Sérgio Cabral foi farol que jogou luz, conhecimento e afeto sobre tradições da música brasileira em livros e discos


Ao morrer aos 87 anos, no Rio, jornalista deixa obra que engloba expressivos trabalhos como escritor, compositor, pesquisador e produtor musical. ♪ OBITUÁRIO – Quando Martinho da Vila lançou há 50 anos um dos álbuns mais populares da discografia do artista, Canta canta, minha gente (1974), um dos sambas do LP veio com a assinatura de Sérgio Cabral, parceiro de Rildo Hora em Visgo de jaca (1974), música que seria amplificada entre gerações mais jovens na gravação feita pela cantora Céu 35 anos depois para o EP Cangote (2009).
Dois anos depois, outra parceria de Rildo Hora com Sérgio Cabral, Os meninos da Mangueira (1976), fez grande sucesso na voz do cantor Athaulfo Alves Júnior (1943 – 2017).
Além do sucesso como compositor na década de 1970 e do êxito como produtor musical, ofício que exerceu de 1973 a 1981, o carioca Sérgio de Oliveira Cabral Santos (17 de maio de 1937 – 14 de julho de 2024) também fica imortalizado na história da música brasileira como pesquisador e como escritor de livros – biografias, sobretudo – em que perpetuou o conhecimento que angariou em 87 anos de vida.
Jornalista Sérgio Cabral morre aos 87 anos
A morte de Sérgio Cabral na manhã deste domingo, na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), entristece o mundo da música, em especial o universo do samba.
Jornalista, profissão na qual ingressou em 1957, Cabral usou o faro de repórter para pesquisar e amealhar informações que renderam livros como As escolas de samba do Rio de Janeiro: o quê, quem, como, onde e porquê, editado no mesmo ano de 1974 em que Martinho da Vila apresentou o samba Visgo de jaca ao Brasil.
Sérgio Cabral foi um farol que jogou luz e conhecimento sobre tradições da música brasileira, com ênfase no amor pelo samba. Era capaz de fazer elogios superlativos aos discos e/ou aos artistas que apresentava em textos escritos para os formadores de opinião (releases, no jargão do jornalismo musical). Mas era também rigoroso com a apuração e exposição das informações – rigor que usou ao julgar as escolas de samba na função de comentarista de Carnaval da TV Globo nos anos 1970.
Em favor da difusão de informações detalhadas e precisas, Cabral por vezes até prejudicou a fluência das narrativas de livros como Elisete Cardoso – Uma vida (1993) e Nara Leão – Uma biografia (2001).
Nacionalista ferrenho quando o assunto era música, mas sempre amoroso no trato com os artistas, Sérgio Cabral deixa rede de afetos na passarela do samba, além de folha de grandes serviços prestados à memória da música brasileira, seja por ter biografado nomes do porte de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) e Pixinguinha (1897 – 1973), seja por ter sido o produtor musical de álbuns relevantes de artistas como Baden Powell (1937 – 2000), Dona Ivone Lara (1922 – 2018) e Paulinho da Viola.
Sempre dentro do universo do samba e do Carnaval, Sérgio Cabral também contribuiu com a pesquisa e o texto de musicais de teatro como Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha (2007) e É com esse que eu vou (2010), ambos encenados com o sucesso que pautou a vida e a obra deste artista de talentos múltiplos, agitador da cultura e das tradições musicais do Brasil.
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