Três dias de Grupo Especial: veja o que muda, confira os enredos e cante os sambas


Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) redividiu as escolas, e agora serão 4 por noite. Tempo de cada desfile aumentou. Saiba como é calculada a data do carnaval
Pela primeira vez na história, as escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro vão se apresentar em três noites de desfiles. Desde 1984, ano da inauguração do Sambódromo, a elite do carnaval carioca saía apenas no Domingo e na Segunda-feira de Carnaval.
Com essa nova divisão — e a inclusão da Terça-feira Gorda no calendário —, serão 4 agremiações por dia.
Não foi a única mudança na festa: há novidades no tempo de desfiles e na apuração.
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O g1 agora explica tudo — e de quebra apresenta os enredos e os sambas da disputa.
Por que mudou para 3 dias?
Em resumo, os pontos levantados pela Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) na justificativa são:
Mais gente vai ver os desfiles. O Sambódromo acomoda 80 mil pessoas, e com 3 noites o público estimado é de 240 mil espectadores. E a mesma lógica serve para a TV;
A redivisão facilitará a logística, já que serão menos alegorias para deslocar por dia, e aumentará a segurança dos desfilantes, uma vez que a área da concentração e da armação será menor e mais fácil de resguardar;
A disputa será nivelada, sobretudo no uso da iluminação cênica, pois nenhuma escola sairá com dia claro.
O tempo de desfile mudou?
Sim, aumentou em 10 minutos.
Em 2024, cada escola deveria mostrar seu carnaval em no mínimo 60 minutos e no máximo 70 minutos. Agora, com 10 minutos a mais, as agremiações ficam com 70 minutos de mínimo e 80 minutos de máximo. Quem não respeitar esse tempo, para mais ou para menos, perde ponto.
A Liesa também prevê um intervalo de 10 minutos entre cada coirmã.
A que horas começa? E quando acaba?
A 1ª escola de cada noite sairá às 22h. A previsão é que o último componente da última agremiação da madrugada adentre a Apoteose pouco antes das 4h.
Como ficaram os horários?
Previsão de horários do Grupo Especial
Quando será a apuração?
A leitura das notas está mantida para a tarde da Quarta-feira de Cinzas, mesmo a Portela terminando de desfilar horas antes.
E o que mudou na apuração?
Os 36 julgadores dos 9 quesitos (4 para cada) estarão mais espalhados por toda a Avenida, e os envelopes deverão ser preenchidos no fim de cada dia.
Onde ficarão as cabines?
Ano passado, os módulos 1 e 2 dividiam um só espaço no Setor 3; o módulo 3 ficava no Setor 6, e o 4, no Setor 10.
Como metade do júri estava no mesmo ponto (no começo do desfile), um deslize ali poderia derrubar as notas e tirar a escola da briga pelo título.
Agora, são 4 cabines de julgadores separadas, nos setores 3, 6, 9 e 10.
Qual o impacto de 4 cabines?
As comissões de frente e os casais de mestre-sala e porta-bandeira terão de se apresentar 4 vezes para o júri — antes, eram 3 performances;
O time da evolução terá de recalibrar o andamento do cortejo, a fim de encaixar essas 4 “paradas”;
A equipe da harmonia terá de ficar mais atenta ao canto dos componentes, pois os jurados terão “ouvidos” na Avenida toda;
O mesmo cuidado vale para o acabamento das alegorias e das fantasias.
Vale lembrar que, como nas últimas vezes, a menor das 4 notas em cada quesito será descartada.
Por que mudou o preenchimento dos envelopes?
Para não favorecer a última escola a desfilar — este ano, a Portela.
Até o ano passado, os jurados tinham de assistir às 12 agremiações para só então lançar as notas no caderno, a fim de garantir um julgamento fechado. Durante cada apresentação, o júri apenas podia fazer anotações.
Não por acaso, as escolas que saíram na Segunda-feira de Carnaval têm mais títulos que as do Domingo.
Agora, para que a (falta de) memória dos avaliadores não interfira no resultado, ao fim de cada madrugada eles terão de lançar as notas das 4 escolas do dia.
Quais são os enredos?
Domingo de Carnaval
Unidos de Padre Miguel
Samba e Enredo: Unidos de Padre Miguel homenageia a história do primeiro terreiro de Candomblé do Brasil
Egbé Iyá Nassô
A UPM vai prestar uma homenagem à Casa Branca do Engenho Velho, o 1º terreiro de Candomblé do Brasil, através da história de Iyá Nassô, princesa negra escravizada que, junto com as irmãs, enfrenta a guarda imperial para libertar seus filhos.
