Rayssa Leal: skate personalizado para Paris leva arara-azul, ave típica do Pantanal e que na verdade é preta


O g1 separou algumas curiosidades sobre a arara-azul, que ganhou destaque no skate de Rayssa Leal, que vai competir nos Jogos Olímpicos de Paris. Rayssa Leal com o skate personalizado de araras viralizou nas redes sociais
Rodrigo Lima, Simben/INaturalist
De plumagem azul e beleza de tirar o fôlego, a arara-azul, ave típica do Pantanal, é a estampa do shape da skatista Rayssa Leal. A fauna sul-mato-grossense será representada nos Jogos Olímpicos de Paris através da “Fadinha”.
O g1 separou algumas curiosidades sobre a ave, que ganhou destaque no skate de Rayssa. A espécie, na verdade, não é azul, é preta! Devido às esferas microscópicas de dispersão de luz das penas, o tom azulado se sobressai aos olhos humanos. O bicho usa folhas de árvores como “guardanapo” para segurar o alimento e tem um dos bicos mais potentes entre as espécies. Conheça mais sobre a ave abaixo.
Arara-azul 🦜
Egon encontrou com a arara-azul-grande em uma viagem recente para o Pantanal
Egon Zakuska
De coloração com tons azul, preto nas asas e amarelo ao redor dos olhos, a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) é a maior espécie entre as araras no mundo, atingindo um metro de comprimento e podendo pesar cerca de 1,3 kg.
De acordo com o Instituto Arara Azul, a espécie é sociável e vive em famílias, bandos ou grupos. As aves apresentam fidelidade na reprodução, o que fazem levar um parceiro para toda vida. As araras jovens e casais que não são reprodutivos, se mantém em dormitórios para se proteger.
Na alimentação, as araras comem, basicamente, sementes de palmeiras que podem quebrar facilmente com a força dos bicos, um dos mais fortes entre todas as aves. No Pantanal, as araras se alimentam de acuri (Scheelea phalerata) e bocaiúva (Acrocomia aculeata), frutos típicos do bioma.
1. A arara-azul não é azul
Arara-azul tem sotaque dependendo da região em que vive
Ciro Albano
Segundo o biólogo Bruno Carvalho, nenhuma espécie e grupo de animais têm a pigmentação azul.
O biólogo afirma que a arara-azul, na verdade, tem a coloração preta, que pode ser visto abaixo das asas, algo semelhante ao beija-flor. “As penas delas têm algumas funções como evitar o bicho se molhar e a proteção térmica”.
O biólogo explica o porquê de vermos o tom azulado: “Só enxergamos a ave assim, por causa das esferas microscópicas de dispersão de luz das penas”, explica Carvalho.
2. Vocalização
Em cada região do país, o canto da arara-azul é diferente.
“Como trabalhamos em uma área grande no Pantanal e no Cerrado, com o tempo percebemos que na região pantaneira existem diferentes sotaques entre os grupos de arara-azul. A ave aqui no Mato Grosso se comunica diferente daquela do Mato Grosso do Sul. No Pantanal percebemos que a vocalização tem um som mais grave”, diz Bruno.
3. Arara-azul anã
Pesquisa confirma a existência da arara-azul anã
Lucas Rocha
Após 30 anos de estudos, pesquisadores da Universidade Anhanguera-Uniderp, de Campo Grande, confirmaram a existência da arara-azul anã no Cerrado e no Pantanal. O acompanhamento foi feito do ovo ao nascimento.
“O nosso objetivo nesse estudo foi analisar o processo de desenvolvimento das aves da espécie. Então, nós avaliamos o peso, o comprimento total do corpo e da cauda durante o estudo. E só foi possível perceber essas diferenças, porque a pesquisa foi feita ao longo prazo (entre 1991 e 2021)”, afirma a bióloga Neiva Guedes, pesquisadora e fundadora do Instituto Arara Azul.
Guedes explica que o fato de elas terem essa mutação, não afeta a espécie, pois conseguem voar, se alimentar e ter filhotes.
LEIA TAMBÉM
Após 30 anos, pesquisadores confirmam a existência de araras-azuis anãs
4. A arara-azul não é ararinha-azul
Ararinha-azul no criadouro da espécie em Curaça, na Bahia.
AP Photo/Andre Penner
Apesar de terem a nomenclatura parecidas, ambas as espécies se diferem fisicamente. A ararinha é endêmica do nordeste, rara e criticamente ameaçada de extinção. Um dos principais motivos foi o tráfico de animais silvestres, apontado como principal razão do desaparecimento dos últimos indivíduos da espécie na natureza.
Atualmente, a maioria é encontrada em cativeiro, incluindo filhotes de aves capturadas ilegalmente na natureza e traficadas para o exterior.
Araras e ararinhas – não confunda!
5. Construção do ninho e filhotes
Um filhote de arara-azul de 21 dias é carregado em uma cesta para sua incubadora em um projeto de criadouro em seu habitat nativo em uma área rural de Curaçá.
AP Photo/Andre Penne
A ave apenas se reproduz no oco das árvores de grande porte, como a Manduvi, presente no Pantanal. O ninho sempre passa por manutenção, tirando com o bico as lascas ao redor.
“Ela participa da construção, mas não faz sozinha. Uma broca pode começar o oco na árvore, aí vem um pica-pau aumenta um pouquinho, depois vem o periquito aumenta mais um pouquinho, até que o oco chegue a um ponto onde a arara-azul começa a participar desse processo também. Ela passa a construir, a moldar esse oco faz um trabalho de arquitetura mesmo, até atingir um tamanho adequado. É como se a broca começasse a obra e arara fizesse o trabalho de arquitetura mesmo”, conta o biólogo Bruno.
Além disso, a taxa de reprodução da espécie é baixa, com a fêmea colocando de 1 a 3 ovos, geralmente com apenas 1 filhote de desenvolvendo.
“Se a gente considerar que uma arara vai viver na natureza, mais, ou, menos de 30 a 35 anos; e que ela vai chegar na maturidade sexual com seis, ou, sete anos; a vida reprodutiva da espécie é reduzida para 23 anos. Isso representaria, aproximadamente, um filhote a cada dois anos. Representa uma taxa de reprodução baixa”, explica o Bruno”.
O período de incubação dura de 28 a 30 dias e depois que sai do ninho, o filhote acompanha os pais por um longo período.
Ninho da arara-azul é feito em ocos de árvores
Paul Tavares/INaturalist
6. Espécie ameaçada de extinção e conservação
O Instituto Arara-Azul explica os principais fatores para a ameaça da espécie:
A captura ilegal das aves para o comércio nacional e internacional, traficada intensamente até a década de 80.
Destruição do habitar, principalmente a implantação de pastagem ilegal.
Caça e coleta de penas (no Brasil está proibida desde 2005, permitido apenas para cerimônias e outros usos nas reservas indígenas
O instituto junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) trabalham para a conservação da espécie com estratégias para estudo e manejo. Além disso, existe um comitê responsável pela preservação das aves, que se reúne pelo menos uma vez, a cada dois anos.
Resgatada, arara-azul-grande ganha o nome de “Elza” no Pará
Reprodução / Agência Pará
*Estagiária sob supervisão de José Câmara.
Veja vídeos de Mato Grosso do Sul:
Adicionar aos favoritos o Link permanente.