Moda circular e sustentável ganha popularidade por meio de brechós no centro-oeste paulista


O consumo em brechós é algo presente na vida dos moradores de Bauru (SP). Brechós em Bauru (SP) estão cada vez mais populares entre os moradores
Marco Previdello/TV TEM
As compras de roupas de “segunda mão” aumentaram nos últimos anos e também cresceu o número de brechós. De acordo com pesquisa divulgada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em 2023, o Brasil possuía 118.778 brechós em pleno funcionamento.
No centro-oeste paulista, mais especificamente, em Bauru (SP) o cenário se assemelha com o do país. Pela cidade e redes sociais é visível o aumento de brechós, entretanto não é possível contabilizar, pois muitos são “caseiros” como por exemplo, na garagem de uma casa.
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Na cidade há dois principais tipos de bazar, os solidários promovidos por instituições para arrecadar recursos para manutenção dos serviços. E os comerciais, geralmente gerenciados por pequenos empreendedores, que buscam outras formas de sustento ou complemento da renda.
Segundo Daiana da Silva Segala, operadora de triagem das doações no brechó de uma instituição sem fins lucrativos de Bauru, todas as doações recebidas acabam por ter um destino que auxilia o próximo e faz a moda e economia serem circulares.
“Aqui na nossa instituição, recebemos as doações, separamos as peças de acordo com a qualidade delas e as designamos para o brechó ou para atender os projetos sociais desenvolvidos aqui, e no final os recursos arrecadados são destinados para a manutenção da instituição”, explica Daiana.
No cenário de pequenos empreendedores, Simone Forato, é dona de um brechó em Bauru e em entrevista à TV TEM, contou que seu negócio surgiu em um momento de dificuldade.
“Foi através de uma dificuldade financeira, que surgiu uma oportunidade no começo da moda dos desapegos, e então, eu comecei a vender as minhas próprias roupas e foi exatamente assim que surgiu o meu negócio. Nunca imaginei que se tornaria minha principal fonte de renda”.
Ambos tipos de brechós recebem um público cada vez maior e diverso, segundo Simone Forato, o bazar atende clientes de todas as idades, moradores de Bauru e até de outras cidades como as da região e até de outras partes do Brasil. “É um conceito que as pessoas realmente mudaram sua concepção sobre, percebo que desde as mais jovens até as pessoas mais velhas estão aderindo ao brechó e a moda circular”.
A jovem Thais Menegazzo, é designer gráfica e consumidora de brechós, para a equipe da TV TEM, ela relatou que encontra com facilidade peças e acessórios mais próximos ao seu estilo pessoal. “Os brechós de Bauru são muito bons e valem muito a pena, possuem um ótimo custo benefício”.
Em entrevista ao G1, Iris Manfrinato, bauruense, jornalista e criadora de conteúdo para as redes sociais sobre moda circular e sustentável, destaca que outro ponto relevante nesta discussão é a importância de conhecer o seu próprio estilo.
“Nesse contexto, enfatizo que o autoconhecimento do seu próprio estilo, influencia diretamente no consumo consciente e sustentável, e possibilita reduzir o ato de comprar peças apenas por ser uma tendência de moda”.
A moda é circular e sustentável
Uma maior procura por brechós, promove também, uma maior abertura para discussões sobre conceitos ligados à economia, redução de resíduos e poluição, conscientização e busca por um futuro mais sustentável.
Um termo em crescente nas buscas é o slow fashion ou em português “moda lenta”, tem ganhado popularidade. Segundo dados do Google Trends, o termo apresentou um aumento no número de buscas a partir do período da pandemia de Covid-19.
Crescente interesse na busca pelo termo slow fashion
Google Trends
O slow fashion anda em conjunto com a moda circular, ambos debatem a importância de minimizar o desperdício, a poluição e a utilização dos recursos naturais, indo contra o conceito de fast fashion, em português “moda rápida”, é praticado pelas grandes marcas de roupas no mundo todo.
Valéria Cristina Beltrame, analista de negócios do Sebrae em Bauru, reforça que a busca pela sustentabilidade faz a peça de roupa circular mais tempo na economia e não ser descartada após usar uma ou duas vezes. “Esse movimento é contrário ao fast fashion, os brechós possibilitam uma durabilidade maior dessas peças nas mãos de outras pessoas”.
Resumidamente, a moda circular baseia-se em produzir roupas para a longevidade, com a utilização de materiais sustentáveis, a redução de resíduos, adoção de fontes sustentáveis de energia e principalmente o consumo cíclico das roupas.
