Jovem que quase perdeu vaga na USP por não ser considerado pardo fala sobre mudanças na avaliação: ‘Mais adequado’


USP divulgou que, a partir de 2025, todas as avaliações da 2ª fase de alunos aprovados por cota racial serão realizadas por chamada de vídeo. Jovem matriculado com cota perde vaga na USP por não ser considerado pardo: ‘Avaliação durou menos de 4 minutos’, diz família
Arquivo pessoal
Kaio Voigtlander, jovem de Alumínio (SP) que quase perdeu uma vaga na Universidade de São Paulo (USP) após a banca julgadora não considerá-lo pardo, falou sobre as mudanças no sistema de identificação étnico-racial, anunciadas nesta segunda-feira (22).
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Com as mudanças, a partir de 2025, todos os alunos aprovados por cota racial na segunda fase serão avaliados por chamada de vídeo.
Para o estudante Kaio, o sistema proposto é o mais adequado, mas ele ainda acredita que seja necessário fazer uma entrevista pessoal para a decisão. O jovem foi reprovado na banca julgadora, mas conseguiu uma liminar na Justiça para frequentar as aulas de Ciências Econômicas, no campus de Piracicaba (SP).
“O que está descrito no contexto, tem razão de ser […] Não se pode definir a cor exata de uma pessoa por contato de 2 minutos, ainda em horário que se usa a luz artificial. Pra mim, o correto é ter uma foto em conjunto com uma pessoa considerada ‘branca’ e num ambiente de luz natural. Mas mesmo assim, o sistema proposto, de várias avaliações, é mais adequado”, declarou.
Como vai funcionar a avaliação na USP?
A primeira etapa do processo de averiguação é a análise das fotografias dos candidatos, obrigatória a todos os que se autodeclararam pretos e pardos.
Se o candidato não for aprovado, as fotografias seguem para verificação em outra banca, que faz a avaliação sem saber da reprovação anterior. Os candidatos que também não forem aprovados pela segunda banca serão convocados para uma oitiva virtual.
Nos casos em que, mesmo após a oitiva, a inscrição for indeferida, o candidato ainda tem a oportunidade de apresentar um recurso ao Conselho de Inclusão e Pertencimento (Coip) que poderá, caso haja a necessidade, realizar novas oitivas virtuais.
Para especialistas, no entanto, não dá para determinar a cor de uma pessoa por chamada de vídeo. Entenda mais aqui.
Relembre o caso de Kaio
Kaio tem 18 anos e foi aprovado na primeira chamada da USP para o curso de Ciências Econômicas pelo Provão Paulista. Ele descobriu que perdeu a vaga no dia 9 de fevereiro deste ano. No dia seguinte, recorreu da decisão e teve o retorno 17 dias depois, em 26 de fevereiro, confirmando o cancelamento de sua vaga.
A família afirma que a decisão de desclassificar o jovem foi tomada após uma chamada de vídeo com a banca de heteroidentificação da USP, que durou menos de quatro minutos.
Em março, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu uma liminar ao jovem para que ele possa frequentar as aulas do curso de Ciências Econômicas.
A USP informou que “quaisquer ordens judiciais serão cumpridas” e que todas as informações que explicam e fundamentam o procedimento de heteroidentificação serão apresentadas à Justiça.
Como a universidade avaliava?
Na época em que Kaio quase perdeu a vaga na Universidade, a USP declarou que a análise das fotografias era feita por duas bancas de cinco pessoas e era baseada somente em fatores fenotípicos: a cor da pele morena ou retinta, o nariz de base achatada e larga, os cabelos ondulados, encaracolados ou crespos e se os lábios são grossos.
Caso a foto do candidato não fosse aprovada na primeira avaliação, ela era direcionada automaticamente para a outra banca. “Nenhuma banca sabe se a foto está sendo analisada pela primeira ou segunda vez, o que garante uma dupla análise cega das fotografias”, afirmou a USP em nota na época.
Ainda de acordo com a instituição, se as duas bancas não aprovassem a foto por maioria simples, o candidato era automaticamente chamado para uma oitiva presencial.
“Nas versões virtuais, a banca de heteroidentificação toma todo o cuidado para que a visualização das características fenotípicas seja feita de maneira adequada, pedindo, por exemplo, para que os candidatos mudem a posição do corpo e procurem lugares com melhor iluminação. Tudo para garantir a isonomia da oitiva”, afirmou.
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