Os 5 hits mais bizarros da história da música pop


Ranking do g1 reconta histórias de músicas que viraram hits e são nada comuns. Lista tem refrão só com ‘Mmm’, sucesso criado para zoar pop e canção caótica da Nova Zelândia. Quando eu hitei: OMC e o bizarro sucesso que tomou as paradas musicais
O que faz uma música ser bizarra? E como uma canção pode ser tornar um hit, mesmo sendo estranha, bem diferente do que se ouve geralmente nas paradas de sucesso? Abaixo, o g1 lista cinco histórias de músicas que viraram hinos do pop e são nada comuns.
O ranking tem hit falado que teve sobrevida como sucesso nas pistas e como a primeira música a ganhar uma MP3. O top 5 também traz um refrão “Mmmarcante” e outro boêmio anarquista. Mas nada supera o primeiro lugar (veja o vídeo acima e leia mais no fim do texto). Ele é ao mesmo tempo improvável, caótico e, acima de tudo, irresistível.
5) ‘Tom’s Diner’ (Suzanne Vega)
Capa do single ‘Tom’s diner’, de Suzanne Vega
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“Tom’s Diner” foi o segundo sucesso da cantora americana Suzanne Vega, após o estouro de “Luka”, na qual a personagem-título narra em primeira pessoa abusos infantis sofridos por ela. O “restaurante do Tom” é onde ela costumava tomar café. Dois anos depois, em 1989, ele se tornaria cenário da série “Seinfeld”.
A música é meio estranha porque tem apenas a voz da cantora. Ela vai narrando cenas que vê da mesa, em uma manhã chuvosa em Nova York. Em 1990, o duo eletrônico inglês DNA fez um remix de “Tom’s Diner” e ele foi parar no top 10 de 14 países.
A versão original de “Tom’s Diner” foi a primeira canção a ser digitalizada na história: o arranjos simples ajudou na escolha, é claro. Karl-Heinz Brandenburg, o engenheiro alemão responsável por esse feito, ouviu a música e ficou encantado com a voz de Suzanne. A escolha deu a ela o título de “mãe do MP3”.
“Aquilo revolucionou a forma com a qual ouvimos música, mas destruiu a indústria como a conhecíamos. Havia muito desperdício, as gravadoras gastavam com coisas bobas”, ela teorizou, anos depois.
4) ‘We No Speak Americano’ (Yolanda be Cool)
Capa do single ‘We No Speak Americano’, da dupla Yolanda be cool
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“We No Speak Americano”, do Yolanda Be Cool, é toda construída a partir de trechos de “Tu vuò fà l’americano”, sucesso de 1956 do cantor italiano Renato Carosone. “Ela é meio que uma música piada, mas aprendemos a amá-la”, disse Andrew Stanleyao, a metade mais fanfarrona da dupla, ao g1. Além da versão que fez sucesos em 2010, a música foi cantada por Sofia Loren em 1960; e apareceu no filme “O talentoso Mr. Ripley”, na voz de Jude Law, em 1999.
“Nunca pensamos que teríamos uma música tocando na rádio logo após tocarem Britney Spears. Mas a gente teve”, resumiu Matthew Handley, o outro DJ e produtor do projeto.
Antes do hit, Matt foi DJ no Brasil entre 2004 e 2005. “Eu fiz residência em um clube do Leblon chamado Melt. Então, eu costumava tocar lá todas as sextas-feiras por um tempo. Até uma noite, eu estava muito bêbado e tocando vinil e as agulhas estavam quebrando, as agulhas estavam pulando e foi um desastre.”
O sucesso de “We no speak americano” trouxe uma pressão por mais hits zoeira. Mas eles não eram DJs que curtiam tanto fazer esse tipo de música, queriam um som mais alternativo. “Fomos jogados em um mundo que não estávamos tão preparados para estar”, explicou Matt. O hit não fez com que eles ficassem bilionários, mas foi importante para largarem “os empregos diurnos”. “Abriu um mundo de turnês e viagens que nunca imaginamos.”
