Dia Mundial do Cérebro: conheça paciente que sobreviveu a 3 AVCs em MT


Mato Grosso registrou mais de mil casos de doenças neurológicas entre 2023 e 2024. Paulo depois do segundo AVC, em 2021, e a esposa Maria Inês.
Arquivo pessoal
Paulo Fernandes dos Santos, de 64 anos, sobreviveu a três Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) em um período de nove anos, em Cuiabá. Ele contou com a ajuda das filhas e, principalmente, da esposa Maria Inês, de 59 anos. Nesta segunda-feira (22), é celebrado o Dia Mundial do Cérebro. A data marca o surgimento da Federação Mundial de Neurologia, em 1957, e tem o objetivo de conscientizar e promover a saúde neurológica.
Maria Inês conversou com o g1 sobre os desafios ao longo dos últimos anos. “Tenho curso de enfermagem e pude ajudar nos primeiros socorros. Graças a Deus ele não estava sozinho em nenhuma das vezes, e hoje eu nunca o deixo sozinho. Ele só continua vivo porque socorremos a tempo”, contou.
Paulo teve o primeiro AVC em 2014, o segundo em 2021 e o terceiro em 2023. Maria contou que, desde o último acidente, a mobilidade, a fala e a visão de Paulo ficaram comprometidas.
“A coordenação motora dele, principalmente do lado direito, ficou bastante comprometida. Ele sente muitas dores no braço e na perna e, também, perdeu a visão do olho direito. Ele sempre gostou muito de conversar e falava alto, depois do terceiro AVC, ele tem dificuldade para falar e o volume da voz diminuiu muito”, relatou.
Mudança de rotina
Maria Inês e Paulo atualmente.
Arquivo pessoal
Paulo trabalhava com concertos de eletrônicos e Maria Inês trabalhava em uma escola. Hoje, ela dedica 24 horas do dia ao esposo e conta com a ajuda das filhas, que já são casadas, mas auxiliam nos cuidados com o pai.
“Quando ele teve o primeiro AVC, coincidentemente, meu contrato com a escola havia se encerrado e eu estava em casa e pude socorrê-lo. Depois do segundo AVC, ele ainda conseguia manusear as peças e ferramentas, mesmo com algumas sequelas, mas depois do terceiro ficou impossível. Comecei a trabalhar em casa, cozinhando e ele me ajuda como pode, mas com muita dificuldade, qualquer esforço o deixa muito cansado”, explicou.
Em 2020, eles ainda tiveram Covid-19 e Paulo ficou com 75% do pulmão comprometido, mas se recuperaram juntos durante o isolamento. Atualmente, ele toma todos os medicamentos receitados e vai ao médico regularmente.
Maria Inês acredita que a causa para tudo isso, possa ser os hábitos que Paulo tinha quando era jovem.
“Ele tinha um grupo de pagode antes de nos casarmos, então perdia muita noite, bebia, não se preocupava muito com a alimentação e ele sempre foi um pai e um marido muito presente, então acredito que a correria do dia a dia acabou interferindo também”, relatou.
O neurologista José Alexandre Jr. disse que o estilo de vida é a principal influências para algumas doenças que afetam o cérebro.
“Hábitos ruins como etilismo, tabagismo, sedentarismo, uma alimentação ruim, passar noites sem dormir, todos esses são fatores de riscos que podem causar não só AVC, mas outras doenças degenerativas como Alzheimer, epilepsia e outros”, explicou.
🧠Doenças neurológicas
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT), em 2023, foram registrados 1.012 casos de doenças neurológicas, em Mato Grosso, e até o momento, 43 casos em 2024. Entre as mais diagnosticadas no estado, estão a epilepsia, cefaleia (a conhecida dor de cabeça) e transtorno hipercinético, um dos componentes do Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
O neurologista confirma que os casos dessas doenças tem sido frequentes e alerta para o diagnóstico feito corretamente.
“O exame para o TDAH, por exemplo, não é um simples teste de positivo e negativo. É uma análise de comportamento, reconhecimento dos sinais, às vezes pode ser transtorno de ansiedade ou outra coisa. A epilepsia também, é necessário uma série de avaliações e exames complementares, porque a causa pode ser adquirida tanto no nascimento, quanto depois de adulto”, enfatizou.
De acordo com estudos realizados pelo Global Burden of Disease Injuries and Risk Factors Study (GBD), as principais doenças neurológicas que contribuem para a perda da saúde do cérebro no mundo são AVC, encefalopatia neonatal, enxaqueca, Alzheimer, epilepsia, do Transtornos do espectro autista e tumores no sistema nervoso.
A SES-MT aponta ainda que, do total de casos diagnosticados em 2023 e 2024, cerca de 54% (571 casos) é relativo às mulheres, enquanto 46% (484 casos) aos homens. Apesar da tímida diferença, o médico neurologista acredita que os números não confirmam, necessariamente, que as doenças acometam mais o público feminino, mas que o público masculino ainda se preocupa menos com a saúde.
“Quanto aos fatores de riscos, tanto homens, quanto mulheres terão os mesmos, mas o homem adulto acaba priorizando outras atividades e esquece da saúde, enquanto a mulher ainda se preocupa mais. O ideal é que todos vão ao médico regularmente, façam os exames e acompanhamentos de forma correta”, finalizou.
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