Este consumo cíclico, ou seja, a cultura de brechós, de doar ou vender por um preço simbólico aquela peça que não possui mais utilidade para você. “Frequentemente separo o que não uso mais ou então que não me serve mais, e faço uma doação para brechós de instituições sem fins lucrativos na cidade”, compartilhou a servidora pública, Renata Aguiar, para a equipe da TV TEM.
“As roupas e acessórios que não me servem no momento podem ser úteis para outra pessoa”, reforça.
Veruza Fogaça, contadora, também é consumidora de brechós da cidade de Bauru, e concorda com a importância das peças doadas estarem em bom estado de conservação.
“As pessoas ao doar roupas em boas condições, elas fazem de fato esta moda ser circular. O que não me serve pode servir para o outro”.
Cada vez mais os consumidores buscam por itens diversos e Brechós
Marco Previdello/TV TEM
Empreendedores
Esse movimento ainda impulsiona empreendedores e movimenta a economia de cidades como Bauru, o Sebrae faz recomendações para quem pretende empreender no cenário de brechós:
pesquisar sobre o mercado e o cenário no local em que pretende abrir;
verificar onde será feita a captação de peças
ter cuidado com a curadoria das peças (como higienização e pequenos reparos)
se atentar ao cuidado com o visual do local, caracterização e organização das peças, para dar uma característica visual de brechó, e não parecer como um depósito de roupas usadas
O brechó de Simone é um exemplo que o negócio próprio teve em sua vida e também destaca que o contato com a moda circular e sustentável transformou a vida dela.
“Antes eu tinha três guarda-roupas gigantes, lotados de peças e acabava utilizando apenas meia dúzia. Hoje tenho apenas um guarda roupa no qual sei todas as peças que estão lá. Sempre que uma peça entra, outra tem que sair. Levo esse lema comigo, hoje vivo bem melhor”.
Novas gerações
Ainda segundo a analista de negócios do Sebrae , o preconceito por usar peças de segunda mão tem diminuído entre os jovens, principalmente entre a geração Z. “Essa geração mais jovem não tem o preconceito de usar peças de segunda mão, aliado ao custo benefício e a preocupação com o sustentável”, destaca Valéria.
Geração Z tem papel fundamental no crescimento da moda circular e consumo em brechós
Marco Previdello/TV TEM
Também com foco em abordar o tema com as gerações novas, o perfil criado por Iris Manfrinato, tem o objetivo de informar e divulgar temas relacionados à moda consciente e contribuir para que as pessoas tenham cada vez mais uma relação saudável com a moda.
Segundo Iris, com o perfil, ela busca trazer a discussão sobre, “diversos temas relacionados à sustentabilidade, projetos regionais, nacionais e mundiais, brechós e ações que apoiam a moda circular”.
A jornalista ainda compartilha sua experiência ao comprar em brechós da cidade de Bauru.
“Acredito que a melhor forma de encontrar peças é garimpando, existem peças com um potencial enorme nos brechós, seja naquele que você acompanha pelas redes sociais ou aquele que é uma portinha no centro da cidade, vale ir em todos!”.
Impacto da moda no meio ambiente
Segundo dados da Agência Brasil, a indústria da moda é a segunda maior poluente do mundo, atrás apenas da petrolífera. Nos últimos anos, mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis já foram descartados, apontam dados levantados pela Global Fashion Agenda.
Ronaldo Fraga é um designer de moda brasileiro, e em entrevista ao programa Provoca, em julho de 2022, da TV Cultura, afirma que a produção acelerada, ou seja, o consumo pelo consumo é prejudicial.
“Se a gente parasse de produzir roupa agora, teríamos roupas, tênis, entre outros, por mais uns 300 anos”, afirma Ronaldo Fraga.
Um dos principais destinos para essas roupas e resíduos, é o deserto do Atacama, localizado no norte do Chile. As peças são enviadas ao Chile para serem revendidas e chegam de diversos lugares como Estados Unidos, Europa e Ásia.
Lixão têxtil no deserto do Atacama, Chile.
Profissão Repórter
Neste contexto, urge a necessidade de reduzir a produção de lixo têxtil, pois a decomposição das roupas podem levar até centenas de anos.
Os brechós se tornam uma ótima oportunidade de colaborar com o meio ambiente e com a redução do consumo. Nesse contexto, Iris ressalta a importância de fazer a diferença mesmo que em pequenas ações.
“Não podemos ser ingênuos em dizer que consumindo de brechós iremos acabar com os problemas da indústria da moda, mas que promove uma grande ajuda, é verdade. Existem muitos pontos importantes ao comprar roupas em brechós, como a contribuição com a moda circular, o aumento do ciclo de vida de uma peça, o apoio ao comércio local de pequenos empreendedores, o desestímulo de uma produção excessiva, e ainda pode encontrar peças únicas com um valor que cabe no seu bolso”, completa a jornalista.
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