Desistência de Biden: entenda os desafios do sucessor nas eleições dos Estados Unidos


Quem assumir a Casa Branca em janeiro de 2025 terá de lidar com questão migratória, que assusta o eleitor americano, e inflação em patamares elevados, além de questões delicadas na política externa. Joe Biden e Kamala Harris em imagem de março de 2022
Nicholas Kamm/AFP
O presidente dos Estados Unidos Joe Biden anunciou no último domingo (21) que desistiu de concorrer à reeleição e declarou seu apoio à indicação de sua vice-presidente, Kamala Harris, para ser sua substituta na corrida eleitoral pela Casa Branca.
O Partido Democrata, no entanto, não decidiu quem assumirá o posto – e tem pouco tempo para isso. Independente do nome, o sucessor terá muitos desafios pela frente.
Os principais são referentes à economia dos Estados Unidos – que atingiu o maior patamar inflacionário em 40 anos –, à forma de lidar com a pauta da imigração e à política externa, tanto no relacionamento com outros líderes mundiais quanto em decisões tomadas sobre questões como a guerra na Ucrânia e em Gaza.
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Reprodução
Economia dos Estados Unidos
Durante a gestão Biden, os Estados Unidos atingiram o maior patamar inflacionário em 40 anos. Em maio deste ano, o país atingiu 8,6% no acumulado em 12 meses– a maior taxa desde dezembro de 1981.
O índice foi impulsionado principalmente pelo aumento do preço da gasolina, dos alimentos – que foram afetados pela guerra na Ucrânia e tiveram a primeira alta de dois dígitos desde março de 1981 – e pela política de Covid-19 zero da China, que atingiu as cadeias de abastecimento.
Imigração
A questão migratória envolve um vaivém de decisões políticas do presidente. Em junho, por exemplo, Biden autorizou o fechamento temporário da fronteira com o México e uma série de normas para barrar a chegada de imigrantes, porém, duas semanas depois, anunciou pacote de medidas para conceder cidadania a estrangeiros que residem nos EUA.
O pacote é uma das ações presidenciais de amparo a imigrantes mais amplas em mais de uma década nos EUA e foi alvo de muitas críticas dos republicanos. Donald Trump, concorrente de Biden, quer endurecer o tratamento a imigrantes nos EUA e em seu primeiro discurso após ser oficializado como candidato oficial para as eleições, sem citar provas, afirmou que a imigração provocou aumento na criminalidade.
A migração é um dos temas que mais preocupam os norte-americanos. Uma pesquisa realizada pela agência de notícias Associated Press, apontou que três anos após Biden assumir o cargo, no começo deste ano, apenas 38% dos americanos o aprovam como presidente. O resultado negativo está atrelado principalmente a questão migratória e ao conflito entre israelenses e palestinos.
Como Biden vai entrar para a história?
Oferta bélica à Ucrânia
Em maio, os Estados Unidos aprovaram uma ajuda bilionária à Ucrânia de US$ 60,8 bilhões e o país é um dos provedores de armas ocidentais aos ucranianos desde o começo da guerra, há dois anos.
Os altos gastos com a ajuda a Volodymyr Zelensky é uma das principais críticas a Joe Biden e o candidato a vice-presidente de Trump, o senador J.D. Vance, está entre os maiores oponentes do Congresso à ajuda dos EUA para a Ucrânia.
No X, o presidente ucraniano, inclusive, falou da decisão de Biden de se retirar da corrida eleitoral. Disse que respeitava a “decisão difícil, mas forte” e o agradeceu por sua ajuda “na prevenção de Putin ocupar nosso país”.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o americano Joe Biden em reunião em 21 de setembro do ano passado.
JULIA NIKHINSON/POOL/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK via BBC
Diálogo com Israel
O apoio aberto do presidente americano Joe Biden a Israel na guerra em Gaza também criou problemas para ele na campanha. Com muitas mortes de civis no território, americanos passaram a acusar o governo israelense de genocídio e questionar a aliança.
Em maio deste ano, a própria vice-presidente, Kamala Harris, fez as declarações mais incisivas da liderança dos EUA ao criticar o governo de Israel. Ela direcionou sua fala a Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, para o cessar-fogo e impedir uma “catástrofe humanitária.”
“Com a saída de Biden, Israel perdeu talvez o último presidente sionista. Um novo candidato democrata vai virar a dinâmica de cabeça para baixo”, disse à AP Alon Pinkas, ex-cônsul israelense em Nova York.
Importação de produtos da China
Nos últimos meses, tanto Biden como Trump tentaram mostrar aos eleitores quem pode enfrentar melhor a crescente força militar de Pequim e proteger as empresas e os trabalhadores dos Estados Unidos das importações chinesas de baixo preço.
Biden aumentou as tarifas para produtos chineses, principalmente sobre veículos elétricos, e Trump prometeu implementar tarifas de 60% sobre todos os produtos chineses.
Os americanos afirmam que a China promove “riscos inaceitáveis” à segurança econômica por conta do que consideram práticas injustas de concorrência. As relações de comércio entre os dois países são deficitárias para os americanos há décadas: em 2023, os EUA importaram US$ 427 bilhões em bens da China, enquanto exportaram apenas US$ 148 bilhões.
Diálogo com a União Europeia e Otan
Muitos europeus ficaram felizes em ver Trump ir embora depois de anos menosprezando a União Europeia e minando a Otan. Biden, por outro lado, apoiou relações estreitas dos Estados Unidos com os líderes do bloco e da Aliança do Atlântico Norte.
Durante uma carreira de cinco décadas na política, Biden desenvolveu relacionamentos pessoais extensos com vários líderes estrangeiros que nenhum dos substitutos em potencial na chapa democrata pode igualar. A questão agora é saber se o novo nome conseguirá ter a postura e diálogo do agora ex-candidato.
De todo modo, apesar do novo nome não ter sido definido, Jeremy Shapiro, diretor de pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores já declarou apoio a qualquer que seja o candidato democrata:
“O bloco não quer ver Donald Trump como presidente”.
EUA e Reino Unido anunciam sanções contra o Irã
Sanções econômicas ao Irã
Com os representantes do Irã no Oriente Médio cada vez mais envolvidos na guerra entre Israel e o Hamas, os EUA enfrentam uma região em desordem. Desde que o conflito começou, o governo norte-americano tem aplicado diversas sanções econômicas aos iranianos, que apoiam o grupo terrorista.
Uma delas, por exemplo, criada em 18 de abril, tinha como objetivo principal impedir que peças de armamentos e tecnologia chegassem até o país. Os alvos das sanções incluíam empresas que vão desde siderúrgicas até montadoras de automóveis – acusadas de fornecerem materiais para os drones e mísseis iranianos.
Um dos desafios do sucessor será lidar com essas questões no Oriente Médio: tensões latentes e ataques transfronteiriços que envolvem os Houthis do Iêmen, o grupo militante Hezbollah do Líbano e o Hamas, todos apoiados pelo Irã.
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