Cante o samba
Awurê Obá kaô! Awurê Obá kaô!
Vila Vintém é terra de macumbeiro!
No meu Egbé governado por mulher
Iyá Nassô é rainha do candomblé!
Eiêô! Kaô kabesilê Babá Obá!
Couraça de fogo no orô do velho ajapá
A raça do povo do Alafin, e arde em mim
Rubro ventre de Oyó
Na escuridão nunca andarei só
Vovó dizia: Sangue de preto é mais forte que a travessia!
Saudade que invade!
Foi maré em tempestade
Sopra a ancestralidade no mar (ê rainha)
Preceito é herança sem martírio
Airá guarda seus filhos no ilê da Barroquinha
É a semente que a fé germinou, Iyá Adetá
O fruto que o axé cultivou, Iyá Akalá
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Iyá Nassô, ê Babá Assika

Vou voltar, mainha, eu vou
Vou voltar, mainha, chore não
Que lá na Bahia
Xangô fez revolução
Oxê, a defesa da alma na palma da mão
No clã de Obatossi
Há bravura de Oxóssi no meu panteão
É d’Oxum o acalanto que guarda o otá
Do velho engenho, xirê que mantenho no meu caminhar
Toca o adarrum que meu orixá responde
Olorum, guia o Boi Vermelho seja onde for
Gira saia aiabá, traz as águas de Oxalá
Justiça de Ogodô, tambor guerreiro firma o alujá
Imperatriz Leopoldinense
Enredo e samba: Imperatriz conta a saga de Oxalá para visitar o reino de Xangô
Ómi Tútu ao Olúfon: Água fresca para o senhor de Ifón
A escola vai contar sobre o desejo de Oxalá em visitar o reino de Xangô. No entanto, a peregrinação não foi simples. No caminho, outros orixás, como Exu.
Cante o samba
Vai começar o itan de Oxalá
Segue o cortejo funfun pro senhor de Ifón, Babá
Orinxalá, destina seu caminhar
Ao reino do quarto Alafin de Oyó
Alá, majestoso em branco marfim
Consulta o ifá e assim
No odú, o presságio cruel
Negando a palavra do babalaô
Soberano em seu trono, o senhor
Vê o doce se tornar o fel
Ofereça pra Exu… um ebó pra proteger
Penitência de Exu, não se deixa arrefecer
Ele rompe o silêncio com a sua gargalhada
É cancela fechada, é o fardo de dever
Mas o dono do caminho não abranda
Foi vinho de palma, dendê e carvão
Sabão da costa pra lavar demanda
E a montaria te leva à prisão
O povo adoeceu, tristeza perdurou
Nos sete anos de solidão

Justiça maior é de meu pai Xangô
Traz água fresca pra justiça verdadeira
Justiça maior é de meu pai Xangô
Meu pai xangô mora no alto da pedreira
Preceito nagô a purificar
Desata o nó que ninguém pode amarrar
Transborda axé no ibá e na quartinha
Pra firmar tem acaçá, ebô e ladainha
Oní sáà wúre! Awure awure!
Quem governa esse terreiro ostenta seu adê
Ijexá ao pai de todos os oris
Rufam atabaques da Imperatriz
Unidos do Viradouro
Enredo e Samba: Viradouro traz Malunguinho; o mensageiro de três mundos como enredo para o Carnaval
Malunguinho: o mensageiro de três mundos
Malunguinho foi um grande herói do século 19, líder do Quilombo do Catucá, no Norte de Pernambuco. Segundo o carnavalesco Tarcísio Zanon, trata-se de uma figura histórica que sobreviveu dentro do culto da Jurema Sagrada, considerada uma das primeiras cosmologias brasileiras. “É um enredo afro-indígena, um enredo negríndio. Misturamos essas duas culturas dentro de um personagem, não existe nada mais brasileiro.”
Malunguinho se encantou em três entidades: o caboclo da mata, mestre juremeiro e o guardião das encruzilhadas.
Cante o samba
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
Reis Malunguinho, encarnado
Pernambucano mensageiro bravio
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
Estação Primeira de Mangueira
Enredo e samba: Mangueira
À flor da Terra, no Rio da negritude entre dores e paixões
A Verde e Rosa vai celebrar o povo banto, originário da região de Angola.
