‘Eu temo muito que possa haver um conflito muito grave’, diz Amorim sobre a Venezuela

Não quero usar a expressão guerra civil, mas temo muito’, afirma assessor especial de Lula que acompanha situação no país vizinho. Declaração foi dada ao Estúdio i. Brasil teme que possa haver conflito grave na Venezuela
O assessor especial de Lula (PT) para assuntos internacionais, Celso Amorim, disse nesta quarta-feira (7) temer “um conflito muito grave” na Venezuela.

“Eu temo muito que possa haver um conflito muito grave. Não quero usar a expressão guerra civil, mas temo muito. E eu acho que a gente tem que trabalhar para que haja um entendimento. Isso exige conciliação. E conciliação exige flexibilidade de todos os lados”, disse Amorim em entrevista para o Estúdio i.
Entre as medidas de flexibilização, Amorim citou as sanções impostas por Estados Unidos e União Europeia ao governo Maduro, e disse que o “nível de divisão” na Venezuela atualmente vai exigir mediação.
Clique aqui para seguir o canal do blog da Andréia Sadi no g1
Amorim também disse ser “lamentável que as atas não tenham aparecido” após o término das eleições venezuelanas. Ele disse que falou sobre isso, inclusive, com o Nicolás Maduro.
“Eu disse isso para o presidente Maduro. Eu tive com ele no dia seguinte da eleição e perguntei sobre as atas. Ele me disse que seriam publicadas. Depois encontraram esse caminho pela Justiça. Eu tenho que confessar a minha ignorância, não compreendo bem ainda o que a Justiça vai fazer.”
O assessor especial também criticou a prisão de uma chefe regional de campanha do bloco de oposição venezuelana, que ocorreu na noite desta terça-feira (6), de acordo com a oposicionista María Corina Machado.
Conversa com a oposição
O chanceler afirmou ainda que os presidentes de Brasil, México e Colômbia podem falar com o candidato de oposição, Edmundo González, que concorreu com o presidente atual, Nicolás Maduro.
“Eu acho que é mais importante os três presidentes conversarem entre si e saber bem como encaminhar uma conversa que pode ser com o Maduro, mas pode também ser com o candidato da oposição em algum momento”, afirmou Amorim.
Questionado sobre a nota do partido do presidente, que reconheceu a reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela, ele disse que “não pensa daquela maneira”.
Celso Amorim comenta nota do PT sobre Venezuela
“Eu pessoalmente não penso daquela maneira, exatamente. Talvez o ângulo pelo qual você vê, quando você representa ou quando você está num Estado é diferente do ângulo que você vê quando você está em um partido político.”
LEIA TAMBÉM:
Assessor de Lula diz ser lamentável que atas da Venezuela sigam desconhecidas: ‘[Maduro] me disse que seriam publicadas’
Questionado sobre nota do PT sobre eleições da Venezuela, Celso Amorim disse que ‘não pensa daquela maneira’
Venezuela: Presidentes de Brasil, Colômbia e México podem conversar com candidato de oposição, segundo Amorim
Atuação como observador
Amorim viajou à Venezuela para acompanhar o processo eleitoral no país no dia 28 de julho. Logo após o pleito, ele reforçou o pedido do governo brasileiro para a Venezuela publicar integralmente as atas da eleição presidencial, uma espécie de boletim das urnas.
O Brasil se posicionou ao lado de México e Colômbia, que divulgaram uma nota conjunta na quinta-feira (1º), pedindo a divulgação de atas eleitorais na Venezuela. A nota pede também a solução do impasse eleitoral no país pelas “vias institucionais” e que a soberania popular seja respeitada com “apuração imparcial”.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, Maduro foi reeleito com 51,95% dos votos, enquanto seu opositor, Edmundo González, recebeu 43,18%. A oposição e a comunidade internacional contestam o resultado divulgado pelo órgão eleitoral e pedem a divulgação das atas eleitorais. Segundo contagem paralela da oposição, González venceu Maduro com 67% dos votos, contra 30% de Maduro.
Com base nessas contagens, Estados Unidos, Panamá, Costa Rica, Peru, Argentina e Uruguai declararam que o candidato da oposição venceu Maduro.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) também não reconheceu o resultado das eleições presidenciais. Em relatório feito por observadores que acompanharam o pleito, a OEA diz haver indícios de que o governo Maduro distorceu o resultado.
Na terça-feira (6), González afirmou ter ganhado as eleições no país e, nesta quarta, disse que não comparecerá a uma audiência judicial no Tribunal Supremo de Justiça para a qual ele havia sido convocado.
Ele acusou ainda o Tribunal Supremo — composto por juízes em maioria alinhados ao regime de Maduro — de usar o Judiciário para “‘certificar’ resultados que ainda não foram produzidos de acordo com a Constituição e a lei, com acesso dos partícipes às atas originais.
O regime de Maduro disse que o oposicionista pode receber uma ordem de prisão caso não compareça. Mais de 1,2 mil pessoas foram presas após os protestos que tomaram o país depois das eleições. Maduro disse que González e a líder da oposição, María Corina Machado, deveriam “estar atrás das grades”.
LEIA MAIS:
Quem é María Corina Machado, impedida de concorrer na Venezuela e que ajudou a bombar Edmundo González
MP da Venezuela abre investigação criminal contra González e o acusa se declarar ‘falsamente vencedor’ da eleição
Forças Armadas da Venezuela declaram ‘lealdade absoluta’ a Maduro
Chefe de campanha presa
Chefe de campanha da oposição da Venezuela faz transmissão ao vivo de prisão
Uma chefe regional de campanha do bloco de oposição venezuelana foi presa na noite desta terça-feira (6), de acordo com a oposicionista María Corina Machado. O partido Vente Venezuela, de Corina Machado, confirmou a prisão da coordenadora regional, identificada como María Oropeza.
Oropeza fez uma transmissão ao vivo mostrando, segundo ela, o momento de sua detenção. “Eu não fiz nada de errado”, disse a coordenadora na transmissão (veja abaixo).
No vídeo, feito de dentro de um imóvel, a chefe de campanha mostra um grupo de homens arrombando a porta do local. Após conseguirem abri-la, os homens, alguns encapuzados, sobem uma escada em direção a María Oropeza sem nem falar nada nem mostrar ordem de prisão.
O partido Vente Venezuela afirmou que não foi apresentada nenhuma ordem judicial e que Oropeza foi “sequestrada” por forças do regime de Maduro.
Oropeza é chefe da campanha de Edmundo González no estado de Portuguesa, no noroeste da Venezuela. Ela coordenava a campanha de María Corina Machado antes de a oposicionista ser impedida de concorrer à presidência do país, em janeiro, pelo Tribunal Supremo da Venezuela, alinhado ao regime de Maduro.
Na Venezuela, ministro da Defesa diz que militares permanecem leais a Nicolás Maduro

Adicionar aos favoritos o Link permanente.