Gargalo logístico impede a saída de 800 mil sacas de café do ES


Como alternativa ao Porto de Vitória, sacas seguem de caminhão para Rio de Janeiro, de onde vão embarcar para destinos finais pelo mundo. Gargalo logístico impede a saída de cerca de 800 mil sacas de café do Espírito Santo.
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Maior produtor e exportador de café conilon do país, o que é produzido nas lavouras do Espírito Santo representa 85% das exportações nacionais. Só no primeiro trimestre de 2024, o estado já exportou um 1,7 milhão de sacas. Mas, segundo especialistas, produtores e empresários, um gargalo logístico impede que os números avancem mesmo em um ano em que os preços do grão batem recorde.
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De acordo com o Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), na safra 2023/2024, 800 mil sacas de conilon deixaram de ser escoadas pelos terminais capixabas e precisaram ir de caminhão para o Rio de Janeiro.
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“Temos uma limitação em nossos terminais que precisa ser vencida. Em 2002, saíram pelo Porto de Vitória 8,3 milhões de sacas de café, agora, chegaremos, no máximo, a pouco mais de 7 milhões de sacas, e olha que a tecnologia e a produtividade do maquinário cresceram muito nas últimas duas décadas. Nosso produto está ganhando qualidade, está ganhando clientela lá fora, mas ainda temos problemas para escoar”, disse Sandro Rodrigues, secretário-executivo do CCVV.
Gargalo logístico impede a saída de cerca de 800 mil sacas de café do Espírito Santo.
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Números do café conilon:
No Espírito Santo:
Maior produtor de café conilon do Brasil. No ano passado, o estado produziu 10,2 milhões de sacas de 60 quilos, em uma área de 261,9 mil hectares. A produtividade média registrada foi de 38,8 sacas por hectare.
Pelo menos 50 mil propriedades vivem do café conilon no estado.
São 200 mil hectares de área plantada.
Também se destaca como maior exportador de café conilon, com cerca de 85% das exportações nacionais.
Além das exportações de café conilon cru em grãos, 501,7 mil sacas de café solúvel foram exportadas em 2023.
No primeiro trimestre de 2024, o estado exportou 1,7 milhão de sacas de café conilon e mais 129 mil sacas em café solúvel.
Fonte: Secretaria de Estado de Agricultura (Seag/ES)
No Brasil:
Em 2024, a produção deve atingir a marca de 11,1 milhões de sacas, representando um aumento de 9% em relação à safra anterior.
A área colhida chegará a 262,98 mil hectares (+0,4%) e a produtividade média esperada é de 42 sacas por hectare (+8,2%).
Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
Lavoura vira vitrine, mas porto segura as vendas
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A colheita do conilon na lavoura do produtor rural Douglas Peruchi, em Linhares, no Norte do Espírito Santo, deve durar até o fim de julho.
O café produzido é vendido para uma empresa que exporta os grãos. Nas últimas semanas, compradores do Japão visitaram a propriedade, o que reforça o interesse internacional pelo produto agrícola número um do estado.
“A gente trabalha com uma empresa local e ela faz esse trâmite de exportações, a gente é certificado. Os caras que compram o café daqui visitaram a propriedade, veio um grupo diretamente do Japão, visitou, viu a produção, viu na lavoura o nosso grão cereja, a nossa gestão de sacadores. Eu achei interessante, de certa forma é uma vitrine, é uma porta que se abre para empresa que está fazendo esse mercado e conecta com o produtor”, falou.
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A gerente de exportação e sustentabilidade, Renata Vaz, representa uma cooperativa no Norte do estado que produz e comercializa café. No ano passado, ela exportou 152 mil sacas para o Egito, Estados Unidos, além de países da América Latina e Europa. A previsão para este ano é enviar cerca de 200 mil sacas, mas o planejamento pode ser comprometido por causa de problemas logísticos.
“A gente acaba centralizando as exportações no rodoviário até o Porto de Vitória, e de lá é feito o transbordo até o porto do Rio de Janeiro ou de Santos, em São Paulo, porque nós não temos aqui navios de longo curso”, disse.
Gargalo logístico impede a saída de cerca de 800 mil sacas de café do Espírito Santo.
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Já o diretor-administrativo e sócio de exportadora Josemar Moro, trabalha com exportação de café há mais de 40 anos. Os grãos comprados pela equipe dele são vendidos para os Estados Unidos e Europa. Ele afirma que o Porto de Vitória não suporta o volume de exportação do estado e isso cria gargalos no modelo de negócio.
“As dificuldades são inúmeras, a gente pode pontuar aqui a questão da estrutura do porto, que não suporta o volume de exportações que o Espírito Santo tem hoje. Além disso, nós temos problemas com a fiscalização do Ministério da Agricultura, do Mapa, que não tem funcionários o suficiente para emitir os laudos necessário; faltam containers, porque a nossa região exporta em contêiner de 20 pés e importa em contêiner de 40 pés; o porto tem o clado pequeno, os navios que entram são navios de transbordam que vão pro Rio ou pra Santos, são essas as dificuldades”, enumerou.
