‘Veteranos sumiram e não foram responsabilizados’, diz ex-aluno da Unisa expulso após sindicância que apurou ato obsceno; ele nega participação

Em 2023, viralizaram nas redes sociais vídeos de alunos nus e tocando partes íntimas durante jogos universitários no interior de SP. A Polícia Civil de São Carlos, responsável pelo caso, informou que as investigações estão na reta final e correm em sigilo. Unisa expulsa estudantes por trote obsceno
Um ex-aluno de medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa) afirmou que “todos os veteranos sumiram e não foram responsabilizados” por simulação de ato obsceno ocorrido durante jogos universitários em 2023 no interior paulista. Ele nega ter participado da simulação. No entanto, foi expulso definitivamente da faculdade em junho deste ano.
“Eu estava no ginásio, mas não na quadra”, contou. A declaração foi dada em entrevista exclusiva ao SP2 e ao g1 na quarta-feira (17).
Em setembro do ano passado, vídeos de um grupo de homens nus e tocando nas partes íntimas durante um evento esportivo em São Carlos viralizaram nas redes sociais e provocaram grande repercussão.
Além dele, outros quatro estudantes de medicina foram expulsos após uma sindicância interna da universidade realizada durante o primeiro semestre de 2024. Um outro estudante foi suspenso, de acordo com os próprios colegas.
Durante a entrevista, o ex-aluno afirmou que os calouros são penalizados quando não fazem o que é pedido. “Se não, você é punido. Soco, tapa, tem que beber mais… depende do veterano”, detalhou o jovem.
“Que a verdade venha à tona. Eles [a universidade] estão culpando as vítimas, e estão errados nisso”, completou o ex-aluno entrevistado.
O estudante desligado da instituição contou que a relação entre veteranos e calouros não tinha atos de coação no começo do ano letivo dele, em fevereiro do ano passado. Porém, em poucos meses os trotes violentos começaram a ser aplicados.
“No começo é bom [o relacionamento], mas depois você vai se aprofundando mais no grupo deles e vai tomando trote”, contou. A defesa afirma que eles foram obrigados a agir daquela maneira por medo.
As situações de humilhação e constrangimento são frequentes em trotes de medicina também de outras universidades. São feitas ameaças até ao futuro no mercado de trabalho, como relatou uma estudante.
O g1 e o SP2 também conversaram com a mãe do ex-estudante da Unisa. Ela diz que a universidade não foi transparente durante o processo e não recebeu os documentos para fazer a transferência do filho para outra faculdade.
“A universidade em nenhum momento conversou com eles para saber se era verdade aquele vídeo. Primeira coisa que eu entendo que era correto é sentar para conversar, para saber se aquilo era verdade e entender os motivos. Por que aconteceu isso? Isso era verdade? Foi isso que aconteceu? Mas não. Eles simplesmente escolheram alguns e expulsaram, sem conversa, sem nada”, afirma. A mãe também pediu para não ser identificada.
“A gente vai ficar do lado dele, como a gente sempre ficou. Ele vai ser um grande médico. E que a faculdade puna os responsáveis. Que tomem consciência do que estão fazendo”, desabafou a mãe. “Eles fazem campanhas contra trote. Se eles não punem as pessoas corretas, isso não acaba” , completou.
Sindicância
Matheus Chequer Reis, advogado da família, definiu esse processo administrativo da instituição como “abusivo”.
“Não houve nenhuma comprovação de que realmente os alunos estavam lá, justamente porque os alunos não estavam. Em razão disso, nós entramos com mandado de segurança, que foi deferido para todos os alunos poderem cursar as provas. A faculdade há mais de um mês vem descumprindo essa ordem judicial”, relatou o advogado.
Em nota, a defesa da Unisa informou que “Sindicância Disciplinar é um ato administrativo restrito às relações entre a instituição de ensino e os alunos, que visa apurar faltas de natureza disciplinar acadêmica que, no caso, tramitou sob sigilo para proteger a identidade dos envolvidos”.
Segundo o advogado Marco Aurélio de Carvalho, da Unisa, “houve um trabalho pericial detalhado, realizado por profissional capacitado, devidamente credenciado para trabalhos de identificação, inclusive com atuação em casos forenses, que desenvolveu um trabalho utilizando tecnologia de ponta”. Além disso, “não podemos identificar o número de alunos, nem as penalidades regimentais impostas a cada, mas cada caso foi avaliado de forma individualizada, conforme as particularidades que se apresentaram, tendo desfechos variados”.
O advogado exemplificou os desdobramentos: “Aluno que não renovou sua matrícula, após tomar conhecimento da Sindicância Disciplinar, o que obrigou à suspensão do procedimento em relação a ele por não possuir mais vínculo; (b) aluno que apresentou retratação e reconhecimento da gravidade da falta disciplinar cometida; (c) aluno que, além da confirmação da participação naquele ato, sobre ele foram apuradas outras faltas disciplinares que se somaram. Enfim, foram situações diversas, com desdobramentos distintos, conforme a postura disciplinar do aluno, a condução dos processos, a linha de defesa adotada”.
“As Sindicâncias realizadas são restritas a apurações de natureza disciplinar acadêmica (conforme suas próprias normas institucionais) e são de interesse restrito da própria Instituição e do aluno a ela vinculado. Não é objetivo de Sindicâncias Disciplinares julgar a conduta de alunos sob aspectos estranhos a sua competência, o que cabe a outras autoridades”, diz o comunicado.
A Polícia Civil de São Carlos, responsável pelo caso, informou que as investigações estão na reta final e correm em sigilo. Também reforçou que aguarda apenas o envio de alguns documentos para finalizar o inquérito.
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