Cirurgia nas pálpebras, rinoplastia e ‘lifting’ facial: dentista suspeito de negligência oferece procedimentos proibidos na profissão; entenda


Fernando Lucas Rodrigues Alves é investigado por violação sexual e possíveis erros durante cirurgias estéticas em clínica odontológica. Registro profissional dele está suspenso. Mais vítimas denunciam trabalho do dentista Fernando Lucas
Retirada de pele nas pálpebras, rinoplastias e “liftings” faciais são alguns dos serviços oferecidos pelo dentista Fernando Lucas Rodrigues Alves, que é investigado por violação sexual mediante fraude e possíveis erros durante cirurgias estéticas. No entanto, segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO), esses procedimentos são proibidos na profissão.
De acordo com a resolução CFO-230, de 2020, fica vedada a qualquer cirurgião-dentista a realização das seguintes intervenções na face:
Alectomia: cirurgia para “afinar” o nariz;
Blefaroplastia: retirada de excesso de pele nas pálpebras;
Cirurgia de castanhares ou lifting de sobrancelhas: elevação da cauda da sobrancelha;
Otoplastia: correção de orelhas proeminentes;
Rinoplastia: cirurgia para melhorar a forma ou função do nariz;
Ritidoplastia ou face lifting: suavizar marcas causadas pelo envelhecimento do rosto e pescoço.
Ainda conforme o documento, os profissionais são proibidos de fazer publicidade e propaganda de procedimentos não odontológicos e alheios à formação superior em odontologia, como:
Micropigmentação de sobrancelhas e lábios;
Maquiagem definitiva;
Design de sobrancelhas;
Remoção de tatuagens faciais e de pescoço;
Rejuvenescimento de colo e mãos;
Tratamento de calvície e outras aplicações capilares.
“O cirurgião-dentista que realizar, bem como aquele que coordenar e ministrar cursos, ou de qualquer forma contribuir para a realização e divulgação dos procedimentos vedados nesta resolução, responderá a processo ético-disciplinar, sendo considerada conduta de manifesta gravidade para a gradação da pena”, complementa a resolução.
Registro suspenso
O cirurgião-dentista Fernando Lucas Rodrigues Alves
Reprodução/TV Globo
Segundo o advogado de uma das vítimas, ao menos 20 pessoas tiveram problemas pós-operatórios depois que passaram por intervenções estéticas na clínica do dentista, em Belo Horizonte. A defesa dele nega as acusações (veja posicionamento mais abaixo).
Nas redes sociais, o profissional se anuncia como especialista em cirurgia facial, com 19 anos dedicados a “transformar faces”, e professor universitário. No entanto, após as denúncias, o Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG) suspendeu, por 30 dias, o exercício profissional dele.
“O Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG) informa que está atuando para apurar os fatos relacionados à conduta profissional do cirurgião-dentista, bem como confirma a existência de denúncias de pacientes, relatórios da VISA Municipal, inquérito policial instaurado, bem como evidências de práticas temerárias reiteradas que justificaram a suspensão cautelar do seu exercício profissional por 30 dias, conforme Portaria publicada em 12 de julho de 2024”, afirmou o CRO.
Denúncias
Soraya ficou com o rosto deformado
TV Globo
A psicanalista Soraya Cury, de 56 anos, relata que está sem trabalhar há oito meses, devido às sequelas de uma cirurgia plástica malsucedida nos lábios.
“No dia da cirurgia, eu vi que eu estava com a boca torta. E aí, quando eu cheguei em casa, fiquei muito infeliz, eu fiquei apavorada”, contou Soraya.
Além de culpar o dentista por negligência e imperícia, Soraya Cury denuncia que, em uma das consultas, o suspeito pediu que ela tirasse toda a roupa antes da operação. Quando foram se despedir, ele ainda a teria surpreendido com um beijo na boca.
“Eu achei que eu fosse ficar sem a parte de cima, mas com sutiã e o avental, porque na cirurgia é colocado, são colocados quatro eletrodos aqui na gente. […] Tirei a roupa toda e coloquei um avental, mas muito constrangida, e fui para a cirurgia. Antes de eu sair da clínica, ele foi se despedir de mim. Quando ele foi me dar um abraço, ele me deu um selinho”, afirmou.
No dia 10 abril deste ano, outra mulher, de 63 anos, fez um procedimento com o profissional e, quando uma amiga a buscou, no fim da tarde, percebeu que ela estava com sangramento no rosto, vômito e incontinência urinária, além de dificuldade para andar.
A paciente foi orientada pelo dentista a ir para casa. Durante a noite, a amiga percebeu que ela estava sem sinais vitais e chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Vítimas de dentista denunciam erro em procedimento estético
Arquivo pessoal
A mulher ficou internada em coma e morreu dois dias depois. A família relatou que o dentista a procurou, disse que não era um caso grave e que a morte foi pelo fato de a vítima ter apneia do sono.
Em agosto de 2023, uma paciente, de 55 anos, denunciou o dentista por um procedimento cirúrgico feito contra a vontade dela. Ela contou que foi à clínica para fechar o contrato de uma ritidoplastia. Antes da assinatura, o dentista ofereceu um medicamento, sem ela saber que era um sedativo, e fez o procedimento sem autorização.
A vítima contou que acordou e implorou para ele parasse, mas não foi ouvida. A operação deixou uma cicatriz no rosto dela.
O que diz o dentista
Em nota, o profissional afirmou que procedimentos cirúrgicos podem ter complicações, mas que tudo é comunicado de forma prévia ao paciente. Além disso, o dentista garantiu que prestou assistência às pacientes no pós-operatório. Veja posicionamento na íntegra abaixo:
“O Dr. Fernando Lucas, especialista em cirurgia bucomaxilofacial pela Universidade Federal de Minas Gerais e em cirurgias estéticas da face, acumula quase 20 anos de experiência profissional. Ao longo de sua carreira, realizou mais de 2.000 cirurgias, destacando-se em renomados hospitais de Belo Horizonte, como o Hospital João XXIII e o Hospital Odilon Behrens. Seus resultados excepcionais são evidenciados pelas inúmeras manifestações de satisfação, apreço e carinho de seus pacientes.
Em relação às eventuais alegações de cirurgias malsucedidas, é importante destacar que todo procedimento cirúrgico implica riscos inerentes, que são previamente comunicados aos pacientes, cuja ocorrência independe da conduta do profissional. Ressalte-se que, em casos de fibrose, a conduta do paciente no pós-operatório é indispensável para que se tenha o melhor resultado, sendo de responsabilidade do paciente realizar as sessões de fisioterapia, bem como seguir as recomendações do profissional quanto a bons hábitos de saúde.
O Dr. Fernando sempre priorizou a saúde e a segurança de seus pacientes, oferecendo um acompanhamento pós-operatório exemplar. Sua clínica é equipada com tecnologia de ponta, tanto para garantir os melhores resultados quanto para tratar eventuais intercorrências com eficiência, possuindo todas as autorizações necessárias para funcionamento. Por fim, reafirmamos nosso compromisso com a ética e a transparência, valores que norteiam todas as nossas ações. Estamos à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais e reforçamos nosso compromisso com a excelência no atendimento e cuidado dos nossos pacientes”.
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