pretos e pretas, é possível”.

Rafaela Silva, Ketleyn Quadros e Bia Souza ganharam bronze na equipe mista do judô. Foto: Reuters

“O sucesso delas é um ótimo momento para a gente refletir a questão racial de forma mais ampla na sociedade”, diz a professora Doiara dos Santos, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) de Minas Gerais, que pesquisa questões de gênero e raça nos esportes.

Judoca de Peruíbe SP se emociona após a conquista do ouro. Foto: Internet

Esse é o problema.

O Brasil só reflete e faz promessas de quatro em quatro anos.

Porque o desdém é histórico.

E o escárnio com o esporte não tem nada a ver se o governo é petista ou bolsonarista.

Pois, o Brasil participa das Olimpíadas desde 1920, ou seja, há mais de 100 anos.

Seleção feminina de futebol pode ganhar o ouro neste sábado na final contra os EUA. Foto: Internet

Basta ver o que foi feito com Ana Moser.

A blumenauense foi demitida do Ministério do Esporte em setembro de 2023 – ficou no cargo 248 dias.

A ex-ministra Ana Moser em sua posse no ministério. Foto: Ronaldo Caldas/Ministério do Esporte

O presidente Lula colocou em seu lugar o deputado André Fufuca (PP-MA).

Com o objetivo de trazer o Centrão para o governo.

André Fufuca (PP-MA). Foto: Fernanda Calgaro/G1

Um médico (mas acima de tudo um político), comandando o esporte na vaga de uma ex-atleta olímpica de vôlei (Seul-1988, Barcelona-1992 e Atlanta-1996).

Não tem como dar certo.

Ana Moser disputou três Olimpíadas. Foto: Reprodução/Twitter

Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de repórter/setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é apresentador, repórter, produtor e editor de esportes do Balanço Geral da NDTV Blumenau. Na mesma emissora filiada à TV Record, ainda exerce a função de comentarista, no programa Clube da Bola, exibido todos os sábados, das 13h30 às 15h. Também é boleiro na Patota 5ª Tentativa 

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