Mudança na taxonomia de surucucu da Mata Atlântica pode impactar conservação da serpente


Artigo publicado nesta segunda-feira (22) diferencia populações da Mata Atlântica e da Amazônia e eleva status da subespécie Lachesis rhombeata para espécie. Indivíduo da espécie Lachesis rhombeata, que ocorre na Mata Atlântica
Rodrigo Leite
No passado, duas populações de surucucu foram consideradas subespécies diferentes: uma habitava o bioma Amazônia e outra a Mata Atlântica. As surucucus, chamadas também popularmente de surucucus-pico-de-jaca, são cobras do gênero Lachesis.
No entanto, as duas populações voltaram a ser compreendidas pela ciência como uma espécie só. Isso porque não havia evidências que pudessem provar a separação delas em duas espécies distintas.
Até que um estudo que envolveu dezesseis pesquisadores de treze instituições diferentes investigou a fundo a taxonomia do gênero das surucucus. O resultado foi o entendimento que as populações são, na verdade, duas espécies distintas.
Liderado pelo pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Breno Hamdan, integrante do Instituto Vital Brazil, o artigo foi publicado nesta segunda-feira (23) na revista científica Systematics and Biodiversity.
A população que ocorre na Amazônia é chamada de Lachesis muta, enquanto a população da Mata Atlântica é identificada como Lachesis rhombeata. Esta última teve o status de subespécie alterado para espécie, o que impacta políticas de conservação que incidem sobre ela.
Para demonstrar as evidências da mudança de status de subespécie para espécie, o estudo usou técnicas avançadas de genética, além de analisar o veneno, a morfologia e o habitat natural da espécies para entender como elas se dividem em diferentes grupos.
Indivíduo da espécie Lachesis muta, que ocorre na Amazônia
Paulo Bernarde
Segundo os pesquisadores, a surucuru da Amazônia (L. muta) tem mais escamas no ventre, a faixa preta após o olho é mais fina e o comprimento da espécie é maior (em média 1,9 metro), a cabeça é maior e a cauda um pouco mais longa.
Já a espécie da Mata Atlântica (L. rhombeata) tem menos escamas no ventre e a faixa preta após o olho é mais grossa. Alcança, em média, 1,8 metro de comprimento e tem a cabeça e a cauda menores.
O artigo ressalta uma menor diversidade genética na espécie nativa da Mata Atlântica, bioma cuja vegetação nativa representa 12% da extensão original, o que sugere que ela deve ter seu status de conservação cuidadosamente avaliado.
Impacto na conservação
De acordo com Rodrigo Gonzalez, um dos autores do artigo, antes do estudo, a espécie da Amazônia (L. muta) era considerada amplamente distribuída e seu status de conservação era considerado Pouco Preocupante (LC) pela IUCN.
Como todas as populações eram consideradas a mesma coisa, aquelas que estão em regiões ameaçadas também eram consideradas com status Pouco Preocupante.
L. rhombeata, nativa da Mata Atlântica, já está extinta em algumas localidades
Rodrigo Leite
Agora dividida em duas espécies, a serpente da Mata Atlântica (L. rhombeata), que já está extinta em algumas localidades, deverá passar por uma avaliação para determinar seu novo status de conservação.
“A partir desses resultados que resolveram as questões taxonômicas das espécies, teremos uma análise mais robusta do estado de conservação das populações e, dessa forma, poderemos propor estratégias para sua conservação”, diz o pesquisador.
Além de ser exclusiva do bioma, a surucucu da Mata Atlântica desempenha funções reguladoras importantes para os ecossistemas naturais e atuar na conservação delas, também contribui diretamente para a preservação do bioma e sua biodiversidade.
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