Uma das espécies de cágado mais ameaçadas do mundo é encontrada no ES


Animal foi encontrado em floresta em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo. Uma das causas que levaram à ameaça da espécie Ranacephala hogei é o aumento dos desmatamentos próximo a rios. Espécie de cágado ameaçada de extinção é encontrada em floresta em Cachoeiro
Uma das espécies de cágado mais ameaçadas de extinção do mundo foi encontrada na Floresta Nacional de Pacotuba, no interior de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo. O animal, o Ranacephala hogei, é endêmico da Mata Atlântica. Ele faz parte de uma lista mundial das 25 espécies de água doce mais ameaçadas e também é o único cágado ameaçado de extinção no Brasil.
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A descoberta foi feita por uma equipe de pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN) do Instituto Chico Mendes (ICMBio).
Após observação da região, os pesquisadores concluíram que a espécie está desovando na área preservada da unidade, tornando a Flona de Pacotuba a primeira unidade de conservação federal do Brasil a ter ocorrência de desova do cágado.
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A principal causa de sua redução na natureza é devido ao desmatamento na região da mata ciliar, florestas de vegetação nativa que ficam às margens de rios, sendo essenciais para a proteção de áreas de lagos e rios.
O local onde o cágado foi encontrado fica a alguns quilômetros do centro da cidade. São 459 hectares de área preservada de Mata Atlântica.
Espécie de cágado ameaçada de extinção é encontrada em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
A chefe do parque, Augusta Rosa Gonçalves, disse que vários critérios determinam o grau de ameaça de extinção dos animais.
“O nível de ameaça de uma espécie é analisado de acordo com uma determinada área, por exemplo, o Espírito Santo tem a lista dele, o Brasil e o mundo, também. Aí um grupo de especialistas pega um conjunto de espécies de mamíferos e aves e se reúnem para analisar com critérios e definem se a espécie está ameaçada ou não. O nível de criticidade pode ser de número de indivíduos na natureza, a região onde ele está, onde ele ocuparia e onde ele está ocupando hoje e o número de registros que os pesquisadores. Além do grau de ameaça. Por exemplo, se é uma espécie terrestre, é analisado como o desmatamento ou incêndios podem afetá-la”, pontuou.
Descoberta importante
Para poder fazer o registro da espécie, pesquisadores de outros estados viajaram até o Espírito Santo.
“Vieram pesquisadores de Goiânia de um Centro Especializado para Anfíbios e Répteis do ICMBio. E eles vieram com o intuito de verificar a ocorrência desse cágado aqui na região da bacia do Rio Itapemirim”, explicou a bióloga do ICMBio, Aline Pereira Mota.
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Para conseguir localizar o animal, a estratégia utilizada pelas equipes foi a de montar armadilhas aquáticas.
“Nós montamos as armadilhas e monitoramos por quatro dias. E para nossa surpresa, no primeiro dia a gente já conseguiu encontrar dois indivíduos dessa espécie nas armadilhas”, contou a bióloga.
Cágado encontrado em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, está na lista das espécies mais ameaçadas do mundo
Reprodução/TV Gazeta
Durante a atividade, os pesquisadores se surpreenderam ao encontrar uma fêmea com idade de aproximadamente 40 anos que estava carregando ovos que seriam botados logo depois.
Um dos animais encontrados tinha marcas de feridas que os biólogos acreditam que foram causadas por anzol de pesca.
“Uma foi bem marcante porque ela estava sem parte da narina, então provavelmente ela foi pescada por um anzol. E aí, às vezes, as pessoas não sabem manusear corretamente para retirar o anzol de forma cuidadosa e acaba ferindo o animal. Nós estamos começando um trabalho de educação ambiental com a comunidade do entorno e os pescadores, isso por que se pescar o animal no anzol ou rede, a pessoa precisa saber a forma correta para retirar o anzol e devolver o animal imediatamente para a natureza. Ele é resiliente e vai conseguir se recuperar, mas tem que ser de forma cuidadosa para tentar não prejudicar a vida dele”, pontuou.
Prevenção
Uma preocupação dos pesquisadores com a sobrevivência do cágado na floresta é em relação a uma estrada que corta o local.
Câmeras foram instaladas para monitorar o comportamento do cágado em floresta no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
Algumas espécies tendem a colocar os ovos longe das margens do rio e precisam atravessar a rodovia, o que pode apresentar um risco.
“A maioria das espécies procura um lugar mais seguro para desovar, então, ele se afasta das margens dos rios. Provavelmente, essas fêmeas estão precisando atravessar a rodovia para conseguir desovar. A gente instalou câmeras trap para monitorar o descolamento desse indivíduo na hora da postura de ovos e também o monitoramento dos filhotes ao retornar para o rio. Agora, a gente está começando um estudo para começar a entender melhor os hábitos desse animal”.
William Moreira é biólogo e também trabalha na floresta. Ele explica que a unidade abriga animais ameaçados de extinção, como a jaguatirica, o macaco bugio, dentre outros, além de espécies da flora que também estão ameaçadas.
“A gente tem mais ou menos de 20 a 30 espécies de plantas que estão passando por algum tipo de ameaça. Na natureza, tudo está em conexão, existe um perfeito equilíbrio. Por vezes, a gente imagina que talvez um animal tão pequeno não tenha importância, mas não, ele tem uma importância muito grande”, completou o biólogo.
Animal foi encontrado na Floresta Nacional de Pacotuba, em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
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