Dia do Folclore: lenda de ser que se escondia nas sombras e amedrontou por anos bairro de Teresina é desvendada; entenda


Um homem chegou a ser preso, acusado de ser o famigerado criminoso, mas os crimes continuaram acontecendo após a prisão. Nesta quinta-feira (20), Dia do Folclore, o g1 reconta a lenda que durante anos aterrorizou um bairro na Zona Sul de Teresina e que uma recente tese de mestrado explica falar muito mais sobre o racismo estrutural e o machismo na sociedade teresinense dos anos 80 do que sobre um “monstro”.
Um ser que se escondia nas sombras, diziam haver dúvida se era um homem ou um demônio, o temido “Negão da Macaúba”, que estigmatizava homens negros e amedrontava mulheres no antigo bairro dos carvoeiros – atualmente conhecido como Macaúba.
Lenda do Negão da Macaúba amedrontou moradores de bairro em Teresina
Douglas Viana
Se você nunca ouviu falar, a lenda urbana é uma das mais recentes de Teresina. Um homem negro, ou pintado de graxa para se esconder na escuridão, que atacava e estuprava mulheres sozinhas no bairro da Macaúba.
Em 1989 um homem chegou a ser preso no que hoje é o Parque Ambiental da Macaúba, suspeito de ser o temido “Negão”, no entanto, mesmo com sua prisão os crimes continuaram acontecendo.
✅ Siga o canal do g1 Piauí no WhatsApp
De acordo com o professor e mestre em história, José Ribeiro, pesquisador do assunto, a lenda mostra sobre preconceitos. “A verdade é que esse mito ajudou a reforçar preconceitos. Principalmente com negros que se tornaram grandes suspeitos de casos de estupros”, disse.
“O medo com eles também era enorme e isso reforçou muitas mazelas. ‘Negão da Macaúba’ era um apelido de chacota” completou o professor.
Compartilhe esta notícia no WhatsApp
Compartilhe esta notícia no Telegram
O pesquisador afirma que a lenda também serviu como “controle social” para mulheres. Isso porquê com o disseminar do mito, mulheres que estavam por ganhar sua independência, trabalharem e saírem sozinhas, eram aterrorizadas pelo medo.
“As mulheres também foram vítimas desse mito. Por falarem tanto no meio homem e monstro, elas acabaram por serem impedidas de terem essa liberdade que vinham ganhando, justamente pelo medo”, explicou.
Como o mito surgiu?
Há diversas versões sobre a criação do mito. A mais forte é de que, ainda em 1980, Teresina passava por uma onda de violência muito forte e crimes de maior repercussão eram os sexuais, contra mulheres.
“Os crimes estavam muito frequentes em toda a capital e na macaúba tiveram alguns registros de crimes sexuais e daí começou o mito, que na verdade surgiu de um bordão”, contou o professor.
Segundo José Ribeiro, o nome da lenda foi citado pela primeira vez no bordão de um radialista da época, o jornalista Luís Borges, que usava o termo para falar sobre crimes de brutalidade: “Pede a Deus, neném, que te livre do Negão da Macaúba, pede a Deus, neném, que te livre da pistola do Correia Lima”.
O professor destaca que depois da popularização do ser no imaginário popular, o mito se espalhou e ganhou diversas versões.
Resinificando o mito
Após diversos anos e muitas versões de brutalidade, os moradores do bairro Macaúba acabaram por dar um novo significado para a lenda. Nesse processo criou-se o “Bloco do Negão da Macaúba”, criado em 2011.
“O bloco serviu para reajustar toda a ideia que se tinha do mito. Ele veio para trazer uma nova ideia e tirar aqueles paradigmas, até mesmo sobre violência negra, ou do bairro, ou o medo do mito das mulheres”, contou o professor.
Para o educador, o mito do “Negão da Macaúba” mostra que as lendas podem falar muito mais de nossa sociedade do que dos próprios monstros criados. A lenda foi criada para o terror e acabou ganhando um significado maior que isso.
Parque Ambiental da Macaúba, antigo terreno baldio onde um homem foi presos suspeito de ser o “Negão da Macaúba”
Reprodução
*Pedro Lima, estagiário sob supervisão de Lucas Marreiros.
📲 Confira as últimas notícias do g1 Piauí
📲 Acompanhe o g1 Piauí no Facebook, no Instagram e no X
VÍDEOS: Assista às notícias mais vistas da Rede Clube
Adicionar aos favoritos o Link permanente.