A seis meses do fim do mandato, Nunes cumpriu 48% das promessas de campanha


Levantamento do g1 considera 58 compromissos assumidos durante a campanha eleitoral de 2020 à Prefeitura de SP. Os dados mostram, ainda, que 36% das promessas foram cumpridas parcialmente e 15,5% ainda não foram cumpridas. Prefeito Ricardo Nunes em evento na prefeitura nesta sexta-feira (17)
Aline Freitas/g1
Em três anos e meio de gestão Bruno Covas/Ricardo Nunes na Prefeitura de São Paulo, foram cumpridas 48% das promessas feitas durante a campanha eleitoral, em 2020.
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AS PROMESSAS DE COVAS E NUNES
Ao todo, foram feitas 58 promessas referentes a administração pública, direitos humanos, economia, educação e cultura, habitação, infraestrutura, meio ambiente, mobilidade urbana, saúde e segurança pública. Entre 1º de janeiro de 2021 e julho de 2024:
28, ou 48%, das promessas foram cumpridas
21, ou 36%, foram cumpridas em parte
9, ou 15,5%, não foram cumpridas
Os compromissos:
Foram feitos pelos candidatos em entrevistas, debates, documentos e agendas eleitorais sobre diversos temas: economia, educação, saúde, segurança pública, entre outros.
O g1 levantou tudo o que foi prometido e separou o que poderia ser claramente cobrado e medido. Veja os critérios.
Depois, o g1 acompanhou o andamento destas promessas e publicou levantamentos regulares entre 2019 e 2022. Esta reportagem é o balanço final dos compromissos de campanha (veja abaixo a metodologia).
Visibilidade das promessas
Para Igor Pantoja, coordenador de relações institucionais da Rede Nossa São Paulo, as que foram cumpridas foram promessas que não são vistas ou usadas pela população.
“A prefeitura conseguiu realizar mais entregas, mas a questão é pensar a qualidade dessas entregas, essas promessas e o modelo que foi feito. Essa gestão aprofundou muito mais o modelo de privatizações, muito pouco controle social, baixa participação da sociedade em elaboração de políticas públicas”, afirma o especialista.
Pantoja destaca que “não adianta você entregar números impactantes e não conseguir visualizar para onde essas melhorias foram”. “A gente faz pesquisas anuais que mostram que em torno de 60% das pessoas dizem que sairiam da cidade, então é um termômetro para avaliar a qualidade de vida na capital.”
Entre as 28 promessas cumpridas, muitas são projetos administrativos, algo que não fica “visível” para a população.
O maior número de promessas, durante a campanha, foi feito na área de mobilidade urbana: 10 compromissos. Foi também a área com mais promessas não concluídas: 5 do total de nove que ficaram pendentes.
“É importante manter as promessas de nível de serviço, que é uma área que a prefeitura investiu muito nos últimos anos. Mas essa gestão não tem uma visão de cidade, a gente vê que não tem uma perspectiva de cidade propriamente dita. Tem compromissos com setores do eleitorado, entregas setoriais, mas não tem uma visão clara de cidade – então será que avançamos como cidade? Tenho dúvidas”, completa.
Para Cibele Franzese, doutora em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), quatro anos é muito pouco tempo para fazer coisas relevantes para a cidade, mas é preciso observar se as promessas que foram compridas vão impactar ou não a vida da população.
“O ideal seria realmente que o candidato já assumisse o governo com um plano pronto para ser implementado. Para não chegar e ficar pensando no que pode fazer. O Nunes herdou o governo que ele já conhecia, já sabia o que estava acontecendo, então não pode ser surpreendido por nada para fazer uma promessa irreal. Facilita para você prometer aquilo que dá conta de fazer”, afirma.
“Os políticos têm muito problema de prometer, concluir, entregar, mas muitas vezes essas entregas não resolvem os problemas que a gente tem. A cidade tem problemas crônicos que persistem há muitos anos, mas que não vão ser resolvidos porque não entram nas metas dos governos. Então é como se entrasse uma cortina de fumaça e escondesse os problemas reais”, completa.
O que foi feito?
Público aproveita manhã de calor e sol forte no Parque Augusta, no Centro de SP
ALLISON SALES/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO
Para os especialistas, o que foi feito pela prefeitura são promessas “fáceis” de ser cumpridas ou que já estavam nos planos das gestões anteriores, como repasses de verbas para determinadas áreas, contratação de funcionários, expansão de programas que já existiam e aumento de vagas em instituições de ensino.
A prefeitura também inaugurou os parques Augusta e Paraisópolis.
O Parque Paraisópolis foi inaugurado para a comunidade em 18 de setembro de 2021, após 13 anos de espera. A finalização da obra teve seis meses de atraso e custou R$ 519 mil a mais que o projeto original, totalizando R$ 2,9 milhões. Já o Parque Augusta foi inaugurado em 6 de novembro de 2021, com quase um ano de atraso.
