Vídeo mostra capitão e cabo da PM, agora réus por homicídio, revistando homem baleado na Operação Escudo


Imagens obtidas pelo g1 mostram os agentes no momento em que estavam com o homem no chão após ser baleado. Dupla foi suspensa das funções públicas por decisão da Justiça de Guarujá, SP. Vídeo mostra PMs que se tornaram réus por homicídio na Operação Escudo revistando baleado
O trecho de um vídeo obtido pelo g1 mostra parte da ação de dois policiais militares da Rota, que se tornaram réus por homicídio durante a Operação Escudo, que ocorreu em julho do ano passado, na Baixada Santista. As imagens apresentam os agentes mexendo na vítima, que estava deitada no chão já baleada (assista acima).
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Os policiais foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pela morte de Fabio Oliveira Ferreira, de 40 anos, em 28 de julho na Rua Albino Masques Nabeto, em Vicente de Carvalho, em Guarujá.
De acordo com o MP-SP, os agentes estavam em patrulhamento quando encontraram a Fabio caminhando a pé. Sob alegação de que ele estava com uma arma na cintura, o abordaram. O homem teria se rendido, levantando as mãos para cima.
Ainda de acordo com a denúncia apresentada pelo MP-SP, mesmo a vítima estando rendida e sem oferecer resistência, o capitão Marcos teria efetuado três disparos de fuzil, atingindo a região torácica e a mão direita dele. Em seguida, Ivan teria disparado duas vezes com Fábio caído no solo.
O vídeo obtido pelo g1, conforme apurado, é do momento seguinte aos tiros. Nele é possível notar os policiais revistando Fabio. As imagens foram feitas por uma pessoa que passava pelo local.
Policiais revistando homem que haviam baleado durante Operação Escudo, em Guarujá (SP)
Reprodução
O g1 entrou em contato com a Polícia Militar, mas não obteve retorno até última atualização desta reportagem. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) disse que não comenta decisões judiciais.
O juiz Thomaz Correa Farqui, da 3ª Vara Criminal de Guarujá, aceitou a denúncia do MP-SP e suspendeu a dupla das funções públicas. Na decisão, o magistrado determinou o prazo de dez dias para que os agentes se manifestem por escrito.
Farqui levou em conta indícios de que Marcos Correa de Moraes Verardino e o cabo Ivan Pereira da Silva praticaram homicídio qualificado, usando os cargos e armamentos públicos para fugir do “dever funcional” e “agir como perigosos criminosos”. “Executaram [segundo uma análise perfunctória e provisória] pessoa imobilizado, sem qualquer capacidade de reação”, considerou.
Para o juiz, a suspensão das funções se faz necessária para garantir o andamento do processo e evitar novos crimes. Isso porque, de acordo com a denúncia, os policiais teriam agido para manipular provas, apagando imagens das câmeras existentes no cenário criminoso e modificando o local do crime.
“Isto demonstra que, a continuarem no exercício de suas funções, poderão os réus não só investir contra outras vítimas, mas também agir para atrapalhar a produção probatório (o que, repito, segundo narrativa ministerial, já fizeram logo após o crime)”, destacou o juiz.
Homicídio
Atenção, imagens fortes
g1
Policiais revistando homem que haviam baleado durante Operação Escudo, em Guarujá (SP)
Reprodução
Depois da abordagem, os policiais notaram câmeras instaladas na região e pediram acesso aos gravadores para o morador. Eles ficaram com os equipamentos por um tempo e devolveram ao dono dizendo que a aparelhagem não gravava.
Na versão do boletim de ocorrência, Fábio estava em atitude suspeita e tentou sacar uma arma ao ser abordado. Um dos agentes efetuou disparos enquanto o outro tentou tomar a arma de Fábio, disparando mais vezes.
De acordo com o registro policial, o homem chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Ele havia sido preso três vezes por tráfico de drogas, por roubo e por homicídio, e era considerado um dos chefes de uma facção criminosa na Baixada Santista.
Policiais réus
Esta é a terceira denúncia da Operação Escudo. Ao todo, já são seis policiais militares réus.
Em dezembro de 2023, os policiais Eduardo de Freitas Araújo e Augusto Vinícius Santos de Oliveira se tornaram réus. Em abril, foi a vez dos policiais militares Rafael Perestrelo Trogillo e Rubem Pinto.
Justiça torna réus PMs da Rota por forjar confronto e matar homem na Operação Escudo
Operação Escudo
A Operação Escudo foi deflagrada na região após a morte do PM da Rota Patrick Bastos Reis, em julho de 2023. Na ocasião, o agente foi baleado durante patrulhamento em Guarujá (SP).
Nos 40 dias de ação, segundo divulgado pela SSP-SP, 958 pessoas foram presas e 28 suspeitos morreram em supostos confrontos com policiais. Desde o início da ação, instituições e autoridades que defendem os direitos humanos pediam o fim da operação.
Operação Verão
Em 2024, com novas mortes de PMs na região, o governo voltou a realizar operações na Baixada – desta vez, batizadas de Verão. Na que vigorou entre 3 de fevereiro e 1º de abril, 56 pessoas foram mortas em ações policiais.
Com as operações na Baixada, as mortes cometidas por policiais subiram 86% no primeiro trimestre de 2024, segundo ano do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo.
À época, entidades de direitos humanos denunciaram na Organização das Nações Unidas (ONU) o governador Tarcísio e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite. Tarcísio rebateu:
“Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”, disse o governador.
PMs atuaram de 28 de julho a 5 de setembro na Operação Escudo em Guarujá, SP, que resultou em 28 mortes
Divulgação/PM
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