Dia da Cachaça: história e curiosidades da bebida tradicional

O dia 13 de setembro é uma data especial. Afinal, é a celebração de um patrimônio cultural brasileiro, de uma bebida rica em história e que coleciona muitos fãs. Trata-se do Dia da Cachaça.

O Dia da Cachaça é uma data recente, criada em 2009. Contudo, a bebida tem muita história para contar, fruto de uma trajetória de cerca de 500 anos. Inclusive, com o episódio que é conhecido como “Revolta da Cachaça”.

O Dia Nacional da Cachaça, assim, é uma forma de dar importância a uma bebida tipicamente brasileira, mas que já ganhou o mundo há muito tempo. Fãs não faltam, evidentemente.

O Dia da Cachaça, em 2024, nesta sexta-feira (13), é uma oportunidade para mergulhar na história da bebida brasileira, a origem, os tipos, conhecer curiosidades e até formas de apreciar. Pode até dar “sede”!

Dia da Cachaça: Xícaras de cachaça, uma bebida brasileira feita de cana-de-açúcar, uma corrida brasileira popularmente chamada de "pinga", espaço de cópia

Dia da Cachaça: reconhecimento a um patrimônio brasileiro | Foto: Istock/ND

Dia da Cachaça: conheça a origem, tipos e curiosidades da bebida mais brasileira de todas

Origem e história do Dia da Cachaça

A história da cachaça tem mais de 500 anos. Ela recebe o rótulo de primeira bebida destilada das Américas. Lá por volta de 1520, em um engenho no litoral do Brasil, em Pernambuco, surgiu uma paixão nacional.

Por que 13 de setembro é o Dia da Cachaça?

A origem do Dia da Cachaça envolve uma série de episódios históricos e políticos. Em 1660, a Câmara de Vereadores da Capitania do Rio de Janeiro propôs a liberação da produção de cachaça, algo que contrariava as diretrizes de Portugal, que proibia o comércio de manufaturas nas colônias.

Então governador da capitania, Salvador Correia de Sá e Benevides executa a medida da Câmara, mas estipula taxas a serem cobradas. Assim, dá início a uma batalha e à Revolta da Cachaça.

Em novembro de 1660, sem sucesso na tentativa de demover Salvador da taxação, que prejudicava os lucros, um grupo da freguesia de São Gonçalo do Amarante (hoje cidade de São Gonçalo) partiu na direção da Câmara dos Vereadores da Capitania e exigiu o fim da taxa e ressarcimento do governo.

Esse grupo conseguiu nomear um novo governador, Agostinho Baralho. Contudo, ele não atendeu todas as demandas dos revoltosos. Em 8 de fevereiro de 1661, em eleição na Câmara, foi destituído do cargo. Jerônimo Barbalho, então, assumiu o posto e reprimiu o movimento e se indispôs com os aliados de Salvador de Sá, que organizou uma invasão e tomou o poder no Rio de Janeiro.

Salvador de Sá, então, prendeu os revoltosos e mandou executar Jerônimo. Posteriormente, ele foi afastado do cargo pelo Conselho Ultramarino, sob acusação de abuso de poder.

Entretanto, a Revolta da Cachaça ganhou novos contornos com o anúncio de um novo imposto, aprovado pelo governador Salvador Correia de Sá e Benevides. O objetivo era arrecadar mais dinheiro para aumentar a guarnição das tropas. Liderada pela elite local, personificada em Jerônimo Barbalho, a população reagiu e requisitou mudanças.

No dia 13 de setembro de 1661, a regente de Portugal, Luísa de Gusmão, liberou a produção e a venda da cachaça no Brasil. Por isso, o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), em 5 junho de 2009, criou o Dia Nacional da Cachaça, celebrado em todo 13 de setembro.

Entretanto, há um conflito de versões sobre o ato de 13 de setembro de 1661. Isso porque também existe o relato de que tal dia foi, na verdade, o dia da proibição. De qualquer maneira, muitos anos depois, 13 de setembro virou o Dia da Cachaça.