“Aproximadamente 80% dos escravizados que desembarcaram no Cais do Valongo eram de origem banto. Isso influencia não apenas a cultura brasileira, mas a construção sociocultural da cidade do Rio de Janeiro. Principalmente o idioma, com palavras como ‘xodó’ e ‘quitanda’”, ressaltou o carnavalesco Sidnei França.
Cante o samba
Oya, Oya, Oya ê
Oya Matamba de kakoroká zingue
Oya, Oya, Oya ê ô
Oya Matamba de Kakoroká zingue ô
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba
Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela
Sou Luanda e Benguela
A dor que se rebela, morte e vida no oceano
Resistência quilombola
Dos pretos novos de Angola
De Cabinda, suburbano
Tronco forte em ribanceira
Flor da terra de Mangueira
Revel do Santo Cristo que condena
Mistério das calungas ancestrais
Que o tempo revelou no cais
E fez do Rio minha África pequena
Ê malungo, que bate tambor de Congo
Faz macumba, dança jongo, ginga na capoeira
Ê malungo, o samba estancou teu sangue
De verde e rosa, renasce a nação de Zambi
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Guia meu camutuê, Mãe Preta ensinou
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Sob a cruz do seu altar, inquice incorporou
Forjado no arrepio
Da lei que me fez vadio
Liberto na senzala social
Malandro, arengueiro, marginal
Na gira, jogo de ronda e lundu
Onde a escola de vida é zungu
Fui risco iminente
O alvo que a bala insiste em achar
Lamento informar
Um sobrevivente
Meu som, por você criticado
Sempre censurado pela burguesia
Tomou a cidade de assalto
E hoje, no asfalto
A moda é ser cria
Quer imitar meu riscado
Descolorir o cabelo
Bater cabeça no meu terreiro
Segunda-feira de Carnaval
Unidos da Tijuca
Enredo e samba: Unidos da Tijuca celebra Logun Edé no carnaval de 2025
Logun-Edé, santo menino que velho respeita
Logun Edé é filho de Oxum, da água doce, e Oxóssi, o caçador. Este orixá carrega a essência da juventude e a força das tradições, sendo celebrado como um símbolo de esperança e renovação.
“É um orixá menino, que traz a natureza como sabedoria, além da bravura, a doçura e a herança que ele tem da mãe e do pai”, disse o carnavalesco Edson Pereira.
Cante o samba
Logun edé
Logum arô
Logun edé loci loci Logun arô
A juventude do Borel
Desce o morro pra cantar em seu louvor
Reflete o espelho… Orisun
Nas águas de Oxum
À luz de Orunmilá
Magia que desaguou na ribeira
E fez o caçador se encantar
Sou eu, sou eu
Príncipe nascido desse grande amor
Herdeiro da bravura e da beleza
É da minha natureza a dualidade e o fulgor
De tudo que aprendi, o todo que reuni
Fez imbatível a força do meu axé
Com brilho imenso, desafio o consenso, inquieto e intenso
Sou Logum Edé
Oakofaê, odoiá
Oakofaê, desbravei o mar
Não ando sozinho montei no cavalo marinho
Abri caminho pro povo de Ijexá
E no rufar dos Ilus meu tambor
A fé no Kale Bokum assentou
A proteção de meus pais, ofás e abebés
Sou a Tijuca e seus candomblés
Um lindo leque se abriu, ori do meu pavilhão
Amarelo ouro e azul pavão
Orixá menino que velho respeita
Recebi sentença de pai Oxalá
Eu não descanso depois da missão cumprida
A minha sina é recomeçar
Beija-Flor de Nilópolis
Enredo e samba: Beija-Flor de Nilópolis vai eternizar o legado de Mestre Laíla
Laíla de todos os santos
Reconhecido por seu trabalho na história do carnaval brasileiro, o diretor de carnaval Laila, que morreu em 2021, será celebrado por sua contribuição inestimável à escola e à cultura carnavalesca.
O enredo resgata sua trajetória e mantém viva a memória de um dos pilares da Beija-Flor. “O Laíla foi um dos maiores sambistas da história do carnaval carioca e do Brasil. É uma forma de homenagear o povo do carnaval, que é feito dessa mistura, dessas pessoas tão talentosas”, disse o carnavalesco João Vitor Araújo.
Cante o samba
Da casa de Ogum, Xangô me guia
Da casa de Ogum, Xangô me guia
Dobram atabaques no quilombo Beija-Flor
Terreiro de Laíla meu griô
Kaô, meu velho!
