Luzes do Cristo Redentor e shows no Rio iluminam Nelson Sargento nos 100 anos do graduado bamba do samba


♪ ANÁLISE – Quando se fala em Nelson Sargento, logo vem à mente o samba Agoniza, mas não morre (1978), obra-prima do cancioneiro do graduado bamba carioca associado para sempre à Estação Primeira de Mangueira.
Apresentado por Beth Carvalho (1946 – 2019) no revolucionário álbum De pé no chão (1978), Agoniza, mas não morre simboliza a resistência do samba e do próprio cidadão Nelson Mattos (25 de julho de 1924 – 27 de maio de 2021), nome de batismo do cantor, compositor, escritor, poeta e pintor que faria hoje 100 anos.
Shows na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ) e as luzes excepcionalmente verde-e-rosas do Cristo Redentor iluminam Nelson Sargento no centenário de um artista mais celebrado pela personalidade nobre do que propriamente ouvido pelo público consumidor de discos e músicas.
Para grande parte dos brasileiros, Nelson Sargento sempre foi o cantor e compositor de Agoniza, mas não morre e de Falso amor sincero (1979), o segundo samba mais famoso do artista, festejado pelos versos “O nosso amor é tão bonito / Ela finge que me ama / E eu finjo que acredito”.
Diretor artístico do show Nelson Sargento 100 anos – Uma sinfonia imortal, programado para as 19h de hoje no Teatro Rival com elenco que inclui as cantoras Áurea Martins e Soraya Ravenle, o cantor e compositor Agenor de Oliveira – parceiro de Nelson em sambas-canção ainda inéditos como Mulher e O nosso amor – tentará ampliar a visão popular sobre a obra autoral do bamba mangueirense.
Embora associado primordialmente à Estação Primeira de Mangueira, escola de samba da qual foi um dos baluartes, Nelson Sargento se iniciou no samba no Morro do Salgueiro, berço de outras agremiações tradicionais do Carnaval carioca. Foi no Salgueiro que, ainda na infância, o futuro bamba começou a tocar tamborim e a se exercitar no canto. A voz rouca se tornaria com o tempo uma das marcas da elegância do artista no universo do samba.
Diplomado na escola de Mangueira desde a adolescência, quando foi morar no morro que abrigava bambas da verde-e-rosa como Carlos Cachaça (1902 – 1999), e Cartola (1908 – 1980, de quem se tornaria um dos principais intérpretes em discos e shows, Nelson Sargento passou a integrar a ala de compositores da Estação Primeira a partir de 1942.
No Carnaval de 1949, emplacou o primeiro samba-enredo na escola, Apologia ao mestre, em parceria com o compositor português Alfredo Lourenço (1885 – 1957). O samba venceu o desfile. No Carnaval de 1950, Nelson e Lourenço se (con)sagraram bicampeões na avenida com o nacionalista samba-enredo Plano SALTE – Saúde, lavoura, transporte e educação.
No quesito samba-enredo, a primeira obra-prima de Nelson Sargento apareceu no desfile da Mangueira de 1955. Foi o samba-enredo As quatro estações do ano ou Cântico à natureza, composto por Nelson com o parceiro Lourenço e com Jamelão (1913 – 2008).
Em que pese a rápida ascensão no mundo do samba, a ponto de ter sido eleito presidente da ala de compositores da Mangueira em 1958, Nelson Sargento demorou para construir discografia solo. A exemplo do amigo e conterrâneo Cartola, o compositor somente gravou o primeiro álbum individual nos anos 1970 após ter integrado na década anterior grupos como A Voz do Morro e Os Cinco Crioulos com bambas como Elton Medeiros (1930 – 2019).
O álbum Sonho de um sambista saiu em 1979, no embalo da repercussão da gravação do samba Agoniza, mas não morre pela cantora Beth Carvalho no ano anterior. Outros álbuns vieram em sequência espaçada – como Encanto da paisagem (1986), Flores em vida (2002) e Versátil (2008) – e reiteraram a nobre resistência de Nelson Sargento, alta patente do samba.
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