Breaking foi das ruas para as Olimpíadas de Paris: conheça os 50 anos de trajetória


Dança que integra movimento hip hop nasceu na periferia de Nova York e chegou ao Brasil com filmes e reportagens. Competições nos jogos olímpicos começam nesta sexta-feira (9). A história do breaking: das ruas para as Olimpíadas de Paris
Das ruas de Nova York para as Olimpíadas de Paris. O breaking celebra seus 50 anos com uma nova marca: a estreia dos jogos olímpicos.
A dança de rua, agora, também é considerada uma modalidade olímpica e terá suas competições nos Jogos de Paris nos dias 9 e 10 de agosto. Serão dois eventos, um para homens (chamados no movimento de B-boys), outro para mulheres (B-girls), com 32 competidores no total. O Brasil não terá representantes nestas Olimpíadas.
A trajetória do breaking
O breaking nasceu na periferia de Nova York na década de 1970 e é parte da cultura Hip Hop — que ainda inclui os DJs, o grafite e os MCs.
Segundo Thais Melo, Coordenadora de Breaking no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP) e conhecida como B-girl Thaisinha, o breaking surgiu “movido ao soul, ao funk, às músicas e a cultura negra afrodiaspórica da época”.
Seu início acontece nas block parties, como são conhecidas as festas de ruas, que reúnem pessoas de um bairro ou de uma comunidade.
“A galera dançava, curtia e tinha aquele momento que abria uma roda e cada um ia lá e fazia um passo de dança. Esses passos foram evoluindo e, juntamente com os passos de dança, tinham os grupos de dança, as gangues, que batalhavam ali”, explica Thais.
B-girl Thaisinha (Thaís Melo, Coordenadora de Breaking COTP)
Rafael Peixoto/g1
Ao longo desses 50 anos, assim como aconteceu com o Hip Hop, o breaking foi ganhando o mundo. E com essa expansão, também começou a ser chamado de break dance.
“Fica até mais explicativo para o público entender que é uma dança. Mas a gente prefere manter o nome breaking somente”, explica a Thaisinha.
Chegada ao Brasil
O breaking chega ao Brasil em 1984 por meio de filmes, vídeos e reportagens. Thais conta um fato marcante sobre essa trajetória.
Ela cita que muitos dançarinos se reuniam no Cine Marabá, histórica sala de cinema de São Paulo, para assistir ao filme “Beat Street” (1984).
“Esse filme tinha um trecho que tinha uma batalha de dança. Então a galera ia várias vezes ao cinema para assistir ao filme para poder aprender os passos.”
Um dos precursores do movimento no país foi o cantor Nelson Triunfo, que carrega no sobrenome artístico a cidade pernambucana onde nasceu.
Nelson Triunfo é um dos percursores do Hip Hop no Brasil
Divulgação
“Ele começou a dançar na Rua 24 de Maio [na região central da cidade de São Paulo]. E depois a gente vai para São Bento, na estação de metrô, onde as pessoas se reuniam para aprender.”
“Além de trocar, as pessoas batalhavam. Ali, era um grande treino onde uma pessoa aprendia com a outra a dança. Foi o grande boom no Brasil ali na São Bento. Tinha briga, tinha batalha, mas também tinha união.”
O reconhecimento dos breakers
Diferentemente do que acontece com alguns esportes, que possuem graduação, com faixas ou cordões, para mostrar o crescimento e aprendizado, a evolução dos breakers vem com o reconhecimento da rua.
“Você começa a aprender os passos, a se aproximar das pessoas, a frequentar os eventos, as festas, as competições, e ali então você começa a ser reconhecido como um B-boy ou B-girl”, explica Thais.
B-girl Thaisinha (Thaís Melo) e B-boy Clean (Cleber Luiz)
Rafael Peixoto/g1
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Como é a preparação física?
Para quem acha que para se tornar um breaker é só chegar fazendo alguns saltos e passinhos, se engana. Existe uma preparação física para a prática, que pode envolver treinos de musculação, exercícios funcionais, movimentos de flexibilidade e yoga.