A história da cachaça no Brasil

Segundo o Ibrac, o início da colonização do Brasil marca os primeiros passos da história da cachaça. Ali, entre 1516 e 1532, um engenho de açúcar, na Feitoria de Itamaracá, em Pernambuco, produziu, de forma intencional, a bebida.

A versão mais aceita que explica a origem da cachaça relata que os portugueses improvisaram e criaram a bebida. Eles estavam acostumados a beber um destilado de casca de uva, chamado de “bagaceira”. Então, passaram a fermentar e a destilar os derivados da cana-de-açúcar.

A outra versão, menos aceita, indica que o surgimento da cachaça se deu por intermédio da fervura da garapa para fazer o açúcar. A espuma que surgia era retirada e jogada nos cochos dos animais. O líquido, assim, fermentava com o tempo e formava um caldo, chamado de “cagaça”. Ele “revigorava” o gado. Os escravos perceberam e passaram a tomar. Os portugueses, que já entendiam de destilação, passaram a destilar o fermentado da “cagaça”, originando a aguardente brasileira.

De qualquer forma, a cachaça surgiu, sendo o primeiro destilado das Américas. O nome é um brasileirismo para a palavra “cachaza”, de origem espanhola e que é um subproduto anterior à cristalização do açúcar.

Diferentes tipos de cachaça

A cachaça, caldo da cana fermentado e destilado, tem mais de 30 tipos de madeira para armazenamento e envelhecimento. Assim, tem uma rica variedade de cores, aromas e sabores. E também tem o Dia da Cachaça para celebrar isso tudo.

Cachaça branca (prata)

É um exemplar clássico, que não apresenta cor. É transparente em função do tipo de madeira utilizado, o tamanho do barril e o tempo de armazenamento. Muitas das vezes, ela não passa por armazenamento em barril. Após a destilação, fica armazenada em recipientes de aço inoxidável.

Cachaça amarela (envelhecida)

A modificação da cor se dá pelo fato de a cachaça ter ficado armazenada em um barril de madeira por determinado tempo. O carvalho da Europa ou dos Estados Unidos são madeiras usadas com mais frequência para fazer esse armazenamento. Neste sentido, esse tipo também pode ser chamado de cachaça premium.

Cachaça de alambique x cachaça industrial

A classificação, de acordo com a legislação brasileira, não muda. Basicamente, é cachaça. Contudo, tem diferença no processo de produção e também na experiência ao apreciar cada uma.

Dia da Cachaça: tradição da produção de cachaça em Luiz Alves é passado de geração em geração – Foto: Arquivo/ND

No caso da cachaça industrial, realizada por empresas de grande porte e em alta quantidade, a queima e a fermentação contam com a adição de agentes químicos, com o objetivo de acelerar a produção.

Já a cachaça de alambique se dá em engenhos, com foco no aroma e no sabor do destilado. Esse processo cuida dos ingredientes da cachaça desde o plantio e colheita da cana, da fermentação, com leveduras selecionadas, a destilação e o envelhecimento.

Curiosidades sobre a cachaça

A cachaça é o primeiro destilado das Américas e pode ser considerada a mãe do rum, criado no Caribe, em Barbados, em 1655, por holandeses expulsos de Pernambuco em 1654.

E para o santo? O costume tem explicação. A bebida foi utilizada em cerimoniais religiosos e indígenas e ganhou santos de proteção: Santa Joana d’Arc, São Benedito, São Jorge e Santo Onofre. Daí veio o hábito de dar para o santo. É um crédito antes de “cometer o pecado”.

A cachaça é figura carimbada em manifestações religiosas, folclóricas e profanas. Assim, sempre “aquece” quermesses, bailes, folguedos, jogos, casamentos, nascimentos, batizados, velórios, folias, novenas, ladainhas e rezas.

Você sabia que a cachaça já foi “remédio”? É a que a bebida já foi usada contra picada de cobra, constipação, fraqueza, maleita (doença provocada por picada de mosquito infectado por um parasita), catarro no peito e até impotência.

A cachaça branca e amarela é para “todos os momentos” de uma digestão. É a “abrideira”, para abrir o apetite, a “companheira”, para acompanhar o prato principal, e também a “saideira”, para ajudar na digestão.

