Após mortandade, temor de consumo faz freezers ficarem lotados com peixes e gera prejuízos em vila de pescadores no Tanquã


Colônia abriga cerca de 15 famílias e há pescador com até 300 quilos de peixes congelados. Mortandade de peixes afeta moradores de vila às margens do Tanquã, em Piracicab
O receio da população em consumir peixes após a mortandade de toneladas desses animais aquáticos na Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã-Rio Piracicaba traz prejuízos a cerca de 15 famílias que vivem em uma vila da região.
A pequena colônia fica em Piracicaba (SP) e, pela proximidade do rio, a pesca é vital pra os moradores do local. O pescador Alan Renato Belluci tem mais de 300 quilos de peixes congelados. Mas não tem quem compre.
“O peixe que eu vendia não vende mais, não vem ninguém comprar peixe, porque tá todo mundo assustado com esse negócio aí, né? Que o peixe tá envenenado”, relata.
A indicação da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) é de que não sejam consumidor os peixes afetados pela mortandade, que começou no último dia 7, em outros trechos.
Vila às margens da APA do Tanquã, em Piracicaba
Jefferson Souza/ EPTV
Sem fonte de renda
Sem as vendas, ele está sem fonte de renda. “Eu não sou aposentado, não sou nada. Tinha uma renda de mais ou menos de R$ 80 a R$ 100 por dia de venda de peixe e, agora, já faz quase dez dias aí que não vende um peixe, não vem comprador. O rio tá nesse fedor que você tá vendo aí, todos peixes mortos em cima da água”, lamenta.
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A pescadora Eliana Evangelista foi criada na vila junto com nove irmãos. Todos cresceram graças à pesca, que agora está comprometida.
“Nunca nós vimos uma coisa tão feia como aconteceu agora. Só tristeza de ver o rio desse jeito. Esse rio nosso é rico de peixe. E nós, meu pai, quando veio pra cá, criou dez filhos aqui nos peixes. Foi uma calamidade mesmo do rio aí”.
Pescador Nilson Abhraão é um dos afetados pela mortandade dos peixes
Wesley Justino/ EPTV
A mortandade de peixes que chegou no santuário impressiona até os moradores mais antigos. É o caso do pescador Anizio Evangelista, de 96 anos, que há mais de 60 mora na colônia. “Acaba com o peixe, acaba. Dá mais ou menos 15 toneladas que morreu. Vai tempo pra recuperar isso aí”.
‘O peixe pra nós representa sobrevivência’
O pescador Nilson Abhraão é outro morador local que depende dos peixes. “O peixe pra nós representa sobrevivência. Aqui ou é você trabalhar na roça com serviços rurais ou você pescar”.
Por dia, vendia uma média de 25 quilos. Agora, os animais pescados antes da mortandade estão sem saída no freezer, o que impede a chegada do dinheiro que sustenta a casa.
“Por mais que a gente agradece a aposentadoria, a gente tem ela todo mês, mas, infelizmente, o idoso no Brasil, pra ele sobreviver, ele tem que continuar trabalhando. Mesmo aposentado, ele tem que continuar trabalhando. Ou trabalha ou passa necessidade”, diz Nilson.
Pescadores de vila veem peixes se acumularem em freezer sem interessados
Edijan Del Santo/ EPTV
A incerteza dos próximos dias preocupa quem depende do rio para sobreviver.
“Sempre teve mortandade de peixe, mas é coisa de 1% da capacidade do rio. Então, não tem como você explicar essa mortandade com as outras. Essa quantidade aí nunca foi vista”, lamenta Nilson.
“Não tem nem o que falar a esperança, né? É esperar agora pra ver o que vai acontecer, né? Soltar peixe de novo, né, pra poder voltar de novo o rio Piracicaba”, diz Eliana.
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