Sem visitantes, comerciantes do Tanquã relatam prejuízo após mortandade de peixes: ‘parece velório’


Ações de retirada de peixes mortos seguem neste domingo. Área proteção ambiental entre Piracicaba e São Pedro (SP) costumava atrair trilheiros e observadores de pássaros. Comerciantes e moradores do Tanquã relatam prejuízo após mortandade de peixes
A tragédia ambiental que provocou morte de cerca de 50 toneladas de peixes nas lagoas do Tanquã, nas regiões de Piracicaba (SP) e São Pedro (SP), no último dia 7 de julho, já é sentida também por comerciantes e por visitantes que frequentam a região, que é área de proteção ambiental conhecida como minipantanal paulista.
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“Parece que a gente está num velório”, diz o autônomo Mathias Castilho Júnior, uma das duas únicas pessoas vistas pela equipe da EPTV, afiliada da Rede Globo, visitando o Tanquã neste sábado (20).
“Você chegava aqui e tinha em torno de cem pessoas, jipeiros, trilheiros, observadores de pássaros. Tinha o passeio de barco, muito gostoso passar a tarde numa paisagem dessa”, lembra o autônomo, se referindo ao período antes da mortandade de milhares de peixes.
Sem visitantes, comerciantes do Tanquã relatam prejuízos após mortandade de peixes na região de São Pedro.
Reprodução/EPTV
A equipe da EPTV flagrou as ruas vazias na vila à beira do rio e muitas casas de veraneio fechadas. Num dos bares mais procurados, a queda no movimento foi grande nos últimos dias, segundo o comerciante Carlos Cezar Bernal.
“Começaram a rodar os peixes mortos e o cheiro ficou insuportável. O pessoal que chegava ia embora na hora. E hoje, nem chegou, pode ver o bar, não tem ninguém”, diz.
“Na semana passada, não vendeu. Essa semana, fizemos a compra novamente e não vai vender de novo”, lamenta o comerciante.
Comerciantes relatam prejuízos após mortandade de peixes no Tanquã na região de São Pedro.
Reprodução/EPTV
Passeio de barcos
Com a grande redução no número de visitantes, a rotina dos passeios de barco pelo Rio Piracicaba mudou completamente. De acordo com a EPTV, nenhum barco saiu pelas águas no último sábado (20), o que significou prejuízo ao dono dos barcos, Ronaldo Aparecido Evangelista.
“O pessoal não está vindo mais para cá para fazer o passeio e é prejuízo grande para nós. Não estamos tendo renda nenhuma, nem de turismo e nem de pescaria, não pode pescar. Está tudo parado”, afirma.
Mathias Castilho Júnior descreve situação de comerciantes após mortandade de toneladas de peixes no Tanquã: ‘parece velório’.
Reprodução/EPTV
Retirada de peixes
Cerca de 36 toneladas de resíduos foram retiradas da lagoas do Tanquã, área de proteção ambiental atingida pelo lançamento irregular de poluentes do Rio Piracicaba. A operação, chamada Pindi-Pirá, iniciada no último dia 17 de julho, trabalha na coleta dos peixes mortos.
As ações continuam neste domingo (21), segundo a prefeitura de Piracicaba (SP) e Defesa Civil de São Paulo, com uso de hidrotratores, mais de 10 embarcações menores e mais de 30 pessoas no apoio com equipes de Piracicaba e Campinas (SP). 👉- Veja passo a passo da operação aqui.
Operação para retirada dos peixes mortos no minipantanal entra no segundo dia
A usina São José S/A de Açúcar e Álcool, apontada como responsável pelo despejo dos resíduos agroindustriais diretamente no Rio Piracicaba, foi multada em R$ 18 milhões.
Dois hidrotratores, equipamento capaz de fazer a remoção de detritos em ambientes aquáticos, são usados nos trabalhos executados pela mesma empresa responsável pela coleta de lixo na cidade. Somente neste sábado (20), foram retiradas 12 toneladas de peixes mortos.
Colocação do hidrotratar na água para início da limpeza no Tanquã
Edijan Del Santo/ EPTV
No primeiro dia de retirada de peixes do Tanquã nesta sexta-feira (19), depois de testes feitos com o hidrotrator no dia anterior, foram recolhidas 12,1 toneladas – 👆Acompanhe como foi o início da operação no VÍDEO, acima.
Maquinários
Entre as toneladas de peixes retirados estão espécies de dourados, mandis, curimbatás.
As ações de retirada são executadas por meio de maquinário, entre os dois tratores aquáticos, além de embarcação de areia, escavadeira e retroescavadeira e barcos menores.
Alguns pontos do Tanquã contam com recolha manual dos peixes mortos.
