Africanos que moram no Paraná fazem sucesso nas redes sociais com vídeos educativos e bem-humorados sobre diferenças culturais: ‘Desmistificar estereótipos’


Casal de gêmeos nigerianos se uniu a uma amiga natural de São Tomé e Príncipe para criar conteúdos na internet. Trio mora em Ponta Grossa há 13 anos e também empreende em nichos relacionados às próprias culturas. Africanos que moram no Brasil fazem sucesso com vídeos educativos e de humor sobre diferen
Três africanos que moram no Brasil há treze anos estão fazendo sucesso nas redes sociais com vídeos educativos e bem-humorados em que apontam diferenças culturais e explicam tradições das próprias origens, buscando, segundo eles, “desmistificar estereótipos”.
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Os gêmeos Temitope Jane Aransiola e Temidayo James Aransiola são naturais da Nigéria e Genifá Teixeira é de São Tomé e Príncipe.
Eles expõem visões pessoais sobre as condições e costumes africanos, como na postagem “Pobreza ou modo de vida?”.
Falam sobre curiosidades do cotidiano, receitas e diferenças entre idiomas do continente africano, além de relatarem o que mais os “chocaram” por aqui, como na série “Coisas que ninguém te conta quando você vem para o Brasil”. Assista a exemplos acima.
“Percebemos que muita gente ainda tem uma visão superficial e ultrapassada sobre a África. Nosso objetivo? Desmistificar esses estereótipos e trazer nossas vivências autênticas para que todos possam ver a África e os africanos com novos olhos”, relatam, na página.
A repercussão foi além do que eles imaginavam: depois de uma pausa de dois anos nas postagens, eles voltaram a produzir conteúdo para as redes sociais neste ano, e o número de seguidores passou de quase 5 mil para cerca de 100 mil no Instagram, entre maio e junho.
“Aí a gente percebeu, de fato, que as pessoas procuram essa informação. As pessoas querem saber sobre a cultura africana – e, para nós, isso foi algo muito gratificante”, avalia James.
Como tudo começou
Os três têm 32 anos de idade e se mudaram em 2011 para Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, para estudar na universidade estadual da cidade (UEPG) através de um programa governamental.
Eles se conheceram na graduação e, depois de terminarem os estudos, abriram um salão de beleza especializado em tranças afro.
Depois, surgiu a ideia de investir na venda de peças de moda praia com estampas típicas – e, com isso, começaram a gravar vídeos para a internet durante a pandemia.
As produções pararam após o fim do isolamento e foram retomadas em 2024 – quando, então, começaram a viralizar. Saiba mais abaixo.
O nome escolhido para o projeto é “Temini”, palavra em iorubá que, para eles, traz a ideia de “minha cultura que compartilho com você”.
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O que se sabe sobre a Àfrica
Em entrevista ao g1, os africanos contaram que tiveram a ideia de começar a criar conteúdo após ver como a própria cultura é entendida no Brasil.
“Sempre foi a ideia de compartilhar, porque nós sendo estrangeiros – ainda mais de países africanos – eu creio que, mais no primeiro ano, a gente se chocava muito com determinadas questões ou afirmações que faziam sobre os lugares de onde nós viemos. Por isso que a gente sempre teve essa ideia de que tem que passar [conhecimento]. Porque o conhecimento que as pessoas têm é muito limitado e muito errado”, avalia Genifá.
James complementa ressaltando que eles usaram como mote do mês de maio, quando é celebrado o Dia Mundial da África, para se dedicar à retomada da página que ficou parada por quase dois anos.
“A gente sempre teve essa ideia de compartilhar, em todos os sentidos, para acabar com o estereótipo, com o preconceito, porque querendo ou não, o preconceito é desconhecimento. Se você não conhece uma coisa é fácil criar um conceito ou se alimentar de um conceito que não é o correto”, destaca o nigeriano.
‘Preconceito é desconhecimento’, afirmam africanos que moram no Brasil
Interação entre as culturas
E, para o trio, o engajamento nas redes sociais é ainda mais importante do que o número de seguidores, principalmente, pela troca de experiências e interações com quem tem interesse pela cultura deles.
“A gente aprende algumas coisas que não sabia também… Realidades que a gente vivia lá e que não imagina são compartilhadas por outras pessoas aqui no Brasil”, destaca Jane.
Temitope Jane Aransiola e Temidayo James Aransiola são naturais da Nigéria e Genifá Teixeira é de São Tomé e Príncipe
Reprodução/Redes Sociais
Conteúdos diversos
Os conteúdos são diversos na página dos africanos.
Eles falam sobre manifestações culturais, personalidades do continente de origem, diferenças e semelhanças entre os países de onde vieram, experiências pelas quais passaram no Brasil, costumes brasileiros que acabaram adotando, entre outros temas.
Em alguns vídeos, Genifá, Jane e James também convidam amigos – brasileiros e de outros países africanos – para fazer “batalhas de idiomas” e debater como cada cultura trata de determinados temas.
James, que é mestre e doutor em Economia, afirma que a preferência dele são conteúdos que geram polêmicas, como apropriação cultural e religião, por exemplo.
Jane, formada em Jornalismo, conta que gosta de variar, mas costuma produzir bastante conteúdo relacionado à linguística – tema pelo qual se especializou em mestrado e doutorado.
Já para Genifa, graduada em Administração, temas “mais leves”, como ela classifica, são os favoritos: “Comédia, idiomas, rotinas…”, exemplifica.
Conteúdos são diversos na página dos africanos
Reprodução/Redes Sociais
Identificação racial e oportunidade de negócio
O que começou como brincadeira e gentileza se tornou um negócio para o grupo de amigos.
Jane e Genifá contam que decidiram abrir um salão de beleza especializado em cabelos afro em Ponta Grossa após perceberem um nicho de mercado e um estigma em relação ao estilo.
“Com o passar do tempo, percebemos que muitas meninas, adolescentes, tinham problema com a aceitação do próprio cabelo, mais na questão de se acharem feias. Eu acho que o estopim foi quando fomos num evento de uma comunidade quilombola e vermos que isso realmente acontece, porque ao chegar e fazer as tranças nelas de forma gratuita, elas tinham tanta vergonha do próprio cabelo, que mal deixavam a gente mexer”, relata Genifá.
“Eu lembro que esse evento foi o pontapé inicial, de tanto escutar pessoas de cabelo crespo e cacheado desta dificuldade em saber cuidar do cabelo. A maioria alisava”, complementa Jane.
Depois, surgiu a ideia de vender biquínis com estampas étnicas pela internet e, com eles, produzir conteúdos sobre a própria cultura.
O salão permanece em funcionamento até hoje, mas o negócio dos biquínis foi deixado de lado para que o trio pudesse se dedicar à página na internet.
Vida no Brasil
Africanos que moram há 13 anos no Brasil contam o que mais gostam no país
O trio conta que está há tanto tempo no Brasil que eles se consideram “tecnicamente brasileiros”.
Para eles, a receptividade, diversidade e relações interpessoais entre o povo brasileiro são os pontos favoritos do país.
Sem perspectiva de voltar a morar nos países de origem, os gêmeos nigerianos e a são-tomense apenas querem poder visitar mais as famílias – que ficaram no outro lado do Oceano Atlântico, mas entenderam que o coração do trio é parcialmente brasileiro.
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