“Nossa ousadia nos trouxe até aqui”, diz Soraya Menezes, criadora da Parada LGBTQIA+ de BH


Pioneira do movimento que reivindica equidade à comunidade sexodiversa é nossa entrevistada do podcast ‘Cidade das maravilhas’. Enquanto seguiam, na Avenida Afonso Pena, rumo à Praça Sete, as 12 pessoas que participaram da Primeira Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Belo Horizonte, levaram latinhas de cerveja na cabeça, vaias e xingamentos. O ano era 1999! Dentre os participantes do evento, a maioria usava máscaras de personagens de desenhos animados. E não eram fantasias – temiam se identificar.
Soaraya Menezes, em entrevista para o especial ‘A cidade das maravilhas’
Hebert Cabral/ TV Globo
Ao microfone, a criadora do evento, Soraya Menezes, inflava o número de participantes (ela conta e se diverte com a memória):
“Quando começou, eu falei que eram 50. No fim, eu já estava contando 200, e dizendo que no ano seguinte, seriam 500. E continuavam ali as mesmas 12 pessoas do começo. Como tinha pouca gente, a gente colocou uns balões para compor”
Na edição de 2024, a parada levou 300 mil pessoas à mesma Praça Sete, no Centro de BH, na estimativa da organização.
Frequentadora de espaços na Rua da Lama, Soraya se lembra que havia muito descrédito para a criação de uma parada em Belo Horizonte.
“Mas eu achava que o difícil era começar”.
Soraya, à época, estava à frente da Alem (Associação de Lésbicas do Estado de Minas Gerais). “Nosso principal desafio hoje é não deixar que se percam as conquistas de gerações passadas. E essa história não pode desaparecer. Em BH, isso aconteceu porque eu, uma mulher, lésbica, negra, de periferia, resisti e entendi que era importante”.
No momento em que viu os participantes mascarados, ela se lembra que sentiu orgulho, mesmo que as identidades não pudessem, naquele momento, ser reveladas: “Eu pensei: ‘Como são corajosas essas pessoas que estão aqui!’. Era muita ousadia, muita persistência – o medo das pessoas era perder o emprego”. Foi só a partir da quarta edição da parada que as pessoas começaram a dar a cara, a aparecer.
“Para reivindicar direito e política pública, tem que ter povo na rua. A parada era pra isso. Quando hoje eu vejo a parada atual, eu penso: ‘Era isso que deveria ser’ A gente não pede permissão para amor, mas para ter certeza de que os direitos serão garantidos. A gente pode e deve se colocar de igual para igual”.
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