Sorocaba e Jundiaí registram queda no número de adolescentes grávidas nos últimos cinco anos


Especialista opina que números refletem no desenvolvimento humano e reforçam a necessidade do debate sobre educação sexual para jovens. Dados são das Secretarias de Saúde dos municípios
Reprodução/Unsplash
Sorocaba e Jundiaí (SP) registraram queda no número de adolescentes de 12 a 18 anos que deram à luz nos últimos cinco anos. Os dados são das Secretarias de Saúde dos municípios.
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De acordo com dados da prefeitura de Sorocaba, a queda foi de 21,4%. Em 2019, 529 meninas foram mães na adolescência. O número teve uma queda gradual nos anos seguintes, até chegar ao menor número, em 2023. Confira:
2020: 511;
2021: 457;
2022: 434;
2023: 413.
No primeiro semestre deste ano, a cidade registrou 195 grávidas dentro deste grupo.
Já em Jundiaí, os dados foram separados em diferentes grupos: adolescentes de 13 anos, de 14 a 16 anos e de 17 e 18 anos. Apesar da oscilação, também houve uma diminuição dos registros.
Entre 2019 e 2021, seis adolescentes de 13 anos deram à luz. Já entre garotas de 14 e 16 anos, o número caiu de 76 em 2019 para 63 em 2023. Confira, de forma detalhada, no gráfico abaixo:

Impactos na saúde mental e na vida social
Para o psicólogo do Sistema Único de Saúde (SUS), mestre em Educação Sexual e coordenador do curso de psicologia da Universidade de Sorocaba (Uniso), Gelberton Rodrigues, engravidar ainda na adolescência pode gerar impactos diferentes em cada menina. No entanto, em um cenário epidemiológico, pode causar depressão, ansiedade e outros diagnósticos na saúde mental, mas também é preciso olhar para uma questão social.
“Uma jovem, uma adolescente que torna-se mãe na adolescência, ela tem uma chance muito maior de abandono da escola, de maior vulnerabilidade socioeconômica, maior vulnerabilidade a entrar em vagas ou não conseguir no mercado de trabalho, ou também vagas mais precárias, porque também tem essa exclusão do mercado de trabalho. Aliás, do ambiente escolar. Essa dificuldade no ambiente escolar. Todos esses aspectos sociais produzem, na menina, uma maior vulnerabilidade de desenvolver um sofrimento mental”, explica.
Conforme o especialista, a queda no número de jovens grávidas na adolescência aponta um maior desenvolvimento humano e é efeito de um processo da evolução dos contraceptivos e de um debate maior sobre o assunto. Para ele, mesmo que haja uma resistência em debater sobre educação sexual e sobre sexualidade na adolescência, a conversa tem efeitos.
“Não é uma ausência de debate como foi, por exemplo, na geração anterior a nossa. Eu acho que, existindo esse debate, e também o maior acesso aos métodos contraceptivos e também ao desenvolvimento tecnológico dos métodos contraceptivos, podem ser alguns indícios que causam esse fenômeno. Sem dúvidas, é um fenômeno positivo em termos de desenvolvimento humano”, explica.
Para especialista, diálogo e educação surtem efeito para diminuir taxa de gravidez na adolescência
Reprodução/Bom Dia Brasil
Falar ajuda a reduzir a violência
Conforme o Superior Tribunal Federal (STF), manter relação com pessoas menores de 14 anos é crime e configura estupro de vulnerável, mesmo que haja consentimento das partes para praticar o ato. Para Gelberton, isso reforça a importância da educação sexual, pois a gravidez proveniente do estupro pode intensificar o sofrimento.
“[Pode gerar] Ansiedade, depressão, transtorno, estresse pós-traumático, dificuldade em relação à autoestima, relação com o próprio corpo, a relação com a sexualidade e com o desejo, as relações sociais inclusive, as relações afetivas, uma inibição capacidade de se relacionar com outras pessoas”, inicia.
“[A educação sexual] É de primeira importância, porque um modo, isso comprovado em inúmeras pesquisas, de reduzir a gravidez na adolescência é a educação sexual. A vulnerabilidade da gravidez na adolescência”, completa.
Educação sexual pode ajudar a diminuir gravidez na adolescência
Reprodução EPTV
O especialista ainda diz que a educação sexual é um direito que deveria resguardar a dignidade das crianças e adolescentes e que também pode colaborar com:
A redução da vulnerabilidade à violência sexual;
A Redução da vulnerabilidade à infecções sexualmente transmissíveis.
“Falar abertamente sobre questões de sexualidade de gênero é importante para a redução de violência. Tanto as mais explícitas, como a violência sexual, quanto a violência de gênero imposta também na nossa sociedade. Se a gente pegar os índices jurídicos, criminosos, a maioria dos perpetradores de violência sexual é homem. Violência doméstica: homens. Isso também tem um efeito que poderia ser reduzido desde que houvesse a possibilidade de refletir sobre esses temas de maneira crítica no ambiente escolar”, opina.
Atendimento psicológico
A prefeitura de Jundiaí informou que o atendimento psicológico para adolescentes grávidas é sempre avaliado pela equipe de atendimento pré-natal da unidade que atende a jovem. Dependendo da necessidade, equipes multidisciplinares das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade acompanham e dão suporte psicossocial.
“Nos casos de violência sexual aguda, ou seja, até 72h, elas passam por acompanhamento psicossocial no Ambulatório da Saúde da mulher, assim como atendimento médico. Estes casos têm uma escuta qualificada, ou seja, de acolhimento e de humanização, e são avaliados e encaminhados ao psicólogo. Toda suspeita de violência de criança e adolescente há a necessidade de acionamento do Conselho Tutelar e registro de Boletim de Ocorrência”, explicou.
Já em Sorocaba, o atendimento é oferecido nas UBSs com acompanhamento médico, sendo encaminhada para o serviço de saúde mental ou para atendimento especializado no Conjunto Hospitalar de Sorocaba.
Além disso, também é oferecido um acolhimento no Centro Municipal de Atenção Especializada (CMAE), que verifica e trata doenças sexualmente transmissíveis.
Uma parceria entre a prefeitura com o Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci) e com participação do Ministério Público, do Conselho Tutelar e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) oferece, também, um serviço de escuta especializada para crianças e adolescentes, vítimas ou testemunhas de violência e abuso sexual.
Este atendimento, que está disponível 24h por dia, é feito por uma equipe técnica especializada, que inclui médicos, assistentes sociais e psicólogos para que crianças ou adolescentes relatem apenas uma vez sobre a situação vivenciada e recebam todos os encaminhamentos necessários. “Os casos chegam encaminhados pelo Conselho Tutelar, mas também podem ser encaminhados por escolas, pela rede de atendimento em saúde, Delegacia de Defesa da Mulher, entre outros serviços”, explicou.
A Escuta Especializada estará disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, sempre pronta a receber todos os casos que chegarem e dar pronta resposta às necessidades das crianças e dos adolescentes assistidos.
A promotora Dra. Cristina Palma também ressaltou a relevância de instituir o recurso na cidade. “Além de ampliar a rede de proteção das nossas crianças, o mais importante é agirmos para prevenir que outros casos emblemáticos e que ganharam repercussão na imprensa, como os de Henry Borel e Isabela Nardoni, aconteçam”, ressaltou.
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