J.D. Vance: por que escolha de vice de Trump preocupa Europa


Diplomatas e políticos expressam preocupação com as repetidas críticas de Vance à ajuda dos EUA à Ucrânia. J.D. Vance se manifestou contra a ajuda militar dos EUA à Ucrânia.
MSC-MICHAELE-STACHE via BBC
Políticos e diplomatas europeus já se preparavam para mudanças nas relações com os Estados Unidos no caso de uma segunda presidência de Donald Trump.
Agora, que o candidato republicano escolheu o senador de Ohio, J.D. Vance, como companheiro de chapa, essas preocupações parecem ainda mais acentuadas nas perspectivas sobre o futuro da guerra na Ucrânia, a segurança e o comércio.
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Crítico veemente da ajuda dos EUA à Ucrânia, Vance disse na Conferência de Segurança de Munique deste ano que a Europa deveria acordar para a necessidade de os EUA “orientarem” o foco para a Ásia Oriental.
“O cobertor de segurança americano fez com que a segurança europeia se atrofiasse”, disse ele, durante o evento na Alemanha.
Nils Schmid, deputado do partido do chanceler alemão Olaf Scholz, disse à BBC que estava confiante de que uma presidência republicana nos EUA manteria a força da Otan, mesmo que J.D. Vance pareça “mais isolacionista” e Donald Trump permaneça “imprevisível”.
No entanto, ele alertou para uma nova rodada de “guerras comerciais” com os EUA sob uma segunda presidência de Trump.
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J.D. Vance: como senador passou de crítico a aliado de Trump
Um diplomata da União Europeia (UE) avalia que, depois de quatro anos de presidência Donald Trump, ninguém pode ser ingênuo: “Entendemos o que significa se Trump regressar como presidente para um segundo mandato, independentemente do seu companheiro de chapa.”
Ao retratar a UE como um barco à vela que se prepara para uma tempestade, o diplomata, que preferiu não ser identificado, acrescentou que as futuras negociações e acordos tendem a ser sempre mais difíceis.
Os EUA são o maior aliado da Ucrânia, e o presidente Volodymyr Zelensky disse esta semana que não tem “medo de que ele [Trump] se torne presidente” e que “trabalhará junto”.
Zelensky também disse acreditar que a maioria do Partido Republicano apoiava a Ucrânia.
Donald Trump e J.D. Vance, candidatos a presidente e vice-presidente pelo partido republicano, respectivamente, no palco na Convenção Nacional Republicana em 15 de julho de 2024.
ANGELA WEISS/AFP
O presidente ucraniano e Trump também têm um amigo em comum: Boris Johnson, o antigo primeiro-ministro do Reino Unido, que tem defendido consistentemente a ajuda contínua à Ucrânia e recentemente se encontrou com o ex-presidente americano na Convenção Nacional Republicana dos EUA.
Após a reunião, Johnson publicou no X (o antigo Twitter) que “não tem dúvidas de que [Trump] será forte e decisivo no apoio a esse país [a Ucrânia] e na defesa da democracia”.
Mas mesmo que esse sentimento seja verdadeiro, ele pode não se aplicar a Vance que, dias antes da invasão em grande escala feita pela Rússia, disse num podcast que “não se importa realmente com o que acontece na Ucrânia, de uma forma ou de outra”.
No Senado americano, Vance também desempenhou um papel fundamental no atraso de um pacote de ajuda militar de US$ 60 bilhões (aproximadamente R$ 325 bi).
“Precisamos tentar convencê-lo do contrário”, afirma Yevhen Mahda, diretor-executivo do grupo de pesquisas e debates Institute of World Policy, sediado em Kiev.
“Um fato que podemos usar como trunfo é que ele lutou no Iraque, portanto deveria ser convidado a ir à Ucrânia para poder ver com os próprios olhos o que acontece e como o dinheiro americano é gasto.”
A questão para a Ucrânia será até que ponto o eventual vice-presidente poderá influenciar as decisões do novo chefe.
