Conflito fundiário entre indígenas e fazendeiros sofre escalada de tensão em Douradina (MS)


Força Nacional, Polícias Militar e Federal e representantes de órgãos de proteção estão no local. Deputados federais e estaduais tentam mediar conflito por terra, reivindicada como ancestral pelos indígenas. Focos de incêndio na área de conflito em Douradina (MS).
Cimi/Reprodução
Há uma semana, indígenas guarani kaiowá e fazendeiros estão em conflito fundiário, na área rural de Douradina (MS), a 191 km de Campo Grande. Neste sábado (20), a tensão no local tem escalado, conforme relatos de representantes dos povos originários e dos produtores rurais.
Para os indígenas, a área disputada é chamada de Panambi-Lagoa Rica e é reivindicada como território ancestral. Já os produtores rurais alegam serem proprietários legais da área utilizada para produção de commodities no ramo da agricultura.
⚠️Contexto: o conflito segue desde o dia 13 deste mês, quando um indígena foi baleado na perna por uma bala de borracha. Enquanto indígenas afirmam serem donos ancestrais da área, fazendeiros alegam serem proprietários legais da terra. Polícias Militar e Federal, representantes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), militares da Força Nacional e promotores do Ministério Público Federal (MPF) estão no local de conflito para manter a segurança e chegar a um acordo entre as partes.
Nas redes sociais, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) afirma que os indígenas que estão na área de conflito são ameaçados por supostos capangas armados. O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) confirma que dois indígenas foram feridos por armas com munição de borracha nestes últimos dias de conflito.
De um lado, os indígenas montaram acampamento para reivindicar a terra. Do outro, fazendeiros posicionaram grandes caminhonetes em frente à área ocupada por vários indígenas da etnia guarani kaiowá.
Jovem de 18 anos atingido por bala de borracha.
Reprodução
Escalada de tensão
Vídeo mostra momento em que motorista em caminhonete atira contra indígena em MS
Durante a madrugada deste sábado, focos de incêndios foram registrados na área de Panambi-Lagoa Rica. Polícia Militar e o Ministério dos Povos Indígenas não souberam afirmar a autoria do fogo na região, que foi contido ao longo do dia.
O cerco de tensão começou a se formar nos últimos dias, quando um indígena guarani kaiowá foi atingido com uma bala de borracha na perna. No vídeo mais acima é possível ouvir o disparo (assista ao registro).
Sem negociação há 7 dias, a secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) enviou um helicóptero com policiais militares e um representante do MPF para sobrevoar a área de conflito. Em terra, a segurança para evitar confrontos é feita pela Força Nacional e Polícia Federal.
“Nosso objetivo é mediar uma transição eventual para uma saída, uma desocupação. Nosso objetivo principal é evitar o confronto. Nós estamos com diversas equipes atuando para a segurança de todas as partes no local”, frisou o secretário da Sejusp, Antônio Carlos Videira.
O deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) e a deputada estadual Gleice Jane (PT-MS) também estão no local do conflito.
Deputado Marcos Pollon postou vídeos e fotos nas redes sociais.
Marcos Pollon/Redes sociais
A coordenador geral do departamento de mediação e conciliação de conflitos fundiários do MPI, Daniela Alencar, esteve em Douradina ao longo da semana. A representante do ministério destaca a atuação para prevenir confrontos.
“Seguimos no local para garantir segurança. A terra reivindicada pelos indígenas é reconhecida desde 2011, são 12 mil hectares reconhecidos como terra ancestral. A terra não foi demarcada, por causa do processo. Porém, não há nenhuma determinação de reintegração de posse por parte da Justiça”, apresenta Daniela.
Conflitos
Indígenas pedem por fim do conflito.
Reprodução
Um indígena guarani kaiowá foi baleado durante um conflito por terra, no fim de semana. Ao g1, a Polícia Civil informou que um grupo com pelo menos oito de indígenas invadiu uma propriedade, que fica dentro da área reclamada. Os proprietários teriam, então, utilizado bombas e fogos de artifício para expulsar os guarani kaiowá.
Após o conflito, a Funai informou que fez contato com lideranças da região que confirmaram que um homem foi baleado na perna e levado para o hospital em Dourados. A Polícia Civil, entretanto, disse que não foi informada de que um indígena teria sido baleado.
Em nota, a Defensoria Pública da União (DPU) informou que acompanha com preocupação o caso e acionará o Conselho Nacional de Direitos Humanos para acompanhamento. Além de solicitar ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) agentes para fazer o policiamento no local do conflito.
“A principal preocupação neste momento é com a vida e a integridade física das pessoas que estão no local”, destaca a defensora Daniele Osório.
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