“Quando uma gestão vai fazer metas, promessas, elas são todas de entregas, então ninguém quer se comprometer com a efetividade – que impacta na vida do cidadão, mas tudo que o cidadão quer é efetividade. Melhorar a educação todo mundo vai dizer que vai, mas quando você coloca um indicador e uma meta é quando você descobre o que é melhorar a educação”, afirma Cibele.
Mobilidade urbana
Ciclista atravessa o corredor de ônibus por ciclovia da avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, na zona sul de São Paulo
Marcelo Brandt/G1
Das 9 promessas não cumpridas, 5 delas são da área de mobilidade urbana, como:
Construir seis terminais de ônibus: São Paulo tem atualmente 32 terminais de ônibus espalhados pelas regiões da cidade, mas nenhum deles foi inaugurado entre 2021 e 2024.
Entregar o BRT (Bus Rapid Transit) na Zona Leste: O Bus Rapid Transit (BRT) na Zona Leste ainda não foi entregue. Em abril de 2024, a prefeitura publicou a abertura da licitação para contratação das obras no trecho de 13,6 km, da Radial Leste até o Terminal São Mateus. Entretanto, a licitação foi suspensa em junho para adequação dos termos do edital. A gestão atual não informou o prazo para o início das obras.
Duplicar a estrada do M’Boi Mirim: A estrada do M’Boi Mirim ainda não foi duplicada. Em março de 2024, o Departamento Estadual de Rodagem (DER) e a prefeitura assinaram contrato de transferência da gestão das obras de melhoria e duplicação da Estrada do M’Boi Mirim para a administração municipal, além do repasse de R$ 330 milhões. A gestão atual afirmou que vai dar prosseguimento à obra e ao processo de desapropriação no trecho de 6,3 km que pertence à capital, porém não informou prazos.
Concluir o complexo viário Pirituba-Lapa: A obra foi iniciada em 2019, mas foi paralisada pela Justiça por falta de licença ambiental adequada ao novo projeto, a pedido do Ministério Público. Em janeiro de 2024, a prefeitura anunciou a retomada da construção do complexo viário Pirituba-Lapa. Com prazo de execução previsto para dezembro de 2026, as obras contam com um investimento municipal de R$ 367 milhões. Questionada, a gestão não informou se já deu início às obras.
Reduzir o subsídio às empresas de ônibus: A gestão atual não diminuiu o subsídio para o patamar de R$ 2,5 bilhões, conforme previa a promessa.
Para o especialista, a área da mobilidade seria a que mais impactaria diretamente a vida da população paulista.
“Falando de transporte público, que a maioria da população usa, ficou essa marca negativa. Como o transporte público foi negligenciado, teve aumento da população, mas não da malha de transporte coletivo, isso significa uma piora do serviço”, afirma Pantoja.
Ele reforça que promessas que beneficiam o transporte individual tiveram mais investimentos durante a gestão.
Em mobilidade, apenas uma das 10 promessas foi cumprida completamente, a de criar o Aquático, um sistema de transporte público por barcos nas represas da cidade, integrado ao Bilhete Único.
Quatro foram cumpridas em parte:
Expandir a malha cicloviária e inaugurar bicicletários públicos
Ampliar em mais de 400 km as vias atendidas por linhas de ônibus no município e diminuir o tempo médio das viagens
Entregar o corredor de ônibus Itaquera
Reformar 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas
Para Cibele, a área de mobilidade urbana pode ter sido a menos afetada não por falta de orçamento, mas porque áreas de estruturas são mais difíceis de entregar, já que exige a junção de diversas áreas.
“[Requer] a participação de outros atores e [envolve] questões mais complexas para a execução. Então é uma coisa complexa, tem vezes que alguém ganha uma licitação e não consegue executar. Porém, como ele [Nunes] herdou um governo que já conhecia, isso faz com que ele já conhecesse o que a Prefeitura seria capaz de entregar.”
Metodologia do projeto
O g1 acompanha durante os quatro anos de mandato os cumprimentos das promessas de campanha dos políticos.
As equipes de reportagem levantam tudo o que pode ser cobrado e medido. Isso quer dizer que compromissos muito genéricos ou que não podem ser medidos de forma objetiva não são considerados no projeto.
Por conta desta metodologia, não é possível comparar a quantidade e o andamento dos compromissos feitos pelos então candidatos.
Quais são os critérios para medir as promessas?
Não cumpriu ainda: quando o que foi prometido não foi realizado e não está valendo/em funcionamento.
Em parte: quando a promessa foi cumprida parcialmente, com pendências.
Cumpriu: quando a promessa foi totalmente cumprida, sem pendências.
Ou seja, se a promessa é inaugurar uma obra, o status é “cumpriu” apenas se a obra já tiver sido inaugurada; caso contrário, é “não cumpriu”. Se a promessa é construir 10 hospitais e 5 já foram inaugurados, o status é “em parte”. Se a promessa é inaugurar 10 km de uma rodovia e 5 km já foram entregues à população, o status é “em parte”.
Observação: há casos em que não é possível avaliar o andamento da promessa, e o status é dado como “não avaliado”.
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