“A Novidade”, “Sandra”, “A Novidade”: as músicas compostas por Gilberto Gil em Florianópolis

Sim, “A Novidade” veio dar na praia e isso envolve mais uma de Gilberto Gil em Florianópolis. Um dos clássicos da banda Paralamas do Sucesso, a música “A Novidade”, do álbum “Selvagem?”, lançado em 1986, cuja letra é de Gilberto Gil, foi composta por ele durante sua estadia na cidade naquele ano.

Gil revelou a história nessa semana durante a participação em um programa da TV aberta.

Gilberto Gil e Florianópolis já renderam muitas histórias – Foto: Douglas Fischer/Secom Itajaí/Reprodução/ND

Segue o relato do próprio Gil:

“Um dia eu estava em Florianópolis, tinha ido fazer um show lá. Tava no hotel e, de repente, recebo um telefonema. Era o Herbert (Vianna, vocalista do Paralamas do Sucesso). ‘Gil! A gente tá aqui terminando um disco e temos uma música que tá pronta, mas não temos letra. Tá na hora de acabar. Será que você não dá um jeito’. Eu dido que estou em Florianópolis, o que é eu vou fazer agora? ‘Mas eu vou mandar aí para você’, disse Herbert. Ele mandou uma fita cassete pelos Correios”

Gil saiu da praia e foi até o Centro da cidade buscar a fita. “Era duas horas da tarde, eu peguei e voltei para o hotel. O meu quarto ficava bem defronte à praia. A novidade veio dar à praia, na qualidade rara de sereia. Metade o busto de uma deusa Maia. Metade um grande rabo de baleia. Meia hora depois eu liguei para ele (Herbert) e disse ‘olha aqui ó, tá bom assim?!

 

Detenção de Gilberto Gil em Florianópolis rendeu “Sandra”, “A Gaivota” e “Cânhamo”!

Com essa, já são pelo menos quatro músicas escritas pelo baiano e inspiradas em suas passagens pela cidade. Três dessas surgiram durante uma turbulenta vinda de Gil à cidade, em 1976, quando ele foi detido por porte de maconha. Na ocasião, ele veio com Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia para um show da turnê dos Doces Bárbaros, e foi detido junto com o baterista da banda Chiquinho Batera.

Os dois acabaram transferidos para uma clínica psiquiátrica. Dessa episódio surgiu “Sandra” e que foi lançada em 1977. A canção fala de uma série de mulheres, entre internas e enfermeiras com quem ele conviveu naquele período de 40 dias até a sua soltura. O engraçado é que durante anos, Gil negou que a letra se tratava dessas pessoas, mas a história sempre se sustentou na cidade pelos depoimentos das próprias protagonistas.

Ana Bessa, por exemplo, era uma das garotas internadas e concedeu diversas entrevistas sobre o caso (inclusive para mim e para o jornalista Fábio Bianchini para uma reportagem da finada revista Bizz em 2006). “E Ana, porque parece uma cigana da ilha…”, diz a letra. No ano passado, Gil revelou no Twitter que sim, a música foi composta na ocasião da sua internação na Ilha.

Tem “A Gaivota”, que Gil também gravou e que foi apresentada pela primeira vez ao juiz Ernani Palma Ribeiro, o mesmo que julgou o caso da sua prisão – e, pela primeira vez na história do país, aplicou como pena a substituição da prisão por internação.

A quarta canção, essa ainda é cercada de mistérios, mas a letra chegou até ser publicada no jornal O Estado na ocasião, e diz muito sobre o estado de espírito de Gil durante aquele período de estadia forçada na cidade:

“‘Toda obscuridade é clara; Pé quente, cabeça fria; saia despreocupado; mas cuidado, porque entre o bem está o mal‘”

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