Cachaça e caipirinha: uma combinação clássica

Conhecida em todo o Brasil e no mundo, a caipirinha clássica é feita exclusivamente com cachaça, além de limão, açúcar e gelo. A origem é no interior de São Paulo, em 1918, como remédio contra a gripe, segundo o Ibrac. Naquele momento, o Brasil vivia um surto de Gripe Espanhola.

Dia da Cachaça: Caipirinha brasileira em uma tábua de corte com limão com fundo gradiente, espaço de cópia

No Dia da Cachaça: caipirinha é figura obrigatória | Foto: Istock/ND

Já a Semana da Arte, em fevereiro de 1922, ajudou a tornar a caipirinha conhecida. Virou um sucesso nacional e mundial!

No Dia da Cachaça, que tal aprender como se faz a caipirinha? É dica de ouro!

Benefícios e mitos sobre a cachaça

Benefícios da cachaça para a saúde (consumo moderado)

O consumo moderado da cachaça pode resultar em benefícios para a saúde. Isso porque ela tem propriedades antioxidantes (ajudam a proteger as células da ação oxidante de radicais livres). A bebida também ajuda a dilatar os vasos sanguíneos, o que beneficia a circulação.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo diário ideal de cachaça é cerca de 30g de álcool (etanol), o que equivale a quase duas doses da bebida.

Desmistificando mitos sobre a cachaça

Neste Dia da Cachaça, que tal derrubar dois mitos sobre a bebida? O primeiro é que “cachaça não congela”. É um mito. Isso porque os congeladores domésticos não costumam atingir o ponto de congelamento do álcool, que é em torno de – 40°C.

Outro mito em relação à bebida é a afirmação que ela dá dor de cabeça. Se for de boa qualidade e o consumo for acompanhado com água, é um mito que cai por terra neste Dia da Cachaça.

Como escolher uma boa cachaça?

Dicas para Reconhecer uma Cachaça de Qualidade

A cachaça de qualidade deve ser límpida, transparente e sem resíduos. Ela não possui açúcar na composição e tem uma viscosidade diferente em relação à da água. O armazenamento também é importante no processo de escolha.

Dia da Cachaça: Bebida brasileira conhecida como Cachaça, bebida de cana-de-açúcar. É utilizado na preparação da caipirinha conhecida mundialmente, foco seletivo

Dia da Cachaça: saiba como escolher a bebida Foto: Istock/ND

Reparar no teor alcoólico, no sabor e nas características da bebida também são dicas importantes na hora de escolher um bom exemplar. O aroma também ajuda a identificar uma boa “parceira”. Precisa ser bem suave e não agredir muito o nariz.

Marcas de cachaça de destaque

Segundo “Cachaçaria Nacional”, a Vale Verde 12 anos (com sabores complexos e que remete ao bouborn), a Magnífica Reserva Soleira (notas de especiarias e baunilhas) e Companheira Extra Premium (remete ao uísque norte-americano) são exemplares de primeira linha da categoria ouro.

Entre as brancas, destaque para Princesa Isabel Aquarela (aroma herbáceo e frutado), Sanhaçu Freijó (ótima viscosidade) e Tiê Prata (marcante e equilibrada).

O Papel da cachaça na gastronomia brasileira

Pratos e drinks com cachaça

Além da caipirinha e pura, a cachaça é companheira para diversos drinks. Ela compõe com gengibre, rapadura, caju, açaí e laranja, chá ou xarope de hibisco, groselha, café e cupuaçu. Neste Dia da Cachaça, veja como preparar drinks com a bebida.

Na culinária, é usada em preparo de feijoada, costela suína, pernil, tutu à mineira, rabada com agrião e até doce, como brownie com damasco.

Dia da Cachaça: harmonização com alimentos

Ainda na área gastronômica, a bebida harmoniza com torresmo, bolinhos de bacalhau, mandioca e feijão, feijoadas, churrasco, bacalhau e salmão. Opção não falta para apreciar uma boa bebida neste Dia da Cachaça.

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