André Bonomini: A velha gloria da Sociedade Ginastica

“Sociedade Gymnastica de Blumenau”. “Turnverein Blumenau” para os mais tradicionais, o Ginastico como é chamado nas rodas de história, primeiro ginásio do estado, um século nas costas e velhas vigas que ainda o sustentam. Silencioso, agredido pelo vandalismo noturno, das glórias que moldaram a gigante do JASC de hoje a uma luz de esperança para vê-lo luminoso e servil outra vez.

Este nome pomposo que traz consigo fotos em preto-e-branco imponentes pouco parecem fazer o blumenauense incauto imaginar que num velho casario encravado na Rua Pandiá Calógeras, ocultos pelos gritos e risos estudantis, está aquela mesma estrutura imponente e tão importante para o esporte municipal e estadual retratada nas chapas desgastadas de outros tempos.

Nascido sob a sombra escolar em 1924, é dele o primor de ser o primeiro prédio dedicado ao esporte nesta configuração no estado. Um “ginastico”, que entre suas salas e mezanino guardava equipamentos de ginástica artística, atletismo e outros. Era a continuação de um trabalho de entusiastas que necessitavam de seu salão especial para prosseguir suas atividades e treinamentos ainda tão rudes e simples em tempos esportivos idílicos.

Interior da Sociedade Gymnastica – Turnverein Blumenau (Sylvio Zimmermann / Antigamente em Blumenau)
A prática plena da ginástica artística dentro e fora do prédio (Sylvio Zimmermann / Antigamente em Blumenau)

Suas campinas verdes e desbotadas com o tempo nos permitiram até mesmo ver o futebol nascer por aqui, e nascendo ele em meio a um chocolate: Foi um amargo 5 a 2 para os visitantes, ilustres marinheiros de um cruzador alemão que não tomaram conhecimento do modesto clube formado pela agremiação. Reflexos do que o futebol nos seria tempos depois?

Enfim, o Ginástico sobrevivia a enchentes e tempos de vacas magras, mas não sobreviveria a mão pesada do nacionalismo castrado de Getúlio Vargas e aos descaminhos da segunda grande guerra. Mudou seu nome germânico e imponente para o lusófono “Sociedade Gymnastica de Blumenau”, e pereceu até sumir nas páginas de livros e compêndios históricos.

Encontrou guarida nos cercados do então Colégio Pedro II, por volta de 1951, e por lá ficou anos em subserviência aos alunos que lá desfrutavam da aguardada e ansiada Educação Física de todos os tempos. Chegou a virar um pequeno teatro, numa reforma bem-vinda em 1985, mas seu passado era cada vez mais uma mancha quase apagada na história da cidade, lembrado por poucos até, infelizmente, cair no silêncio de hoje como um mero depósito escolar.

O time do Turnverein Blumenau, do primeiro jogo de futebol da cidade, e que acabou num 5 a 2 para os visitantes (Antigamente em Blumenau)

A Sociedade Ginastica, tão imponente quanto marcante e tão escusa aos olhos até mesmo dos acadêmicos da hoje Unisociesc, que a utilizam para o apoio do corpo em espera ou até mesmo o enquadro de um namoro sob a penumbra da noite. Tempos de faculdade que me trazem lembrança dos primeiros passos na comunicação e do meu primeiro contato com o ginástico, tão por acaso quanto deslumbrante.

Em fins de 2011, numa aula de foto publicitária (comecei a graduação fazendo Publicidade antes de mudar a habilitação para Jornalismo) apareceu a chance: uma porta aberta, a fronteira ao campus. Lembro de estar com alguns colegas da graduação lá dentro naquela sexta-feira, com a indisfarçável alegria de fim de semana e o plus de descobrir o que escondia o prédio que nos puxava o olhar toda a tarde/noite ao chegar para as aulas.