Volta e me dá os caminhos
Conduz outra vez meu destino
Traz os ventos de Oyá
Agô meu mestre
Tua presença ainda está aqui
Mesmo sem ver, eu posso sentir
Faz Nilópolis cantar
Desce o morro de Oyó
Benedito e Catimbó
O alabá Doum
Traz o terço pra benzer
E a cigana puerê
Meu Exu
De copo no palco, sandália rasteira
No chão sagrado toda quinta-feira
O brado no tambor, feitiço
Brigou pela cor, catiço
Coragem na fala sem temer a queda
O dedo na cara, quem for contra reza
Vencer o seu verbo
Gênio do ouvido perfeito
A trança nos versos
Divino e humano em seu jeito
Queria paz, mas era bom na guerra
Apitou em outras terras, viajou nas ilusões
Deu voz à favela e a tantas gerações
Eu vou seguir sem esquecer nossa jornada
Emocionada, a baixada em redenção
Chama João pra matar a saudade
Vem comandar sua comunidade
Óh Jakutá, o Cristo preto me fez quem eu sou
Receba toda gratidão Obá, dessa nação nagô
Acadêmicos do Salgueiro
Enredo e Samba: Salgueiro aposta em fé e proteção com enredo sobre magia e encantamento para o Carnaval 2025
Salgueiro de Corpo Fechado
A narrativa propõe um mergulho nos rituais de proteção utilizados por diferentes culturas ao longo do tempo, incluindo crenças africanas, práticas indígenas e elementos da cultura popular carioca.
O enredo passará por elementos ancestrais, como as benzedeiras, práticas espirituais ancestrais herdadas da África, banhos de ervas e os talismãs trazidos pelos malês durante a Revolta na Bahia, no século 19. Também haverá espaço para figuras emblemáticas da cultura popular carioca, como as ciganas da sorte, pombas-giras e o malandro batuqueiro.
Cante o samba
Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá
Quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar
Meu terreiro é a casa da mandinga
Quem se mete com o Salgueiro, acerta as contas na curimba
Prepara o alguidar, acende a vela
Firma ponto ao sentinela
Pede a bênção pra vovô
Faz a cruz e risca a pemba
Que chegou Exu Pimenta e a falange de Xangô
Tem erva pra defumar, carrego o meu patuá
Adorei as almas que conduzem meu caminho
É mojubá, marabô, invoque a Lua
Que o povo da encruza não vai me deixar sozinho
Sou herança dos malês, bom mandingo e arisco
Uso a pedra de corisco pra blindar meu dia a dia
No tacho, arruda e alecrim, ô
Bala de chumbo contra toda covardia
Tenho a fé que habita o sertão
De Lampião, o cangaceiro
Feito Moreno, eu vou viver
Mais de cem anos no meu Salgueiro
Sou espinho qual fulô de macambira
Olho gordo não me alcança
Ante o mal, a pajelança pra curar
Sempre há uma reza pra salvar
O nó desata, liberdade pela mata
E os mistérios do axé, meu candomblé
Derruba o inimigo um por um
Eu levo fé no poder do meu contra-egum
Salve, seu Zé, que alumia nosso morro
Estende o chapéu a quem pede socorro
Vermelho e branco no linho trajado
Sou eu malandragem de corpo fechado
Unidos de Vila Isabel
Enredo e Samba: Vila Isabel promete assombrar com alegria no Carnaval 2025
Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece
Sacis, lobisomens, vampiros bicho-papão, bruxas e o Homem do Saco vão povoar o desfile da escola de Noel. “São lembranças divertidas”, conta Paulo Barros.
E o trem-fantasma será o veículo dessa fantástica viagem pela cultura popular brasileira.
Cante o samba
Solta o bicho, dá um baile de alegria
É o povo do samba virado na bruxaria
O caldeirão vai ferver, eu quero ver segurar
Não tem jeito, a Vila vai te pegar
Embarque nesse trem da ilusão
Não tenha medo de se entregar
Pois nosso maquinista é capitão
E comanda a legião que vem lá do Boulevard
O breu e o susto em meio à floresta
Por entre os arbustos, quem se manifesta?
