Cotista que recuperou vaga na USP questiona avaliação por videochamada: ‘Facilita fraude’


Estudante de Capão Bonito (SP) que recuperou a vaga após não ser considerado pardo pela banca julgadora da instituição declara que o novo sistema de avaliação de cotas por videochamadas pode facilitar fraudes e prejudicar, assim como ele, estudantes pardos ou negros. Pedro Felipe Carvalho Vaz, de Capão Bonito (SP), se formou como cotista em Educação Física pela USP
Pedro Felipe Carvalho Vaz/Arquivo pessoal
O estudante de Capão Bonito (SP) que recuperou a vaga na Universidade de São Paulo (USP) após banca julgadora não considerá-lo pardo em avaliação virtual comentou que novos critérios definidos para avaliação de cotas raciais, anunciados na última segunda-feira (22), podem facilitar fraudes.
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A Universidade de São Paulo (USP) anunciou que todas as avaliações da segunda fase de alunos aprovados por cota racial serão realizadas por chamada de vídeo a partir do vestibular de 2025. A medida será adotada em todas as modalidades de vestibular para ingresso na universidade para alunos não aprovados na análise das fotografias feitas na primeira etapa da averiguação.
Segundo a universidade, esta foi uma decisão do Conselho de Inclusão e Pertencimento que reúne representantes de todas as escolas e faculdades da USP.
Ao g1, o estudante de direito Pedro Felipe Carvalho Vaz, de 28 anos, contou que a partir de sua experiência própria com este modelo, o novo sistema pode facilitar fraudes e prejudicar ainda mais alunos pardos e negros de ingressarem na universidade.
“As pessoas que realmente estão a fim de fraudar, elas vão usar maquiagem, peruca ou qualquer coisa do tipo. Remotamente elas vão se sentir muito mais seguras para fazê-lo do que presencialmente. […] Essas bancas de heteroidentificação, elas querem mudar o conceito do que é ser pardo, os avaliadores também não competentes para fazer a avaliação”, explica.
Segundo Pedro, atualmente é muito difícil julgar se uma pessoa é parda ou não, negra ou não, até mesmo celebridades que autodeclaram pardas ou negras são criticadas em redes sociais, por pessoas que não concordam com a definição.
O jovem também questiona a qualificação dos integrantes das bancas, pois, segundo ele, médicos dermatologistas, antropólogos ou pessoas com especialização na área deveriam integrar a equipe avaliadora.
Heteroidentificação
A primeira etapa do processo de averiguação é a análise das fotografias dos candidatos, obrigatória a todos os que se autodeclararam pretos e pardos. A avaliação será feita por uma das duas bancas responsáveis por essa etapa, cada uma composta por cinco integrantes – sendo um docente, um servidor técnico administrativo, um aluno de graduação e um aluno de pós-graduação, ambos indicados pela Coligação dos Coletivos Negros da USP, e um representante da sociedade civil.
Se o candidato não for aprovado pela primeira banca, as fotografias seguem para verificação na outra banca, que faz a avaliação sem saber da reprovação anterior. Os candidatos que também não forem aprovados pela segunda banca são convocados para uma oitiva virtual. Nesta etapa, o candidato deverá ler uma autodeclaração de pertença racial, que será gravada e avaliada por uma nova comissão, composta por cinco integrantes.
Nos casos em que, mesmo após a oitiva, a inscrição for indeferida, o candidato ainda tem a oportunidade de apresentar um recurso ao Conselho de Inclusão e Pertencimento (Coip) que poderá, caso haja necessidade, realizar novas oitivas virtuais.
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O estudante ainda relata que assim como ele e alguns amigos se sentiram intimidados ao se declararem pardos, outras pessoas devem passar por isso ao fazerem as inscrições para 2025, devido às altas chances de serem negadas como pardas.
“Quando a gente passa pela banca e não é aceito, a gente não é remanejado para outra categoria para concorrer sem a cota, a gente é excluído do processo seletivo. Isso parece uma punição e intimidação para quem se considera pardo, para que as pessoas tenham medo de se declararem pardas e percam a vaga que tanto sonham em ocupar”, finaliza.
Em nota enviada ao g1, a USP reforçou que a decisão quanto às mudanças é do Conselho de Inclusão e Pertencimento, que reúne representantes de todas as escolas e faculdades da universidade.
Pedro Felipe Carvalho Vaz, de Capão Bonito (SP), conseguiu liminar para frequentar aulas de direito na USP
Pedro Felipe Carvalho Vaz/Arquivo pessoal
Relembre o caso
Pedro Felipe recorreu à Justiça para reconquistar a vaga no curso de direito da USP. Ele foi aprovado na universidade a partir de sua nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas tinha perdido a vaga por não ser considerado pardo pela banca julgadora em março deste ano.
Segundo o estudante, em 2021, se formou bacharel em educação física como cotista, também pela USP, o que seria contraditório da atual decisão da banca da universidade.
Ele conseguiu uma liminar autorizando que ele frequente as aulas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), também conhecida como Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (Sanfran).
Apesar do transtorno e ainda ter sido prejudicado financeiramente, o jovem ficou feliz em poder frequentar as aulas do curso dos sonhos.
*Colaborou sob a supervisão de Carla Monteiro
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