VÍDEO: Relembre ‘We No Speak Americano’
Quando eu hitei: Yolanda Be Cool e a surreal ‘We No Speak Americano’
3) ‘Tubthumping’ (Chumbawamba)
Capa do álbum ‘Tubthumper’, da banda Chumbawamba
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A banda inglesa Chumbawamba já contava 15 anos de carreira dedicada ao pós-punk anarquista, quando decidiu propor um desafio para si mesma: “E se a gente criasse um hit número um, fizesse sucesso e se infiltrasse na música pop para sabotá-la?”
Assim nasceu “Tubthumping”, do refrão “I get knocked down, but I get up again / You are never gonna keep me down”. O hit fez a banda ficar conhecida com uma letra com um “protesto operário”, nas palavras deles. Cantar sobre “beber, cair e levantar” era uma forma de defender o direito de os trabalhadores encherem a cara após um dia duro de trabalho.
Este coletivo de oito pessoas ocupou um prédio abandonado em Leeds, na Inglaterra, onde todas as decisões do Chumbawamba (a comunidade e a banda) eram decididas com votações. A ideia servia para decisões da rotina na casa e para decisões artísticas (nome de álbum, estilo do figurino, músicas a serem gravadas).
Os lucros eram divididos e passaram a ser bem maiores a partir de “Tubthumping”, lançada em 1997. “Alguns fãs do começo da banda pensavam que a gente tinha se vendido, mas na verdade a gente tinha um plano de tentar fazer a diferença usando aquela posição privilegiada para divulgar causas diversas e dizer coisas na televisão ou na mídia”, conta Dunstan Bruce, um dos integrantes, ao g1.
Entre as controversas ações do Chumbawamba, o grupo aproveitou a ida ao Brit Awards em 1998 para jogar um balde de água com gelo em John Prescott, então vice-primeiro-ministro do Reino Unido durante o governo Tony Blair. O protesto fez a banda deixar de ser convidada para premiações. O grupo também incentivou que os fãs roubassem os álbuns deles, caso não tivessem dinheiro. A atitude fez grandes lojas exibirem os CDs do grupo em lugares trancados, sem acesso fácil.
Dunstan também explica que era comum liberarem as músicas do Chumbawamba para anúncios publicitários de grandes marcas. Depois, eles pegavam o dinheiro e doavam para instituições ativistas que fiscalizavam o trabalho daquelas mesmas marcas. Foi assim quando a banda cedeu músicas para trilhas sonoras de propagandas da General Motors e Renault, por exemplo.
Entre 1997 e 2001, eles fizeram parte do mainstream e tocaram em arenas e talk shows de sucesso, mas logo depois voltaram a ser independentes e a se dedicarem a outras atividades.
2) ‘Mmm Mmm Mmm Mmm’ (Crash Test Dummies)
Capa do single ‘Mmm Mmm Mmm Mmm’, da banda Crash Test Dummies
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Em 1993, foi lançada uma das canções mais estranhas da história da música pop. “Mmm Mmm Mmm Mmm” tinha um refrão bastante simples: o vocalista apenas ficava cantando “Mmm Mmm Mmm Mmm”. Mesmo com toda essa peculiaridade, a música da banda canadense Crash Test Dummies chegou ao top 10 em mais de 20 países, incluindo o Brasil.
“As pessoas às vezes me perguntam. Qual é o problema? Você não conseguiu pensar em nenhuma palavra?”, disse Brad Roberts ao g1, rindo um pouco.
Autor de “Mmm Mmm Mmm Mmm” e vocalista do Crash Test Dummies, ele até tentou encaixar frases substituindo o “Mmm Mmm Mmm Mmm”, mas não rolou. Nos anos seguintes, a música apareceu em listas como “piores músicas” ou “as mais bizarras”. “O negócio é que quando você tem uma música que fica tão famosa assim, você fica mais propenso a ser criticado mesmo, porque você nunca vai conseguir agradar todo mundo.”
“Mmm Mmm Mmm Mmm” conta a história de três crianças “estranhas”. “Depois que todos os versos foram escritos, eu amarrei tudo com essa parte ‘Mmm’, que é basicamente um período de reflexão, enquanto o ouvinte tem tempo para assimilar a história da primeira pessoa. Depois, tem outro período de reflexão, depois o próximo verso e assim vai.”