Cara feia pra mim é fome
Vá de retro lobisomem
Curupira sai pra lá
No clarão da Lua cheia
Margeando rio abaixo
Ouço um canto de sereia
Ê, caboclo d’água
Da água que me assombra
À sombra da meia noite
Foi-se a noite de luar (oi)
Na tempestade, encantada é a gaiola
Chora, viola, pra alma penada samba
Nas redondezas credo em cruz, Ave Maria
Nas redondezas credo em cruz, Ave Maria
Quanto mais samba tocava, mais defunto aparecia
Quanto mais samba tocava, mais defunto aparecia
Silêncio
Ao som do último suspiro vai chegar
A batucada suingada de vampiros
Quando o apito anunciar
Eu aprendi que desde os tempos de criança
A minha Vila sempre foi bicho-papão
Por isso, me encantei com esse feitiço
Que hoje causa reboliço arrastando a multidão
Terça-feira Gorda
Mocidade Independente de Padre Miguel
Enredo e Samba: Mocidade leva manifesto pelo futuro da humanidade para a Sapucaí
Voltando para o futuro – Não há limites para sonhar
A Verde e Branca vai levar para a Avenida um pedido de conscientização da humanidade pelo seu próprio futuro, através de uma viagem intergaláctica.
“A gente vai mostrar o carnaval com um certo humor, com alegria, com imagens que marcam o inconsciente das pessoas, principalmente dos jovens”, destacou Renato.
Cante o samba
O céu vai clarear
Iluminar a Zona Oeste da cidade
E Deus vai desfilar
Pra ver o mago recriar a Mocidade
A luz que nos chega da estrela primeira,
Nascida do pó no Cruzeiro do Sul
Do plasma divino das mãos carpinteiras
Ressurge candeia no breu nesse azul
Será que o limbo da imaginação
Perverte a inteligência
O homem com sua ambição
Desconhece a razão desatina a Ciência
Será que há de ter carnaval, sem minha cadência?
Com alas em tom digital
No fim da existência
Me diz afinal quem há de arcar com as consequências?
Se a Mocidade sonhar
No infinito escrever
Versos a luz do luar, deixa!
Quando o futuro voltar
A juventude vai crer
Que toda estrela pode renascer
O verde adoecido da esperança
Ofega sobre o leito da cobiça
Quem vive pelo preço da cobrança
Derrama sua lágrima postiça
Fogo matando a floresta
Bicho morrendo no cio
Febre no pouco que resta
Secam as águas do rio
E a vida vai vivendo por um fio
Naveguei…
No afã de me encontrar eu me emocionei
Lembrei da corda bamba que atravessei
São tantas as viradas desta vida
A mão que faz a bomba se arrepende
Faz o samba e aprende
A se entregar de corpo e alma na Avenida
Paraíso do Tuiuti
Enredo e Samba: Tuiuti canta Xica Manicongo, escravizada e 1ª mulher trans documentada do Brasil
Quem tem medo de Xica Manicongo
A escola contará a história da primeira mulher trans documentada no Brasil.
Xica Manicongo chegou ao Brasil escravizada, vinda da África. Batizada como Francisco, seu nome e identidade não refletiam quem ela realmente era. Dentro da dura realidade da escravidão, Xica buscou preservar suas práticas religiosas e encontrou refúgio junto ao povo Tupinambá, na Bahia, onde trocou saberes e vivências em um contexto de aprendizado coletivo e resistência cultural.
Cante o samba
Eh! Pajubá!
Acuendá sem xoxá pra fazer fuzuê
É Mojubá
Põe marafo, fubá e dendê (Pra Exu)
Só não venha me julgar Ô Ô
Pela boca que eu beijo
Pela cor da minha blusa
E a fé que eu professar
Não venha me julgar
Eu conheço o meu desejo
Este dedo que acusa
Não vai me fazer parar
Faz tempo que eu digo não
Ao velho discurso cristão
Sou Manicongo
Há duas cabeças em um coração
São tantas e uma só
Eu sou a transição
Carrego dois mundos no ombro
Vim Da África Mãe Eh Oh
Mas se a vida é vã Eh Oh
Mumunha
Jimbanda me fiz
N Ganga é raiz
Eu pego o touro na unha
A bicha, invertida e vulgar
A voz que calou o “Cis tema”
A bruxa do conservador
O prazer e a dor
Fui pombogirar na Jurema
Chama a Navalha, a da Praia e a Padilha
As perseguidas na parada popular
E a Mavambo reza na mesma cartilha
Pra quem tem medo o meu povo vai gritar
Eu travesti
Estou no cruzo da esquina
Pra enfrentar a chacina
Que assim se faça
Meu Tuiuti
Que o Brasil da terra plana,
Tenha consciência humana
Chica vive na fumaça
Acadêmicos do Grande Rio
Enredo e Samba: Grande Rio vai trazer para a Sapucaí uma viagem pelas águas misteriosas do Pará
Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós
A Acadêmicos do Grande Rio prepara um desfile que vai mergulhar nas águas misteriosas do Pará. Com um enredo que celebra as Pororocas Parawaras e as riquezas culturais da região, a escola promete levar um espetáculo grandioso à Sapucaí, marcado por união, tradição e homenagens.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira promete surpreender ao incorporar ritmos paraenses em suas apresentações. “Buscamos inspiração diretamente no Pará para trazer a essência das danças regionais. Estamos inovando com muito carinho e estudo”, declarou o mestre-sala.