A exportadora de Josemar está com contratos de entrega atrasados, a cada 100 mil sacas que deveriam ter sido enviadas para fora do Brasil, 30 mil não foram embarcadas por falta de contêiner. Um dos galpões ilustra o quanto os problemas logísticos afetam o escoamento.
“Nós temos bastante coisa aqui que já era para ter saído no mês de maio, contratos que eram para ser entregues no mês de junho, que a gente não conseguiu cumprir por falta de navio e não conseguiu embarcar. E quando a gente não embarca a gente também não recebe, então o nosso custo financeiro é muito maior de tá aqui mantendo esse estoque dentro de casa”, explicou o sócio.
Situação piorou pós-pandemia e crises internacionais contribuíram
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Atualmente, 99% do café exportado das empresas capixabas passam por São Paulo ou Rio de Janeiro e de lá seguem para o destino final. O vice-presidente do CCCV, Jorge Nicchio, é um dos representantes dos exportadores do grão no estado. Segundo ele, os problemas logísticos se agravaram após a pandemia, com a retomada das atividades, houve congestionamento de linhas marítimas.
“Já em 2023, principalmente no segundo semestres, quando tudo parecia estar normalizado em relação a pandemia, houve um aumento de demanda dessas linhas marítimas, que se agravou com a crise do Mar Vermelho, com o ataque de grupos rebeldes no Canal de Suez, que é uma linha importantíssima de escoamento de mercadorias em geral, não só de café, da Ásia para Europa. Isso fez com que a crise aumentasse mais ainda com falta de navios e cancelamento de linhas. Já falando especificamente sobre o Brasil, cerca de 70% do café produzido é embarcado por Santos, e 27% pelo Porto do Rio de Janeiro, e o Porto de Santos está exaurido, extenuado”, explicou Jorge.
Outra preocupação do setor tem a ver com a safra do conilon. A estimativa é de que sejam produzidas 50 milhões de sacas em 2024, o recorde na produção também deve puxar o recorde na exportação. Mais produto, pode gerar mais atrasos e prejuízos para os empresários locais.
“Esses cancelamento de linhas, esses atrasos de navios, dão custo não só de tempo, de empréstimos bancários, mas também de entrega do café que fica parado, e dentro do porto tem um custo muito grande. e sem previsibilidade pq tá sempre atrasado, voltando em santo, 78% dos navios em maio sofrem atraso ou cancelamento de linha, falou.
Grãos levados para o Rio de Janeiro de navio
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O atraso no embarque, implica no atraso do faturamento.
“Uma venda que você deveria faturar no mês corrente você acaba que com esses atrasos logísticos, de 20 a 30 dias mais ou menos, no porto de santo, aqui em viz a gente já tem atrasos de 30 dias ou mais, isso gera um prejuízo financeiro. No mês de março, você vai faturar no final de abril, o que deveria faturar em abril fica para maio, então você acaba gerando custos financeiros para uma operação que deveria ser liquidada com menos tempo”, falou Renata Vaz.
Como alternativa, a gerente de exportação e sustentabilidade explicou que a cooperativa de café vai usar rotas viárias para mandar o café diretamente ao Porto do Rio de Janeiro. O custo com o frete deve aumentar cerca de 50 por cento, mas o movimento deve garantir fluidez ao negócio.
“Vamos fazer uma operação de levar o café até o rio, estufar por lá e despachar. nós vamos fazer as duas operações para ver qual delas é mais compensatórias, vai ser mais eficiente e mais rápida para o cliente”.
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A expectativa é a de que um novo porto comece a operar na região Norte do Espírito Santo entre 2025 e 2026, para desafogar o tráfego e continuar impulsionando a economia.
“A gente tá na esperança que venham novas estruturas portuárias para a região, pra poder desafogar essa situação”, apontou Josemar.
Pensamento este reforçado pelo vice-presidente do CCCV.
“Conseguindo embarcar daqui diretamente para o nosso destino final, para Ásia, América do Norte, Europa, como a gente já faz, é a maior expectativa. Uma capacidade de escoamento melhor passa por um novo porto para nós no Espírito Santo, só assim a gente vai ver um futuro mais claro lá na frente”, Jorge Nicchio.
Comitê para mapear as dificuldades
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A Vports (empresa que administra o Porto de Vitória) informou que foi montado um comitê, denominado Comex-ES, reunindo todos os principais atores do setor portuário capixaba, com objetivo de mapear dificuldades, propor soluções e cobrar ações concretas e sistêmicas de todos os envolvidos, unindo forças e definindo responsabilidades em prol do fortalecimento do segmento e do desenvolvimento econômico do estado.
De sua parte, a empresa vem trabalhando ativamente ao longo desses primeiros 20 meses de concessão privada para implantar melhorias à infraestrutura portuária, de maneira a possibilitar que os usuários do porto tornem suas operações cada vez mais eficientes.
Disse ainda que está investindo R$ 150 milhões em obras de infraestrutura, que incluem recuperação de silos, reformas em berços, revitalização da estrutura ferroviária, entre outros projetos.
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