Mahda concorda que a imprevisibilidade de Trump poderá ser um problema para Kiev no período que antecede as eleições presidenciais dos EUA.
O maior apoiador da chapa Trump-Vance na União Europeia é o húngaro Viktor Orbán, que regressou recentemente de uma visita ao candidato republicano, depois de também se reunir com Zelensky e o presidente russo Vladimir Putin, com quem mantém laços estreitos.
Numa carta aos líderes da UE, Orbán disse que um vitorioso Donald Trump nem sequer esperaria para ser empossado como presidente para exigir rapidamente conversações de paz entre a Rússia e a Ucrânia.
“Ele tem planos detalhados e bem fundamentados para isso”, afirma a carta de Orbán.
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O próprio Zelensky disse esta semana que a Rússia deveria participar de uma cúpula de paz, possivelmente em novembro, e prometeu um “plano totalmente pronto”. Mas ele deixou claro que não sofreu pressão ocidental para fazer essa proposta.
As recentes “missões de paz” de Viktor Orbán a Moscou e Pequim suscitaram acusações de que ele pode abusar da presidência rotativa de seis meses da Hungria no Conselho Europeu.
Funcionários da Comissão Europeia foram instruídos a não participar de reuniões na Hungria por causa das ações de Orbán.
Durante a presidência de Trump, os EUA impuseram tarifas sobre o aço e o alumínio produzidos na UE. Embora tenham sido suspensas durante a administração de Joe Biden, Trump prometeu uma taxa de 10% sobre todas as importações estrangeiras, caso regresse à Casa Branca.
A perspectiva de um novo confronto econômico com os EUA será vista como um resultado ruim, ou até mesmo desastroso, na maioria das capitais europeias.
“A única coisa que sabemos com certeza é que haverá tarifas punitivas impostas à União Europeia, por isso temos que nos preparar para outra onda de guerras comerciais”, disse Nils Schmid, líder da política externa dos social-democratas na Alemanha.
J.D. Vance criticou o governo alemão por causa da preparação militar do país no início deste ano.
Embora não pretendesse “bater” na Alemanha, o candidato disse que a base industrial que sustenta a produção de armas no país era insuficiente.
Todos esses elementos podem aumentar ainda mais a pressão sobre a Alemanha, a maior economia da Europa, para “avançar” como ator principal para garantir a segurança do continente.
Depois do seu muito elogiado discurso em resposta à invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em 2022, Olaf Scholz foi frequentemente acusado de hesitar na hora de fornecer armas a Kiev.
Mas os aliados do chanceler estão sempre interessados ​​em salientar que a Alemanha só perde para os EUA em termos de ajuda militar a Kiev, embora tenha — pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria — cumprido a meta de gastar 2% do PIB com defesa, embora tenha feito isso com o uso de um orçamento de curto prazo.
“Acho que estamos no caminho certo”, disse Schmid, deputado da base governista. “Temos que reconstruir um exército que foi negligenciado durante 15 ou 20 anos.”
Mas os observadores estão longe de estar convencidos de que os preparativos europeus nos bastidores sejam sérios ou suficientes.
Existem poucos líderes com influência política ou inclinação para defender uma futura arquitetura de segurança de um continente europeu difícil de manejar.
Scholz tem um estilo mais discreto e uma clara resistência em assumir a liderança em posições de política externa mais ousadas — e enfrenta uma perspectiva muito concreta de ser destituído do cargo no próximo ano.
O presidente francês, Emmanuel Macron, ficou gravemente enfraquecido depois de convocar eleições parlamentares que deixaram o país num estado de paralisia política.
Já presidente da Polônia, Andrzej Duda, alertou na terça-feira (16/7) que, se a Ucrânia perder a luta contra a Rússia, “então uma potencial guerra russa contra o Ocidente será iminente”.
“O voraz monstro russo vai querer atacar continuamente”, acusou Duda.
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