O que torna alguém bilionário: oportunidade, sorte ou talento?


Os bilionários são bons ou ruins para a sociedade — ou simplesmente muito, muito ricos? Simon Jack, da BBC, investiga. Taylor Swift durante apresentação no Tokyo Dome, Japão
Getty Images via BBC
O que uma mímica comunista, uma criança com talento para o golfe e um comediante que faz piadas sobre qualquer coisa têm em comum?
Todos eles se tornaram membros de um clube global muito seleto.
💰Miuccia Prada, Tiger Woods e Jerry Seinfeld estão entre cerca de 2.781 bilionários (em dólares americanos) no planeta.
Mas a lista de super-ricos é bem internacional.
Segundo a revista americana Forbes, que monitora as fortunas dos mais ricos do mundo, os Estados Unidos têm 813 bilionários, a China (incluindo Hong Kong) aparece em segundo lugar, com 473, e a Índia em terceiro, com 200. Já o Brasil, 69.
O tamanho dessas fortunas pode ser difícil de compreender. Um bilhão é um número enorme — para dar uma ideia de escala, um milhão de segundos são 11 dias, mas um bilhão são 32 anos.
E para alguns, a própria existência de bilionários é obscena.
Oitenta e uma das pessoas mais ricas do mundo — ou um ônibus lotado — têm mais riqueza combinada do que os quatro bilhões de pessoas mais pobres do mundo.
Em um relatório de 2023 sobre desigualdade, a ONG britânica Oxfam concluiu: “Todo bilionário é um erro de políticas. A própria existência de bilionários em expansão e lucros recordes, enquanto a maioria das pessoas enfrenta austeridade, pobreza crescente e uma crise de custo de vida, é evidência de um sistema econômico que falha em entregar à humanidade.”
Essa desigualdade levou a pedidos em muitos países por impostos sobre a riqueza absoluta em vez de sobre a renda.
Nos EUA, a senadora do Partido Democrata Elizabeth Warren propôs um imposto de 2% sobre ativos acima de US$ 50 milhões (R$ 290 milhões) e 3% sobre ativos acima de US$ 1 bilhão (R$ 5,75 bilhões).
Mas outros argumentam que a perspectiva de grande riqueza inspira criação e inovação que melhoram a vida de milhões de pessoas.
O economista americano Michael Strain argumenta que precisamos de mais bilionários, não menos, e cita o ganhador do prêmio Nobel William Nordhaus, que descobriu que cerca de 2% dos retornos da inovação tecnológica vão para os fundadores e inventores. O restante vai para a sociedade.
Strain chama os bilionários de “em grande parte inovadores que se fizeram sozinhos e mudaram a maneira como vivemos”.
Ele cita como exemplo Bill Gates e Steve Ballmer, que revolucionaram a computação pessoal, o lendário investidor Warren Buffett, Jeff Bezos, que revolucionou o varejo, e Elon Musk, que revolucionou a indústria automotiva e o comércio espacial.
“Nenhum deles é ‘fracasso de políticas'”, conclui. “Em vez de desejar que eles não existissem, deveríamos ficar felizes que existam.”
Muitos bilionários também doam grandes somas. Gates e Buffett desenvolveram “The Giving Pledge” — um compromisso de doar mais da metade da riqueza individual ao longo da vida.
O rapper, magnata dos negócios e bilionário Jay-Z, embora não tenha se comprometido com a promessa, argumenta: “Não posso ajudar os pobres se eu for um deles. Então, fiquei rico e retribuí. Para mim, isso é o ganha-ganha.”
Bilionários não enriquecem no vácuo. O sucesso deles também nos diz algo sobre nós mesmos.
➡️É difícil ficar muito, muito rico a menos que você esteja fornecendo algo de que as pessoas precisam, querem ou gostam.
Seja o estilo minimalista da Prada, os filmes Star Wars ou o TikTok, os bilionários que discutimos no podcast mudaram o mundo em maior ou menor grau — e as histórias sobre como eles fizeram isso são convincentes.
Por exemplo, os fundadores do Google tentaram vender uma versão inicial de sua ferramenta de busca por US$ 1 milhão, mas não houve interessados.
Hoje, o Google vale US$ 2,3 trilhões e o cofundador Sergey Brin vale pessoalmente US$ 135 bilhões — aproximadamente o PIB do Marrocos.
Maria Bianchi era uma comunista de carteirinha na Itália dos anos 1960 que estudava mímica na escola de teatro antes de mudar seu nome para Miuccia Prada.
A primeira mulher bilionária que fez fortuna na Índia, Kiran Mazumdar-Shaw, começou fabricando cerveja antes de sofrer preconceito de gênero e mudar para o mercado de produtos farmacêuticos, tornando-se a maior produtora de insulina da Ásia.
Os pais de Jerry Seinfeld eram ambos órfãos, e seu pai nunca o abraçou. Talvez uma das razões pelas quais ele e Larry David tinham uma regra para os personagens de sua comédia de sucesso Seinfeld: “Sem abraços e sem aprendizado”.
O sucesso individual desses bilionários também costuma contar uma história de tendências históricas, políticas ou tecnológicas mais amplas.
O empreendedor de tecnologia Jack Ma, cofundador do grupo Alibaba, foi beneficiário de duas forças poderosas e simultâneas: o nascimento do varejo online e o crescente poder econômico e a riqueza em massa da China.
Chuck Feeney, o homem que inventou as compras duty-free (e doou toda a sua fortuna) surfou na onda do turismo externo japonês após a Segunda Guerra Mundial.
Há histórias em que a sorte desempenhou um papel.
O fundador da Microsoft, Bill Gates, frequentou uma das poucas escolas dos EUA que, no final dos anos 1960, tinha um computador. Já a cantora e empresária Rihanna foi descoberta graças a uma audição casual com um produtor musical que estava de férias em Barbados, sua terra-natal.
E os pais também têm papel importante.
Toda a família de Taylor Swift se mudou da Pensilvânia para Nashville para promover a carreira de adolescente, enquanto a mãe de Michael Jordan sugeriu que ele ouvisse ” o que a Nike tem a dizer” antes de assinar um contrato com a Adidas ou a Converse — , abrindo caminho para o acordo de patrocínio esportivo mais lucrativo da história.
Há alguns momentos-chave que, olhando para trás, mudaram as vidas e as fortunas desses bilionários.
Mas quando as portas se abrem, você tem que passar por elas.
E se há um denominador comum é a energia, o ímpeto e o comprometimento que essas pessoas trouxeram para suas respectivas áreas. Além do desejo de seguir em frente, quando muitos teriam desistido há tempos.
Eu e a jornalista Zing Tsjeng, que apresenta comigo o podcast Good Bad Billionaire na BBC, sempre brincamos que se um dia tivermos US$ 10 milhões, não seremos mais vistos no trabalho — eu estarei pescando e ela, num festival de música.
Acho que pessoas como nós nunca ficaremos ricos, mas ficamos fascinados, encantados, comovidos, chocados e aterrorizados por aqueles que conseguiram.
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