Família procura restos mortais de mãe após erro em exumação em cemitério no interior de SP


Ossos de idosa deveriam ir para novo túmulo, mas foram armazenados sem identificação em Araras (SP). Administração e Polícia Civil também apuram venda irregular de jazigos. Pedro não sabe onde estão os restos mortais da mãe em cemitério de Araras
Nilson Porcel/EPTV
Uma família de Araras (SP) procura os restos mortais da mãe após erro durante o processo de exumação. Os ossos da mulher foram retirados do túmulo antigo, mas ficaram sem identificação. A administração diz que tomou medidas para evitar o problema.
A Polícia Civil e a administração também apuram um suposto esquema de venda irregular de túmulos. Um servidor foi exonerado e outra é investigada. (veja mais abaixo).
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Família de Araras procura pelos restos mortais da mãe no Cemitério Municipal
Exumação para novo túmulo
Em 2021, a mãe de Pedro* sofria com uma doença crônica no pulmão e se sentiu mal, mas, como era época de pandemia, ela ficou com medo de buscar ajuda. Ela acabou piorando e foi levada às pressas ao médico, mas não resistiu e morreu em 9 de Junho aos 62 anos.
Ela foi enterrada em um túmulo provisório, onde poderia ficar por 3 anos. Enquanto isso Pedro comprou um jazigo particular na região da Rua 65.
A ideia era transferir os restos mortais para o local, mas o filho não queria acompanhar a exumação. “É muito difícil. Eu tenho a imagem dela viva, mas depois de uns 3 anos, que ela já não é mais passível de uma identificação visual, é mais difícil pra mim”, disse.
Túmulos do Cemitério Municipal de Araras
Fernanda Ribeiro/EPTV
Em maio, Pedro foi até o cemitério para falar com a administração e acertou todos os detalhes, informando que não acompanharia a exumação para o enterro no novo túmulo da família.
Depois disso ficou tranquilo, mas, no último domingo (14), foi conferir se estava tudo certo e levou um susto.
“Fui mostrar para o meu irmão onde ela estava. Primeiro mostrei o túmulo novo e ela não estava. Eu desci no túmulo antigo e infelizmente tive a surpresa que, a princípio, teria outra pessoa sepultada”, afirmou.
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Ele foi novamente até a administração onde descobriu que outro corpo estava no túmulo antigo da mãe. No porão da capela do cemitério, ficam vários sacos de exumação com restos mortais. Pedro então se prontificou a verificar se a mãe estava entre eles.
Restos mortais de idosa foram colocados no porão da capela do cemitério sem identificação em Araras
Fernanda Ribeiro/EPTV
“Já fazia a transferência e já terminava com aquilo ali. 90% deles tinham identificação, mas em alguns infelizmente não havia a identificação de praxe”.
Pedro e o irmão viram um pino em um dos ossos e a mãe tinha um parecido, mas eles não têm certeza se é mesmo ela.
“Não sei qual era o formato desse pino. Sabemos que era da perna, mas não lembro se era esquerda ou direita. Eu acredito que ela está ali, mas a gente quer a identificação e a certeza também. Quem trabalha com isso tem que pensar em não agravar o sofrimento da família”, desabafou.
Administrador de cemitério reconhece erro
O administrador do cemitério, Thales Fernando Lima de Oliveira, reconheceu que erros aconteceram no processo.
“Houve uma falha de comunicação no momento da exumação. Nós não contatamos ele, mas a gente já tinha o aval dele de que poderia ser usado. Em momento algum os restos mortais da mãe foram desrespeitados”.
“É um procedimento de praxe aqui do cemitério. O saco dela especificamente não estava identificado, porém um dos coveiros que acompanhou a família foi certeiro no saco. Inclusive ele tirou os ossos do saco e o filho da mulher identificou um pino de prata no tornozelo. Ele não quis bater o martelo naquele momento porque ele falou que vai entrar com uma ação judicial para ter um DNA, o que é direito dele. Mas naquele primeiro momento ele já manifestou que poderia ser a ossada”, disse Thales.
O administrador do Cemitério Municipal de Araras, Thales Fernando Lima de Oliveira
Nilson Porcel/EPTV
Thales garantiu que adotou medidas para que casos parecidos não se repitam. “Eu já reforcei também tanto com o escritório quanto com a minha equipe de serviço funeral, que são os coveiros. A gente não vai exumar sem falar com a família e não vai armazenar os restos mortais se não tiver feito essa etiqueta”, afirmou.
Venda irregular de túmulos
Uma suspeita de um esquema de venda clandestina de jazigos particulares e públicos é investigada em sindicância da prefeitura e pela Polícia Civil.
“Nós estamos apurando o que está acontecendo conforme as famílias vão procurando a gente, a gente vai anexando mais provas robustas a respeito disso para tomar as medidas cabíveis. Algumas famílias foram ressarcidas e um servidor, que estava envolvido, já foi exonerado o ano passado e uma outra suspeita está afastada há 9 meses do serviço público e provavelmente será exonerada ao fim da sindicância. Conforme vai chegando informações a gente vai apurando”, disse o administrador.
A servidora continua recebendo salário enquanto a sindicância não é concluída.
*nome fictício para preservar a identidade do denunciante.
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