Esposa de homem com tumor gigante que entrou para cirurgia e realizou biópsia afirma: ‘Fomos enganados’


Esposa de Luciano Ferreira de Souza, de 43 anos, disse que procedimento foi realizado há mais de 15 dias, mas não conseguem nenhum contato com o hospital para ter acesso ao resultado da biópsia. Homem luta há anos para retirada de tumor gigante na coxa, em Praia Grande (SP)
Luciano Ferreira de Souza, o morador de Praia Grande (SP) que convive com um tumor gigante na coxa há 13 anos, cobra respostas do Hospital Santa Casa de Santos. O homem entrou no centro cirúrgico para a retirada do lipoma [tumor benigno], mas deixou o local ainda com a massa. A esposa, Sandra Lima, contou que os médicos fizeram uma biópsia e que o resultado não é divulgado. “Fomos enganados. Essa biópsia foi apenas um cala boca”.
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O homem teve o diagnóstico do tumor em 2011. De lá para cá, segundo Sandra, o lipoma cresceu passando do que parecia ser uma uva para o tamanho da cabeça de uma criança. Não só isso, o lipoma limitou os movimento de Luciano, que há anos convive com dores físicas e psicológicas, por ter parado de trabalhar.
“Eles não estão dando resposta nenhuma para a gente, a gente está aqui só aguardando, mas ninguém entra em contato. Tentamos falar com eles [hospital] de todas as formas, mas ninguém dá um retorno para a gente”, disse a esposa de Luciano.
De acordo com Sandra, quando liga para a unidade de saúde é informada que apenas o médico pode falar sobre o exame, mas não conseguem contato com o profissional.
A mulher afirmou que a comunicação com o hospital é péssima e cada médico que os atende diz uma coisa diferente.
Segundo a esposa de Luciano, no dia em que a biópsia foi realizada, em 8 de julho, um dos profissionais disse que foram retiradas seis amostras, enquanto outro falou nove. “A gente não sabe em quem acreditar. Em momento nenhum falaram que teria que fazer outro exame”.
Sandra disse que se sente impotente e perdida com a situação. “Eles não fizeram nada e pelo jeito não têm a menor vontade de fazer”. Luciano, segundo ela, está frustrado e deprimido com a situação. “Com dificuldades para andar porque o tumor está mais dolorido devido à biópsia”.
“Luciano está aqui sem poder andar, sem poder trabalhar e a nossa vida está suspensa, está parada, está nas mãos deles[…]. Estamos desamparados. [Poderiam] pelo menos [dar] um laudo para darmos entrada no INSS, nem isso a gente consegue porque não temos acesso aos médicos”, disse a mulher.
Resposta
Em nota, a Santa Casa de Santos informou que o exame de anatomia patológica requer um prazo de 15 dias para entrega, podendo retornar antes ou depois, uma vez que a análise depende de diversos fatores, como tempo de processamento e necessidade de reavaliação do tecido para um diagnóstico mais eficaz.
No entanto, o hospital explicou que, mesmo com a análise, o resultado pode ser indeterminado, necessitando realização de imunohistoquímico [método de localização de antígenos em tecidos biológicos] da peça.
No caso do Luciano, segundo o hospital, o laudo foi liberado para retirada do paciente em 18 de julho, 10 dias após o procedimento, porém houve a necessidade de realizar o imunohistoquímico para um diagnóstico mais preciso.
Ainda de acordo com a Santa Casa, o paciente foi orientado sobre a proposta terapêutica da equipe, bem como do agendamento de retorno, que ocorrerá após finalizado o imunohistoquímico, uma vez que é necessário o resultado do mesmo para propor o melhor tratamento para o caso em questão.
Várias decepções
Homem luta para retirada de tumor gigante na coxa que, segundo a esposa, é do tamanho da ‘cabeça de uma criança’
Arquivo pessoal
O paciente foi comunicado pelo hospital, em 4 de julho, que a cirurgia para a retirada do tumor ocorreria no dia 8 do mesmo mês. Ele chegou a entrar no centro cirúrgico, mas, na saída, a equipe médica informou à esposa que não realizou a remoção do lipoma.
