Alison dos Santos fala da importância do melhor amigo: ‘Energia de família’

O velocista decidiu viver e treinar nos Estados Unidos para aproveitar a estrutura do complexo de atletismo de Clairmont e levou o Wesley Victor, também conhecido como Biscoito. Por trás da medalha: Alison dos Santos recebe o apoio do melhor amigo Wesley Victor para treinar para as Olimpíadas
Nesta semana, o Jornal Nacional apresenta pessoas muito importantes para o sucesso dos nossos atletas olímpicos. A segunda reportagem é com o velocista Alison dos Santos e o melhor amigo.
Vez ou outra, os pés merecem um bom descanso. Afinal de contas, não é uma tarefa fácil sustentar o título de campeão mundial e medalhista olímpico no corpinho de 2 m de altura.
“Acabou a paz de vocês agora. Se quiserem, vão ter que correr rápido, porque chegou para fazer história”, diz Alison dos Santos.
O paulista Alison dos Santos, o Piu, é especialista em uma modalidade que pode ser explicada de maneiras diferentes. Tem a versão modesta, do próprio Alison:
“O 400 m com barreira é simples. Uma volta na pista de atletismo, com dez barreiras”.
E tem a opinião dos especialistas.
“Na opinião geral do atletismo, é a pior prova que tem. A dor, o treino, o cansaço, o esforço, é fora de série”, afirma Alison.
Quem vê a alegria transbordante do Alison na pista nem imagina o quanto é difícil.
“Aquecer ali, relaxado, dançando, curtindo minha música é algo que me ajuda bastante. Fazer tudo bonitinho, com calma, um passo de cada vez”, diz.
Na prova masculina dos 400 m, as barreiras medem 91 cm de altura. Um desafio para os corredores que precisam saltá-las em sequência e em alta velocidade. Para o Alison, são só mais alguns obstáculos entre tantos que ele precisou superar na vida.
“Eu já tinha 10 meses de vida e já conseguia andar. Cheguei no fogão e bati a mão no cabo da panela, onde o óleo caiu, bateu na minha cabeça, no meu olho, no meu peito e no braço. Aí eu fiquei internado uns três, quatro meses. Quando eu era novo, até os meus 15, 16 anos ali, eu era muito tímido, muito fechado”, conta Alison dos Santos.
“Ele tinha dificuldade de conversar com quem ele não conhecia. Um pouco de receio de ter que explicar tudo que geralmente todo mundo perguntava quando via ele sem boné: ‘Nossa, o que aconteceu?’ Ou pessoa sem noção que falava: ‘Nossa, que feio’”, conta Wesley Victor.
Wesley Victor, também conhecido como Biscoito, melhor amigo e corredor dos 110 m com barreiras. Há 14 anos, escolhendo as palavras certas para ajudar o Alison.
“É algo que você pode trazer para o positivo, é o seu diferencial. Só você tem isso. Não tem como te copiar”, diz Wesley.
“Um anjo que você acaba tendo na sua vida”, afirma Alison.
“O esporte ajuda muito na autoestima, isso é bom, dá confiança. E com o tempo, ele foi se aceitando”, conta Wesley.
O Alison se tornou uma estrela do esporte com a medalha de bronze nas Olimpíadas do Japão. A amizade dos dois sempre correu com muita harmonia.
“O que anima bastante ele para a competição é uma playlist. Então, a gente sempre monta a playlist junto para competição. Tinha uma música que falava ‘seguimos inabaláveis para sempre’. Essa era a música que tinha colocado e naquele ano ele foi inabalável. Nada parou o homem”, conta Wesley.
2022: o ano em que Alison realizou o sonho de ser campeão mundial dos 400 m com barreiras.
Em fevereiro de 2023, ele sofreu uma lesão grave no joelho.
“Eu fiquei um mês e meio, dois meses sem correr mesmo. Para voltar a treinar, demorou papo de três meses e meio”, conta Alison.
O Biscoito continuou sendo doce e otimista.
“No momento da cirurgia, da lesão, no que eu precisasse… Ir na esquina ali buscar um negócio, são cinco passos, ele estava ali comigo. Ah, vamos ficar aqui assistindo um negócio, só resenhar, trocar uma ideia, ele estava comigo”, lembra Alison.
O Alison decidiu viver e treinar nos Estados Unidos para aproveitar a estrutura do complexo de atletismo de Clairmont. Tecnologia, conforto, troca de informação, de conhecimento. Lá, ele tem quase tudo que precisa para trabalhar em altíssimo rendimento. Agora, a amizade, ele precisou levar do Brasil.
“Nós estávamos juntos quando os dois não tinham nada e, quando ele conseguiu sair disso e ter uma condição melhor, ele me puxou com ele. Eu acho que ele me trouxe, além de perspectiva de vida, ele foi um segundo pai para mim”, afirma Wesley.
“Tem que tomar cuidado. Porque o moleque é criativo, ele é esperto”, diz Alison.
“Chama ele de Grinch. Ele tem um pijaminha do Grinch. Ele acorda com esse pijaminha muito mal-humorado. Ele está viciado em ler livro. Está todo mundo conversando, ele está com o livro dele aqui ó… Você fala com ele e ele nem escuta”, conta Wesley.
A vida passa, eles correm, a amizade fica.
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