Outra peculiaridade é a voz super grave do cantor. Ele começou a carreira apenas escrevendo as músicas para outras pessoas cantarem. “E elas nunca cantavam do jeito que eu cantava na minha cabeça”, lamenta. “Virei cantor meio no automático. Eu nunca pensei que minha voz pudesse ser consumida pelas massas. Mas descobri que minha voz acabou sendo um catalisador para o nosso som. Para minha surpresa, as pessoas realmente gostaram da minha voz.”
Hoje, Brad vive com a esposa em Nova York. Ele segue na ativa: o Crash Test Dummies ainda faz turnês e ele tem desenvolvido ideias de novos projetos sobre temas complexos como a criação da linguagem.
VÍDEO: Relembre ‘Mmm Mmm Mmm Mmm’
‘Mmm mmm mmm mmm’: os 30 anos do hit mais estranho da história da música pop
1) ‘How bizarre’ (OMC)
Capa do single ‘How Bizarre’, da banda OMC
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Uma das músicas mais tocadas de 1996 tinha arranjo que parecia um prato de uma pessoa indecisa em um restaurante self-service (Pizza, sushi de kani e farofa… por que não?).
Em “How bizarre”, havia trompetistas mariachis, violãozinho inspirado em Lou Reed, rap contra o abuso da polícia neozelandesa e refrão soul rimando “baby” e “crazy”.
Feita em poucas horas, ela traduz o caos que é a vida, resumiu ao g1 o produtor e compositor do hit, Alan Jansson (veja entrevista no topo). Com mais de 50 anos a serviço da música pop da Nova Zelândia, ele ajudou o então jovem rapper de 25 anos Pauly Fuemana a chegar ao topo da parada americana. “How Bizarre” rendeu pelo menos US$ 11 milhões em direitos autorais para os dois autores. “Tirando o nascimento das minhas duas filhas, esse foi o momento mais emocionante da minha vida”, resumiu Alan ao g1.
A letra foi criada e gravada por Pauly em menos de 15 minutos. O cantor morreu em 2010, aos 40 anos, depois de gastar todo o dinheiro que ganhou com “How bizarre”. A causa oficial da morte foi pneumonia, mas ele tinha uma doença neurológica. Ele continua sendo o cantor mais ouvido da história da Nova Zelândia por conta de versos em que denuncia o preconceito da polícia local:
“De repente luzes azuis e vermelhas / Brilharam vindo de trás / Em voz alta: ‘Todos vocês, por favor, para o acostamento’ / Pele diz palavras de conforto, Zina apenas esconde os olhos / O policial abaixa os óculos: ‘Esse é um Chevette 69?’ / Que bizarro!”
Para Pauly, era bizarro ser parado com um carrão vintage só por preconceito: os integrantes do OMC eram de povos indígenas da periferia da cidade de Auckland. Alan fala com carinho sobre a chance de ter trabalhado com esses indígenas indies.
“Toquei o violão com uma pegada meio Lou Reed. E ele disse ‘Oh, uau, eu tenho algumas palavras para isso’. E ele começou a cantar.” Quase tudo na música ficou melhor na primeira gravação. “Foi muito rápido e muito fácil, e aquela “tatata, tatata”, que é uma guitarra espanhola. Era uma guitarra de US$ 15 com cordas de nylon que eu comprei em um brechó.”
Fã do trompetista americano Herb Alpert, Pauly pediu que Alan incluísse uns trompetes no arranjo. O cantor começou a imitar o som do instrumento e como ele encaixaria na música. “Me faz lembrar de ‘Blue Moon’, sabe? Eu não vou dizer que eu roubei, mas eu peguei a ideia, peguei um pouco da melodia”, reconhece Alan, citando a versão do grupo vocal The Marcels, de 1961.
Depois do sucesso, ele ouviu de executivos que poderia rolar um ou outro processo por plágio, mas para a sorte dele, nenhum deles foi confirmado. “Eu sempre vou lembrar do meu editor dizendo para mim: ‘Alan, ou vai ser o maior sucesso de nossas carreiras ou nós dois somos uns puta estúpidos’.”
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