Ossos de animais indicam presença humana anterior à estimada na América do Sul


Em novo estudo com fósseis de um grande parente do tatu, pesquisadores sugerem a presença de humanos na América do Sul há cerca de 21 mil anos, antes do estimado anteriormente. Antropólogo colombiano Miguel Delgado segura osso fossilizado de um Glyptodonte no Museu de Ciência Natural de Buenos Aires, Argentina.
REUTERS/Mariana Nedelcu
Ossos fossilizados de um parente grande do tatu encontrados na Argentina com marcas de corte sugerindo abate indicam que humanos estavam presentes na América do Sul cerca 21 mil anos atrás, de acordo com pesquisadores, período anterior ao estimado anteriormente.
Os ossos eram de um mamífero herbívoro com armadura de tamanho grande chamado Neosclerocalyptus, parte de um grupo chamado glyptodontes que habitou as Américas por mais de 30 milhões de anos antes de serem extintos no fim da Era do Gelo, cerca de 10 mil anos atrás.
Os pesquisadores afirmaram que os cortes nos ossos parecem ter sido feitos por pessoas utilizando instrumentos de pedra. Isso indica forte evidência da presença da nossa espécie, Homo sapiens, ainda que nenhum fóssil humano tenha sido encontrado no sítio.
Os glyptodontes são parentes dos atuais tatus, ainda que muito maiores — algumas espécies chegavam a ter o tamanho de um carro pequeno. Eles tinham uma armadura óssea grande, que lembra um casco de tartaruga, assim como uma espécie de capacete, além de uma forte cauda e membros curtos.
Os Neosclerocalyptus eram uma das menores espécies. O indivíduo nesse estudo tinha 180 cm de comprimento e pesava cerca de 300 quilogramas.
As marcas no osso foram encontradas na regiões da pélvis, da cauda e da sua armadura.
“O local dos cortes é consistente com a sequência de abate que foca em regiões com muita carne, ou seja, os cortes não estavam distribuídos de maneira aleatória, mas focados nos elementos do esqueleto que continham grandes grupos musculares como a pélvis e a cauda. É um padrão típico visto no processo de abate de animais,” disse o antropólogo Miguel Delgado, da Universidade Nacional de La Plata, autor sênior do estudo publicado nesta quarta-feira no jornal PLOS ONE.
Os formatos dos cortes também são consistentes com aqueles criados utilizando tipos de ferramentas de pedra lascada e martelos de pedra, acrescentou Delgado.
O antropólogo e líder do estudo Mariano del Papa, da Universidade Nacional de La Plata, disse que “os únicos capazes de fazer (esse tipo de marcas) são os humanos.”
A linha do tempo para ocupação das Américas é um tema de intenso debate, com algumas descobertas recentes indicando que os humanos chegaram muito antes do que estimado inicialmente. O papel dos humanos na extinção de diversos grandes mamíferos nas Américas também foi objeto de controvérsia. Os fósseis do Neosclerocalyptus estão entre as evidências mais antigas da interação humana com esses grandes animais da Era do Gelo.
“Até pouco tempo atrás, o modelo tradicional sugeria que os humanos modernos (Homo sapiens) entraram nas Américas 16 mil anos atrás, então a maior parte da evidência arqueológica foi colocada dentro daquele período. Nos últimos anos, novas evidências indicam presença humana anterior”, disse Delgado.
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