“A saga continua. Não foi feita a cirurgia. Fizeram só uma biópsia. O médico disse que o lipoma está todo enraizado. Imagina a nossa frustração”, disse a esposa.
Ao invés da cirurgia, segundo a mulher, Luciano foi anestesiado com raqui, que paralisa a parte inferior do corpo . “O médico disse que foi necessário tirar seis amostras, que é um processo doloroso e por isso a anestesia. Ele disse que não poderia cortar por conta dos vasos sanguíneos”.
De acordo com Sandra, o marido precisará passar por um médico oncologista para avaliar uma estratégia para diminuir o tumor antes da operação. Além disso, Luciano terá que refazer os exames que já havia feito. “Ou seja, mais espera, mais tempo e o tumor crescendo. Estávamos esperançosos”.
“Estou sem chão. Não sei nem o que falar para as pessoas. Não se brigo, xingo, choro ou me calo e espero. Estou angustiada”, disse a mulher.
Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informou que, de acordo com a Santa Casa de Santos, o atendimento agendado para 8 de julho seria para uma biópsia, seguindo orientação da equipe médica do hospital, e que foi realizada de acordo com o previsto.
Abaixo, no entanto, é possível ver a mensagem enviada pela equipe do Hospital Santa Casa de Santos a Luciano. O texto diz: “Estamos entrando em contato referente à cirurgia do senhor (a) Luciano Ferreira de Souza agendada para 8/7/2024”.
Hospital enviou mensagens para Luciano informando que a cirurgia havia sido agendada, mas, ao chegar na unidade passou por biópsia
Arquivo Pessoal
Cirurgia negada e médica afastada
A cirurgia havia sido marcada após Luciano ter vivido uma decepção em 1° de junho, quando esteve na Santa Casa de Santos para marcar a cirurgia da retirada do tumor e foi informado de que o convênio entre a unidade de saúde e a Prefeitura de Praia Grande havia terminado. A profissional acabou afastada (leia mais abaixo).
Segundo a esposa, Sandra Lima, a médica falou que sem o acordo entre o hospital e a administração municipal eles não poderiam fazer nada. Ao g1, a prefeitura disse manter o contrato vigente e que o atendimento seria garantido.
Luciano se desesperou ao ouvir que não seria atendido na Santa Casa de Santos.
Arquivo Pessoal
A história de Luciano foi contada pelo g1 em 4 de junho e, no mesmo dia da publicação, Sandra e Luciano receberam uma mensagem do hospital comunicando que a cirurgia havia sido marcada para 8 de junho.
Acompanhamento médico
Em março, o g1 contou a luta de Luciano pela cirurgia para retirar o tumor, que media aproximadamente 13 cm x 12 cm x 19 cm. Na época, a Prefeitura de Praia Grande e a Santa Casa de Santos afirmaram que o paciente estava sendo acompanhado no hospital.
Segundo Luciano, ele realmente foi atendido por um médico da Santa Casa em abril. O cirurgião solicitou exames pré-operatórios e pediu para que o autônomo voltasse a agendar uma consulta quando estivesse com os resultados, pois seria marcada a data da entrevista com anestesista e da cirurgia.
Após realizar os exames, Luciano marcou consulta para 1° de junho. “Chegando lá com os exame, recebi a notícia que a Santa Casa não estava realizando procedimento com munícipes de Praia Grande por questões burocráticas, contratuais e políticas. Esses foram os termos usados pela médica”, afirmou o homem, que ficou desolado com a informação.
Homem, de 43 anos, com tumor gigante chora de dor e luta por cirurgia, em Praia Grande (SP)
Reprodução
Ao g1, ele contou que chegou a questionar a profissional se havia ao menos uma previsão de data para a cirurgia, mas ela respondeu que isso só poderia ser dito após a questão burocrática ser regulamentada.
A médica também afirmou que, quando isso ocorresse, ela iria reavaliar o caso para ver o procedimento adequado.
Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informou que o contrato com a Santa Casa de Santos está regular e em vigor. “A Secretaria de Saúde Pública praia-grandense foi informada pela Santa Casa de Santos que a médica em questão foi afastada para processo médico e administrativo para averiguar a situação”.
Ainda segundo a administração municipal, o atendimento do paciente seguirá os fluxos já estabelecidos na parceria com o hospital. “O munícipe já está sendo contatado para o prosseguimento do atendimento”.
Descoberta da doença
Luciano contou que descobriu o tumor em 2011, quando sentiu um caroço do tamanho de uma uva na parte posterior da coxa direita. Ele procurou orientação médica e descobriu que poderia se tratar de um lipoma. Por isso, passou a realizar exames com esse diagnóstico.
“Ele [médico] falou que era um lipoma muito pequeno e que não compensava fazer a cirurgia naquele momento, porque poderia voltar a ter esse lipoma e de uma forma mais agressiva, segundo ele”, relembrou o homem.
Segundo Luciano, a orientação era voltar a procurar ajuda médica quando o caroço começasse a incomodar. Anos depois, ele passou a sentir dores e foi encaminhado ao Centro de Especialidades Médicas Ambulatoriais e Sociais (Cemas) de Praia Grande. “Já estava do tamanho de uma ameixa”, disse, em relação ao tumor.
No entanto, o acompanhamento com consultas e exames foi interrompido por conta da pandemia da Covid-19. Quando as consultas retornaram, os exames já estavam vencidos e Luciano precisou refazê-los.
Tumor na coxa de Luciano tinha tamanho parecido com o de uma manga
Arquivo Pessoal
Com os novos exames em mãos, o autônomo foi encaminhado para cirurgia geral, mas a médica disse que precisava de um parecer do vascular para conferir se não afetava algum tecido vascular. Ao procurar a outra especialidade, Luciano foi atendido por um médico que afirmou que cuidaria do caso.
Porém, no retorno, o especialista disse que o paciente havia interpretado errado e poderia cuidar somente das varizes de Luciano, pois o tumor deveria ser tratado com cirurgião geral ou plástico.
Desta forma, o paciente foi novamente encaminhado para um cirurgião plástico do Cemas de Praia Grande. “Chegando lá, ele falou que não podia mexer porque já estava muito grande. […] Na pandemia, ele cresceu muito rápido”, disse.
O médico encaminhou o paciente para hospitais da região que realizam esse tipo de cirurgia. Desta forma, Luciano passou por avaliação na Santa Casa de Santos em janeiro e, em seguida, fez uma nova ressonância. Desde então, ele segue se adaptando para conseguir executar as tarefas diárias, como o trabalho de autônomo.
Lipoma
O cirurgião plástico especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica, Luís Maatz, explicou ao g1 que o lipoma é um tumor benigno que surge pelo crescimento desordenado das células de gordura.
“Geralmente são pequenos, mas podem chegar a massas de grande volume. Suas causas não são conhecidas, mas os estudos relatam que pode haver influência genética ou eventualmente surgirem após algum trauma local”, afirmou.
Lipoma é um tumor benigno e não representa risco
O médico explicou que o tumor surge como um nódulo abaixo da pele, de consistência macia e normalmente móvel em relação aos tecidos ao redor. “Dependendo da localização e evolução, pode haver aderência aos planos profundos, ocasionando maior dificuldade na sua remoção”.
Segundo Maatz, o tratamento é com intervenção cirúrgica. Em determinados casos, é possível realizar o procedimento somente com anestesia local. Porém, em caso de lipomas grandes, a anestesia geral pode ser necessária.
Apesar do médico informar que a maioria das queixas de lipoma ser por estética, o tumor pode causar sintomas de compressão sobre os tecidos aos redor conforme cresce.
“Ocasionando dor por compressão muscular ou de nervos. Uma pequena porção dos lipomas, em particular os de longa data, podem sofrer transformação maligna. Por isso, recomenda-se que sejam removidos após o diagnóstico”, explicou o cirurgião.
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