
Novos diários de viagem do gênio da astrofísica Albert Einstein foram divulgados e revelaram um olhar que o cientista nunca deixou transparecer enquanto em vida.

Gênio da física visitou o Brasil em 1925 – Foto: Reprodução/ND
Durante suas viagens pelo mundo, Einstein escrevia suas impressões dos países em diários que não pretendia publicar, sem filtros em suas impressões. Contudo, as anotações vieram a público pelas mãos do historiador Ze’ev Rosenkranz.
O primeiro livro com as anotações pessoais do físico foram publicadas no “Os Diários de Viagem de Albert Einstein: Extremo Oriente, Palestina e Espanha, 1922 – 1923”, em 2018.
No ano passado, foi a vez dos diários que ele escreveu quando visitou a América do Sul, em 1925, ocasião que conheceu o Brasil, a Argentina e o Uruguai.
Rosenkranz é editor do “The Collected Papers of Albert Einstein”, um projeto do Instituto de Tecnologia da Califórnia, que coletou, traduziu e publicou milhares de documentos do ganhador do Prêmio Nobel alemão.
Durante uma entrevista à “Época”, o historiador explicou que, embora o físico tenha ficado encantado com “a cordialidade genuína” dos uruguaios, escreveu comentários muito “duros” sobre os argentinos e manifestou “um afeto ambivalente pelos brasileiros”.
Os pesquisadores acreditam que Einstein mantinha os diários como um registro pessoal, mas também para compartilhar com sua segunda esposa, Elsa, e a filha mais nova dela, Margot, que não puderam acompanhá-lo na viagem.

Albert Einstein em visita ao Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro – Foto: Reprodução/BBC News/ND
O que Albert Einstein achava do Brasil
Einstein passou pouco mais de uma semana no Brasil e, conforme foi possível descobrir pelo diário, ficou maravilhado com “a majestade” da paisagem e da vegetação.
O Corcovado e o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, o cativaram. “Ele também ficou encantado com o que chama de ‘mistura racial’, a diversidade étnica”, explica Rosenkranz.
O físico também ficou impressionado com o médico Antônio da Silva Mello e o psiquiatra Juliano Moreira, mas os elogios não se estenderam para outros brasileiros.
Em uma parte do diário, o físico escreveu: “Aqui sou uma espécie de elefante branco para os demais, eles são macacos para mim”.

Livro que divulga informações do diário do físico em viagem para a América do Sul – Foto: Reprodução/ND
Para o historiador que editou o diário, essa percepção “se aproxima muito de uma desumanização dos brasileiros”. Esta tendência se reflete não só na sua visão dos moradores locais como “macacos”, mas na referência que faz a eles como “fofinhos”.
“Einstein acreditava no que é chamado de determinismo geográfico. Ele achava que um clima mais quente ou mais úmido prejudicava as faculdades cognitivas da população local”, continuou Rosenkranz.
O físico já havia expressado essa ideia em um diário anterior, quando foi para o Ceilão, atual Sri Lanka, e argumentou que os trópicos “suavizam a população”.
“Ele não conseguia imaginar que as pessoas tenham as mesmas habilidades cognitivas se tiverem que lidar com o calor e a umidade, o que, obviamente, demonstra sua atitude de superioridade”, disse o historiador.