Trump faz discursos em duas etapas, em tom de campanha e sem notas de conciliação


Presidente ataca governo Biden e usa posse para anunciar lista de medidas provisórias para encerrar o que chamou de declínio dos EUA. Donald Trump
Melina Mara/Pool via REUTERS
Donald Trump deu ao discurso de posse como o 47º presidente americano o tom semelhante a de um comício ou das mensagens que costuma postar na sua rede social: enumerou uma lista de medidas provisórias a serem assinadas neste primeiro dia de mandato, no que chamou de início de uma nova era para os EUA. Detonou formalmente, mas sem o menor pudor, o governo de Joe Biden, que estava sentado a poucos metros, sentenciando-o como decadente.
“O declínio da América acabou”, decretou, no mesmo estilo que reavivou a memória da primeira posse, em 2017, quando estabeleceu o “fim da carnificina americana”.
Ele traçou um panorama de decadência para a situação dos EUA. Aliás, o discurso relembrou também os do Estado da União, que os presidentes americanos fazem no início de cada ano, na sede do Congresso, para delinear as metas do governo. Trump deixou de lado os tradicionais apelos para a conciliação na passagem do bastão presidencial; preferiu continuar a falar apenas aos seus eleitores.
Na Rotunda do Capitólio, invadida e depredada há quatro anos por milhares de simpatizantes, boa parte das palavras do presidente foi para assegurar o que já havia antecipado na véspera: declarou emergência nacional na fronteira Sul para interromper a entrada de imigrantes e mandar “milhões de estrangeiros criminosos de volta”.
Ele confirmou que vai instaurar a lei e a ordem de volta às cidades e também uma política oficial para que existam apenas dois gêneros – masculino e feminino. As perfurações de petróleo serão incrementadas, as proteções ambientais, retiradas. O Golfo do México será renomeado para “Golfo da América”, em referência aos EUA.
Sem dizer como fará isso — vários trechos do discurso soaram como irreais — Trump assegurou que o Canal do Panamá voltará para o controle dos EUA. “A China está operando o Canal do Panamá, e nós não o demos à China, demos ao Panamá. E estamos tomando-o de volta.”
Os magnatas da tecnologia assistiam ao discurso em lugar privilegiado, perto dos ministros que compõem o novo governo e dos expoentes da extrema direita europeia. Elon Musk exultou quando ele anunciou que vai fincar a bandeira dos Estados Unidos no planeta Marte.
Foi interessante observar a retomada dos ritos das posses presidenciais americanas, interrompida há quatro anos, pelo mesmo Trump, que se recusou a reconhecer a vitória de Biden. Nesta segunda-feira, ambos chegaram, na mesma limusine, à sede do Congresso. Quem imaginou o início de uma conciliação política, enganou-se. Era apenas jogo de cena.
Após despedir-se do agora ex-presidente, Trump dirigiu-se a outro salão do Capitólio, onde estavam os seguidores que não puderam entrar na Rotunda, e começou um novo discurso, mais informal e com a ladainha habitual: repetiu as mentiras de que a eleição de 2020 foi roubada, zombou da fisionomia fechada de Hillary Clinton e condenou os perdões preventivos decretados por Biden pouco antes de deixar a Casa Branca. “Acho que esse discurso foi melhor do que eu fiz lá em cima”, resumiu.
Os maiores desafios de Trump estão apenas por começar, ainda que tenha a maioria no Congresso e o domínio sobre o Partido Republicano. Ele não pode se reeleger e tem pouco tempo, apenas dois anos até as eleições de meio de mandato, para executar a enorme lista de afazeres enumerados na posse, sem decepcionar seus eleitores.
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