Dois funcionários são afastados após família dizer que agressão de médico causou morte de jovem no Rio


Richard Ferreira da Cruz foi encontrado com um ferimento no pescoço na Barra da Tijuca e levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge. Secretaria de Saúde diz que jovem atacou a equipe e precisou ser contido, mas não resistiu. Família culpa agressão de médico pela morte. Delegacia de Homicídios morte de jovem durante atendimento no Lourenço Jorge
Dois funcionários do Hospital Municipal Lourenço Jorge, que fica na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, foram afastados temporariamente enquanto a Polícia Civil investiga se uma briga com um médico causou o óbito de Richard Ferreira de Cruz, de 20 anos.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse queo afastamento é para os servidores estarem disponíveis para esclarecimentos e receberem suporte ocupacional.
O jovem morreu depois de se envolver em uma briga com um médico da unidade. A polícia apura se houve excesso do funcionário. Uma amiga da família afirmou que ele implorou para ser transferido antes do incidente.
“‘Mãe, eu quero sair daqui. Estão me maltratando, eu quero sair daqui’”, citou Lidiane Teixeira, que se considera tia de Richard.
O rapaz foi encontrado com um ferimento no pescoço na Barra da Tijuca e levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge. A Secretaria Municipal de Saúde diz que jovem atacou a equipe e precisou ser contido, mas, como sangrava muito, não resistiu. Já a família culpa agressão de médico pela morte.
Em entrevista ao Bom Dia Rio desta segunda-feira (12), o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, informou que vai apurar o caso “com todo o rigor e com total imparcialidade”.
Médico foi ríspido, diz ‘tia’
Como foi o incidente, segundo Lidiane:
Richard foi encontrado no chão em frente ao Carrefour da Barra da Tijuca com marca de facada no pescoço. Ele carregava 2 sacolas de compras.
Ele foi levado para o Lourenço Jorge, a poucos metros dali.
Alessandra, mãe de Richard, cogitou transferi-lo a uma unidade particular, mas Lidiane recomendou deixá-lo no Lourenço Jorge, “porque ele estava falando e estava bem, que o sangue já estava estancado”.
Richard, no entanto, teve um surto. A mãe foi chamada para acalmar o rapaz, que disse: “Mãe, eu quero sair daqui. Estão me maltratando, eu quero sair daqui.”
Antes da confusão, o médico acusado pela família pela agressão ainda disse: “A senhora sabe que seu filho precisa de tratamento psicológico urgente, né?”
Richard começou a retirar os acessos e a gritar. O médico interveio: “Quem manda aqui sou eu! Você cala a sua boca! Quem manda aqui sou eu!”
O jovem se levantou e empurrou o médico. O profissional revidou com chutes e socos, e um dos golpes acertou o ferimento, que voltou a sangrar.
Richard acabou morrendo.
“A gente só quer justiça. Eu não tenho nem coragem de chamar esse ser de médico porque ele estudou pra cuidar de uma vida e acabou tirando a vida do meu sobrinho”, declarou.
Apuração
O secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, quer saber “se houve um excesso, uma agressão do médico” no episódio.
Soranz considerou a denúncia “gravíssima”. “É muito importante que todos sejam ouvidos, todos os profissionais de saúde ou outros pacientes que estavam no local”, disse.
Segundo o secretário, o incidente foi às 21h30 de sábado. Richard deu entrada com um ferimento de faca no pescoço que, segundo a mãe, já estava “estabilizado” quando começou a confusão.
A identidade do médico não foi divulgada. Soranz afirmou que o profissional “não tem nenhum histórico de agressão anterior”.
“Tinha muita gente no hospital. Pelo relato da equipe, o paciente [Richard] estava muito agressivo, se negando a receber os cuidados, e o médico alega que teve que conter o paciente numa situação muito delicada e de muita agressividade”, descreveu Soranz.
“Fato é que era um paciente que tinha tido uma lesão por arma branca no episódio anterior, também uma situação delicada, e tinha um sangramento intenso”, detalhou.
“Então, para conter esse sangramento intenso, o paciente precisava ficar em repouso tranquilo. Tudo que ele não estava; também não era possível utilizar nenhum tipo de contenção química devido à instabilidade que o paciente tinha”, prosseguiu.
Richard foi levado para a sala vermelha, para pacientes graves, e “vários médicos e enfermeiros estavam envolvidos nesse cuidado”. “Infelizmente ele não resistiu.”
“O fato é que a equipe ficou bastante mobilizada para esse cuidado. Eram muitos profissionais envolvidos nesse tratamento, porque o objetivo do hospital sempre tem que ser salvar vidas. É cuidar com muito carinho dos nossos pacientes.”
No domingo (11), o caso – inicialmente registrado pela 16ª DP (Barra da Tijuca) – passou a ser investigado pela Delegacia de Homicídios.
Richard tinha 20 anos
Arquivo pessoal
A íntegra da nota da Secretaria Municipal de Saúde:
“A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) considera a denúncia grave e está empenhada em uma apuração rigorosa e imparcial dos fatos ocorridos no Hospital Municipal Lourenço Jorge (HMLJ). Os profissionais envolvidos estão identificados e à disposição da Polícia Civil para prestar depoimento. Outros pacientes que estavam no mesmo setor da unidade também poderão, a critério da autoridade policial, ser chamados como testemunhas.
Os profissionais alegam terem sido agredidos pelo jovem e usado os meios necessários para a contenção. Vale frisar que, no dia 10 de maio, o mesmo paciente foi atendido no CER Barra com relato em prontuário de surto psicótico, se cortando com faca, sendo extremamente agressivo e hostil, xingando a equipe. Teve de ser contido pelos bombeiros após quebrar toda a sala da unidade. No atendimento mais recente, a situação se repetiu na sala de trauma, onde havia outros pacientes graves sendo atendidos, o que poderia colocar em risco, além da equipe médica, os demais presentes no local.
A enfermeira, em depoimento policial, denunciou ter sido ameaçada pelo paciente e relatou que o médico apenas tentou imobilizar o paciente, que estava descontrolado, em acesso de fúria, e que a mãe também tentou segurar o filho.
Os dois profissionais envolvidos foram temporariamente afastados para estarem disponíveis para esclarecimentos e receberem suporte ocupacional.
Caberá à investigação policial concluir se houve excessos que contribuíram para o óbito. A SMS e a direção do HMLJ se solidarizam com a família de Richard e seguem à disposição para colaborar com a Polícia Civil em tudo o que for solicitado para a elucidação dos fatos.”
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