Cante o samba
A Mina é Cocoriô
Feitiçaria Parawara
A mesma Lua da Turquia
Na travessia foi encantada
Maresia me guia sem medo
Pro banho de cheiro
Na encruzilhada, espuma do mar
Fez a flor do mururé desabrochar
Pororoca me leva pro fundo do igarapé
Se desvia da flecha, não se escancha em puraqué
Quem é de barro, no igapó, é Caruana
Boto assovia, Mãe D’água dança
Se a Boiúna se agita, é banzeiro, banzeiro
Quatro Contas, um cocar
Salve Arara Cantadeira, Borboleta à espreita
E a Onça do Grão-Pará
Na curimba de Babaçuê
Tem falange de ajuremados
A macaia codoense é macumba de outro lado
Venham ver as Três Princesas baiando no Curimbó
É Doutrina de Santo rodando no meu Carimbó
E foi assim suas espadas têm as ervas da Jurema
Novos destinos no mesmo poema
E nos terreiros, perfume de patchouli
Acende a brasa do defumador
Pro mestre batucar a sua fé
Noite de festa, Curió Marajoara
Protege Caxias, nas Águas de Nazaré
É força de Caboclo, Vodum e Orixá
Meu povo faz a curva como faz na gira
Chama Jarina, Herondina e Mariana
Grande Rio firma o samba no Tambor de Mina
Portela
Enredo e samba: Milton Cunha visita a Portela no primeiro episódio da temporada 2025
Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol – Uma homenagem a Milton Nascimento
É a primeira vez que a Azul e Branca de Madureira vai homenagear um artista em vida. O nome do enredo foi retirado, inclusive, da canção “Nos bailes da vida”, de autoria de Milton e Fernando Brant.
“A Portela entende Milton Nascimento como o grande astro da música brasileira e das brasilidades. Ela parte em procissão, em direção ao grande altar do Sol, para homenageá-lo, abraçá-lo e sermos felizes no carnaval do Rio de Janeiro”, afirmou o carnavalesco Antônio Gonzaga.
A história e importância de Minas Gerais também faz parte do enredo com a Congada e o Reisado. Estandartes da arte popular brasileira também ajudam a contar a história.
Cante o samba
lyá chamou Oxalá preto rei pra sambar
Iyá chamou Oxalá preto rei pra sambar
Anjo negro é o Sol que faz a Portela cantar
Anjo negro é o Sol na minha Portela
Manhã,
Alvorada das nossas lembranças
Peito aberto, carrego esperança
Do altar de São Sebastião
Estou onde a mãe do ouro me afaga
E fiel abraçado à Águia
Vou partir em procissão
Na fé, que faz do artista entidade
E sagrada as amizades
Ardem vozes, mil tambores
Nas mãos, girassóis na travessia
Minh’alma em cantoria
Vem a tarde, vão-se as dores
Nessa estrada, é sonho, é poeira
Passa o trem azul, sigo em paz
Feito Rio… só me leva
Pra Deus filho de Maria
Tantos mares em um cais
E as raízes se juntaram
Na esquina uniram a nação
enceram as lutas que travavam
Pra ver Zumbi no céu da canção
Noite apaga o arrebol
Num milagre ser farol
E continuar…
Quem acredita na vida
Não deixa de amar
Dorme a maldade após o temporal
Na bandeira a liberdade, vem Bituca triunfal
Cheguei com meu povo, mesmo sentimento
Onde Candeia é chama
Brilha Milton Nascimento
Sapucaí vista do alto, durante desfile da Portela em 2023
Fernando Maia/Riotur

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