Alguns pontos do Tanquã contam com recolha manual dos peixes mortos no desastre ecológico em Piracicaba
Prefeitura de Piracicaba/CCS
“O desafio principal e a nossa missão é, além de garantir a biodiversidade do local e essa recuperação, é impedir que maiores impactos aconteçam por essa interferência no local que nós precisamos fazer para efetuar, de fato, a limpeza e a manutenção”, explica a Tenente Maria Eduarda Barcellos, da Polícia Ambiental.
“A expectativa é da gente trabalhar fortemente para que nos próximos dias a gente encerre as operações aqui no local”, aponta.
Água escura e ‘nata’ descrita por Nivaldo
Rodrigo Pereira/ g1
Ministério Público
O Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público (MP-SP) vai investigar a responsabilidade da Usina São José S/A Açúcar e Álcool, de Rio das Pedras (SP) na mortandade de peixes, já apontada pela Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb) como a maior já registrada em Piracicaba devido a morte de, pelo menos, 50 toneladas de peixes, segundo estimativa da agência fiscalizadora.
O inquérito civil, instaurado no dia 18 de julho e assinado pelos promotores Ivan Carneiro e Alexandra Facciolli Martins, pretende dimensionar os danos ambientais que causaram a morte de toneladas de peixes no Rio Piracicaba e na Área de Proteção Ambiental (APA) do Tanquã.
Serviços de retirada dos peixes mortos no Tanquã, na região de São Pedro (SP), segue neste domingo.
Prefeitura de Piracicaba/CCS
Maior mortandade em Piracicaba
Após a maior mortandade que se tem registro no Rio Piracicaba, foram anunciadas medidas para fiscalizar e monitorar o manancial. As ações foram informadas em coletiva de imprensa com a Prefeitura de Piracicaba (SP), Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e Polícia Ambiental na última sexta-feira (19).
Outra medida anunciada é a criação, pelas Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), de mais três pontos de monitoramento do rio. O intuito é acompanhar constantemente a qualidade da água para que esse tipo de ocorrência seja identificada de forma mais eficiente.
Mortandade de peixes teve início há cinco dias no local, segundo pescador
Rodrigo Pereira/ g1
VÍDEO: Imagens aéreas mostram mini pantanal coberto de peixes mortos
Multa de R$ 18 milhões
A usina responsável pelo despejo irregular, que teria sido a causa da mortandade de milhares de peixes, vai ser multada em R$ 18 milhões. O relatório da Cetesb detalhando a situação foi concluído nesta sexta.
Peixes mortos se concentram no ponto de onde partem os barcos, em trecho do Tanquã em São Pedro (SP)
Rodrigo Pereira/ g1
A Usina São José S/A Açúcar e Álcool foi apontada pela Companhia como a única responsável por essa mortandade, que é considerada a maior que se tem registro em Piracicaba causada por um agente poluidor.
A empresa nega que essa tenha sido a causa da mortandade, mas admite um extravasamento de resíduo (leia a nota completa no fim da reportagem).
“O incidente resultou na morte de mais de 233 mil espécimes de peixes (em estimativas conservadoras) na região urbana de Piracicaba em 7 de julho e na Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã em 15 de julho”, diz a nota da Cetesb.
Milhares de peixes mortos no Rio Piracicaba
g1
Conforme o relatório, obtido com exclusividade pela EPTV, afiliada TV Globo, o valor é a maior multa por esse motivo aplicada na cidade e uma das maiores do estado nos últimos dez anos, pelo menos.
Sobre o relatório, a Usina São José informou que recebeu o documento e avalia o teor da decisão e seus desdobramentos. “A empresa esclarece ainda que adota as melhores práticas do ponto de vista ambiental e não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público.”
O que diz a usina?
A EPTV e o g1 tentaram contato com a Usina São José S/A Açúcar e Álcool por vários dias desde a primeira mortandade. Em nota, mais atualizada, enviada na noite desta sexta-feira (19), a empresa afirma que:
A Usina São José afirmou, em nota, que segue à disposição das autoridades e “não poupa esforços para colaborar plenamente”. Também diz que, até o momento, não recebeu evidências que demonstrem relação entre suas operações e a mortandade de peixes.
A empresa cita que um termo de vistoria ambiental da Polícia Militar Ambiental de 8 de julho conclui não ter havido “apontamento de danos ambientais no ato da vistoria”.
Também diz que o mesmo documento aponta a existência de uma galeria pluvial sob a Ponte do Funil, a 12 quilômetros da usina, que estaria “despejando um líquido perene com volume alto, amarelado e odor forte, através de uma manilha de plástico de 10 polegadas”. Segundo a Cetesb, esse despejo não tem relação com a usina e não é a causa da mortandade de peixes.
A empresa acrescenta que não tem produção de etanol e, portanto, não gera a vinhaça, subproduto presente em vários dos casos registrados anteriormente. E que o relatório não menciona inspeção e monitoramento em empresas que tenham sido autuados anteriormente, nem em outros trechos do rio onde possa ter havido eventuais despejos irregulares.
Prefeitura define plano para retirada de peixes mortos no Tanquã prevista para esta sexta
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