Drag queens utilizam meios alternativos para recriar espaços e viver da arte em Alagoas


No Dia Internacional da Drag Queen, artistas contam histórias que inspiram e relatam dificuldade em se inserir no cenário artístico no estado. Fernando criou a persona Foxes para fortalecimento da arte drag em Alagoas
Arquivo pessoal
“A arte drag me ajudou a me aproximar mais da minha mãe. Jamais imaginei que hoje ela me apoiaria tanto”. Produtor cultural em Maceió, Fernando Casimiro, de 26 anos, viu a vida ganhar um novo tom com o nascimento da drag Foxes.
Assim como ele, muitos artistas celebram o Dia Internacional da Drag Queen nesta terça-feira (16), resistindo e tentando viver da arte drag no estado.
Fernando Camimiro usa arte drag como ‘válvula de escape’ para enfrentar a ansiedade
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Nando, como é chamado por amigos, contou que quando era criança acompanhava no Orkut alguns vídeos de drags que performavam na antiga boate Havana. Foi a partir dessas referências que se interessou pela arte drag, e em 2014 começou a testar maquiagem de forma autônoma.
“A Foxes surgiu tendo como inspiração as artistas que performavam antigamente, e também depois de um relacionamento conturbado que eu tive. Ela que me ajudou a superar muitas coisas, inclusive passar por um processo de recuperação de um acidente de trânsito que me deixou sequelas na perna”, relatou.
Segundo o artista, a relação com sua mãe não era das melhores devido às incompatibilidades entre eles. Em um determinado dia, ela viu Fernando montado de Foxes através de uma foto e ficou encantada.
“Quando ela me viu pela primeira vez montada, ficou dizendo que parecia muito ela quando era jovem. E desde esse momento até agora ela vem me apoiando em tudo, me ajudando com os looks, eventos. Ela acredita muito no meu potencial, até mesmo quando nem eu mesmo acredito”, disse.
‘Me montar de drag me ensinou a ter amor próprio’
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Outra vida que foi transformada pela arte drag foi a de Bruno Borges, que há 9 anos encarna Skarllet Fuck’sia, que surgiu em um show da Pabllo Vittar no Clube Fênix Alagoas.
Bailarino, figurinista e maquiador, Bruno costuma publicar suas apresentações, lançamentos de músicas e performances em seu perfil do Instagram. Para ele, as redes sociais são um meio de fazer com que as drags não sejam esquecidas.
“É um trabalho bem árduo. Se não for elas por elas, não acontece. Os eventos drag que estão acontecendo recentemente, são de drags que estão produzindo. Se a drag não estiver postando sempre nas redes sociais, é esquecida. As pessoas que me acompanham gostam muito do meu trabalho, as amo do fundo do coração”, disse.
Bruno relatou que durante esses nove anos de trabalho drag aprendeu a se amar mais, e a lidar com diferentes públicos e pessoas.
“Me montar de drag me ensinou a ter amor próprio. Aprendi a confiar mais em mim mesmo. Além disso, tive a experiência de lidar com todos os públicos, com todos os profissionais possíveis. Montada e não montada, a Skarllet fez com que o Bruno se sentisse à vontade em qualquer lugar, qualquer situação”, concluiu.
Para além das boates
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O artistas, coreógrafo e dançarino Luidson Colatino trabalha há 19 anos como a drag Lavínia Burtner, a “drag Lala”. Ele contou que a drag começou como uma brincadeira com o intuito de canalizar todas as energias de uma criança LGBT.
“Sempre gostei de dançar, pintar, maquiar, brincar, e aí consegui juntar tudo isso dentro da arte drag. Desde quando comecei a me montar, eu me sinto com um escudo, uma armadura, para encarar o mundo”, disse.
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Além das boates LGBT e festas noturnas, o artista também trabalha em festas de aniversário, formaturas, escolas e casamentos, sempre levando sua exuberância e alegria por onde passa.
“A arte drag é fundamental para muitas famílias e para mostrar ela não é só para boate LGBT. A arte drag é plural, é para ser vista de manhã, tarde e noite, para criança, idoso, para todo mundo. É necessária para todo mundo viver bem”.
Com mais de 13 mil seguidores no Instagram, a drag Lala reúne um grande acervo de trabalhos que já fez durante sua trajetória. Ele acha importante o fomento ao trabalho das artistas nas redes sociais.
“É como um portfólio. Por isso, sempre me preocupo em levar coisas positivas para o meu público. Eu sei que é através da arte drag que a gente consegue ultrapassar barreiras. Não é um mar de rosas, mas é importante entender que a gente deve está forte para enfrentar o que tiver de vir”, pontuou.
A luta por um espaço e pela valorização da arte drag
Drag Dinner aconteceu em Jaraguá esse fim de semana
Arquivo pessoal
Com as primeiras barreiras vencidas, os artistas passam a enfrenta outros tipos de obstáculos ao longo da carreira em Alagoas, como a falta de espaço e de lugares que recebam com profissionalismo e remuneração adequada o trabalho de performar.
Pensando na escassez de oportunidades, Fernando Casimiro, a Foxes, resolveu criar o Drag Dinner Alagoas, um evento para abrilhantar o cenário drag no estado com direito a talent show e performances artísticas e que está na sua segunda edição.
“Aqui em Maceió não tem muita oportunidade para drag. Eu vejo esse tipo de espaço como a oportunidade da gente revitalizar a arte drag, porque ela está muito escassa. Raramente a gente vê drag em boate, são poucas produtoras que pagam para colocar drag na festa. E só a consumação não paga peruca, uber, maquiagem, e várias outras questões”, explicou Fernando.
Eventos como esse são populares em vários estados do Brasil, como Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Cuiabá. “Formamos um núcleo com mais de oito estados e cidades, e com um único propósito de movimentar a cena drag local”, enfatizou Fernando.
Nesse domingo (14), a Foxes, a Lala e a Skarllet participaram da segunda edição do Drag Dinner, que aconteceu em um bar em Jaraguá. Outra edição está programada para esse ano.
Drags se apresentaram em evento exclusivo em Alagoas
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