Haja coração: Como a emoção de torcer pode agravar problemas cardiovasculares


Estudos apontam aumento de procura à emergência de hospitais em dias de partidas importantes. Em dias de jogos importantes, aumentam as ocorrências em emergências hospitalares
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Os olhos não tiram o olho da bola que viaja pelo campo. A cada lance, uma reação na forma de gritos, gestos exagerados, comentários sobre o que o jogador deveria ou não ter feito. Envolver-se assim com um jogo de futebol é rotina para muitos torcedores, mas pode ser um comportamento que aumenta as chances de um evento cardiovascular.
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Pesquisas científicas mostram que aumentam as ocorrências em que pacientes procuram emergências de hospitais por problemas cardíacos em dias de jogos importantes. Em 2006, por exemplo, um estudo alemão publicado na revista The New England Journal of Medicine apontou crescimento de 2,66 vezes nas internações em dias de partidas da seleção alemã na Copa do Mundo daquele ano.
Em 2013, levantamento da Universidade de São Paulo apontou aumento de 4% a 8% nas ocorrências de infarto entre brasileiros em jogos de Copa do Mundo.
Já em 2014, ano em que o Mundial foi realizado no Brasil, o cardiologista Nabil Ghorayeb, médico do esporte do Hospital do Coração (HCor), conduziu outra pesquisa.
Em dias de jogos do Brasil e nas finais, alguns hospitais do país foram convidados a informar atendimentos na véspera da partida, no dia, no dia seguinte e dois dias depois. Quando procurava a emergência, o paciente preenchia uma ficha informando se havia relação do episódio com o jogo em questão. Os dados foram um tanto surpreendentes. “A final Argentina x Alemanha superou todos os outros dias em número de atendimentos. Talvez por aquele temor de que a Argentina fosse campeã”, analisa Ghorayeb.
Rivalidade exacerbada à parte, o estudo foi na mesma direção de seus antecessores: apontou aumento de emergências cardíacas em dias de jogos importantes. Cardiologistas destacam que eventos de alto estresse costumam desencadear problemas cardiovasculares, especialmente em quem tem maior risco, como, por exemplo, quem é hipertenso ou tem histórico familiar de doenças cardíacas.
Nesses casos, o nervosismo da torcida por um time de futebol pode servir de “gatilho” para desencadear episódios de angina ou até de infarto.
“Vários mecanismos geram fatores para descompensar um indivíduo sob estresse. Se há um estresse abrupto, nosso organismo tem resposta cardiovascular para aquele estímulo. Então, se você leva um susto, naturalmente você sente o coração acelerar. É a resposta fisiológica. Se o estresse é muito intenso, a resposta também. No caso de você ter uma predisposição básica, ou seja, condições cardiovasculares que geram um fator de risco maior, essa descompensação pode ocorrer mais facilmente e você parar mesmo em um Pronto-Socorro”, explica Carlos Hossri, cardiologista e membro da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).
Hossri acredita que deveria haver orientações mais específicas sobre os perigos desse tipo de estresse, especialmente em cardiopatas. “Meu pai, por exemplo, é hipertenso e já sabe que vai passar mal. Como fica muito nervoso, nem fica perto da televisão. Sabe o resultado depois. Há um envolvimento emocional muito grande e não há orientação específica para esse público. Para quem tem doença prévia, é preciso evitar esse estresse crônico ou aprender a administrá-lo algo que é difícil porque esse engajamento é subjetivo, emocional e, por isso, nos foge à razão”, afirma.
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