É claro, não esperem rosas. Estava esquecido, o silencio era quebrado apenas pelas nossas interjeições de deslumbramento e um certo receio de cruzar corredores de madeira de uma estrutura visivelmente comprometida. Lembro do palco deteriorado, madeiras vistas como colônias de cupins, a placa da entrega da última reforma da casa… e a “entrada do túnel”.

Professor Casemiro Saigas, fotógrafo e bom de papo, fez força para que eu chegasse ao dito local onde as lendas se alimentavam. Na verdade, alimentam até hoje, e era impossível não deixar-se levar a teorizar ali mesmo, naquele canto claustrofóbico abaixo das escadarias da porta da frente. Tudo soterrado, como se demolido muito recentemente, pouco para se provar e muito para se imaginar se era, ou não, o ponto de começo de um segredo.

(Sylvio Zimmermann / Antigamente em Blumenau)
(Sylvio Zimmermann / Antigamente em Blumenau)

Poucas vezes passei por lá depois da graduação, mas impossível era não torcer o pescoço e admirar a Sociedade Ginastica. Este silêncio que causa urticária em ver o tamanho de uma história como um casario qualquer em meio ao bate-pernas do centro que não para. Em posse do estado, não poderia esperar final melhor que não fosse o abandono até a morte… ou poderia?

Meu xará, André Cantoni (Blumencast) que cantou a pedra e a procura de respostas me levou a querida Carla Simas. Musicista de mão cheia, a frente dos trabalhos da banda do Colégio Militar Feliciano Nunes Pires (unidade Blumenau) e uma candidata a realeza da Oktoberfest que merecia uma coroa pelo amor a história e costumes intrínsecos da terrinha. Me abriu o livro e contou o porvir: a Polícia Militar está com o Ginástico e com grandes planos.

Carla me emocionou, alias o amor de alguém pela memória da nossa cidade sempre me emociona e impossível ficar indiferente ou não fazer nada, sobretudo na missão que o Colégio Militar tomou para si desde a integração da posse à PM em outubro do ano passado: recuperar a velha glória, promover a restauração digna e merecida do ginástico e começando, primeiramente, por quase que reapresenta-lo a comunidade, em um evento que marcará o centenário da casa, a ser realizado no dia 03 de agosto deste ano.

No entanto, a procura por apoiadores tem sido o grande desafio. Tanto Carla como o Subtenente Walker deixaram seus contatos e correm atrás do tempo para que o evento saia do papel e a restauração sonhada seja uma realidade. É quase como realizar os 12 trabalhos de Hércules em uma maratona com obstáculos, mas que pode ser (e será) vencida com certeza.

O atual estado do prédio preocupa, reflexo do silêncio dos anos. Mas ele pode ter um final feliz nas mãos do Colégio Militar e no sonho de leva-lo a velha glória (Giovanni Silva / Antigamente em Blumenau)

Agora, antes que me vá, tenho que deixar o puxão de orelha ao amigo e amiga empresário: será que tanta história assim tem que ser esquecida? A quem tem o poder de contribuir e apoiar, entre as canetas da mesa do escritório, a chance nobre de dar as mãos a quem quer realizar e fazer acontecer e recuperar dignamente um pedaço indelével de nossa história. Não se trata apenas de cifras necessárias, tem a ver com atitude, com ação que vai além da reclamação pelo nosso constante esquecimento histórico.

É um conselho de amigo, mas que espero valer de algo para quem quer encampar uma grande ideia e um grande desafio. O esporte de Blumenau, tão cheio de glórias e debelando contradições não merece ter sua pioneira casa de esportes a mercê do vandalismo e da crueldade do tempo. Finalmente temos a chance, vamos recuperar a velha glória do Turnverein, da sempre gloriosa Sociedade Ginastica de Blumenau.

A torcida deste escriba, desde já!

P.S.: Em tempo, a quem interessar, do empresariado desta cidade, encampar o patrocínio desta empreitada e o grande evento do dia 03/08, entrar em contato com Carla Simas (47 99279-9469) ou com o Subtenente Walker (47 99163-1958).

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