O tipo de treinamento vai depender das características de dança do breaker. “Tem pessoas que saltam mais, então vão precisar de um pouco mais de potência em membros inferiores. Para pessoas que tem mais flexibilidade, a gente tem que tomar mais cuidado com a força elástica. Tem pessoas que performam mais no chão, que a gente chama de footworks. Aí essa pessoa usa bastante explosão de membros inferiores também.”
“Então a preparação vai muito de encontro com o que o breaker faz. Porque aí a gente consegue construir mecanismos, caminhos, que vão ser efetivos para essa pessoa”, explica Cleber Luiz, treinador de Breaking do COTP. Ele também é conhecido como B-boy Clean.
Ele também afirma que o treino mental é bastante efetivo para o breaking:
“Eu digo que 70% é o mental e 30% é construção de músculo, academia, fazer força.”
B-boy Clean (Cleber Luiz, Treinador de Breaking COTP)
Rafael Peixoto/g1
“No treino, a gente treina, a gente vai suar, a gente vai pensar no mecanismo, caminhos para a gente poder construir uma dança cada vez mais plástica, mais bonita, mais bem feita. Mas é mais pontual. Agora, a battle [batalha] te traz outras questões.”
“Têm pessoas te olhando, uma pressão de você estar numa competição, a energia, a sinergia do momento. Então quanto mais você trouxer esse estado mental atrelado ao físico, mais você consegue progredir, melhorar e se dar melhor em cada batalha que você participa.”
A preparação física também é essencial para o breaker aguentar o tempo de batalha. Normalmente, elas contam com 2 a 3 rounds (a depender do evento). As performances de cada breaker duram de 30 segundos a um minuto.
A escolha do tempo de performance pode se tornar uma estratégia para vencer o dançarino oponente: o período de descanso de um é exatamente o momento de apresentação do outro.
“Ele vê que você tá um pouco mais hiper ventilando e não se recuperou ainda, e aí pode fazer uma sessão menor. Aí você vai ter que gastar mais energia para responder essa segunda entrada.”
Os passos básicos
Breaking é um dos elementos do Hip Hop
Divulgação
Sejam iniciantes ou veteranos, os B-boys e B-girls precisam saber elementos básicos da dança. “É o famoso feijão com arroz”, compara Cleber. São eles:
Toprocks – conhecido como cartão de visitas, esse elemento agrupa os passos no plano alto (de pé)
Footworks – são os passos de plano baixo, como os chutes
Freezes – são as posições paradas
Go Downs – são os movimentos de descida
Power Moves – conhecidos também como Spin Moves, “são os movimentos de acrobacia. Aqueles que ‘enchem os olhos’ quando as pessoas estão dançando”, cita Cleber.
A moda no breaking
Na hora de escolher as roupas para a prática, o conforto é essencial. Mas além disso, as peças precisam mostrar a identidade do dançarino.
“A roupa é muito importante para a gente porque ela mostra nossa personalidade. Então a gente sempre gosta de usar touca, uma boina, são coisas clássicas do movimento que já vem de outrora”, explica Cleber.
“A roupa mostra quem é a gente, a nossa regionalidade, e é estiloso também. A gente gosta de se vestir bem.”
Em busca de mais espaço para B-girls
B-girl Thaisinha (Thaís Melo) e B-boy Clean (Cleber Luiz)
Rafael Peixoto/g1
Participante do movimento há 20 anos, Thais conta que iniciou no cenário porque se identificou com o lifestyle. “Não era só a dança, né? Era o estilo de roupa, a música que eu ouvia, os lugares que eu gostava de estar… Então eu me sentia acolhida pela cultura hip-hop.”
Apesar disso, ela cita que, por ser uma cultura majoritariamente masculina, sofreu preconceito e situações de machismo. “Mas não pelo hip hop e, sim, pela sociedade que, naquela época, há 20 anos, era muito machista.”
“Mas eu acredito que as coisas têm melhorado. Então a gente tem tido mais praticantes mulheres. E enquanto B-girl, a gente busca fortalecer outras mulheres e incentivar outras meninas a participarem também da cultura.”
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