Fratura de clavícula no parto: entenda os riscos para o bebê, como o da mãe notificada ao Conselho Tutelar


Família alegou ter saído do hospital sem alta por falta de assistência. A Prefeitura de São Vicente diz que os todos os casos de evasão de menores de idade são reportados ao Conselho Tutelar. Bebê teve uma fratura no ombro durante parto em São Vicente (SP)
Arquivo pessoal
Um bebê teve a clavícula esquerda fraturada durante o parto em São Vicente, no litoral de São Paulo, e a mãe foi notificada pelo Conselho Tutelar. O g1 conversou com especialistas para entender se a lesão pode deixar sequelas. Em alguns casos, que não é o de Noah Gabriel, a criança pode ter uma paralisia, perda da sensibilidade, deformação no membro, atraso no movimento. Confira:
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A mãe, Glória Stefani Rodrigues dos Santos, de 25 anos, contou que foi denunciar a falta de assistência com Noah, que não parava de chorar e não mexia o braço esquerdo, e foi surpreendida. A Maternidade Municipal, no Hospital São José, já havia reportado a evasão da mulher com o filho, sem alta médica.
A família só saiu do hospital porque o pai do bebê procurou a delegacia e foi orientado a ir embora, já que não recebiam tratamento. No mesmo dia, Noah foi levado em outra unidade de saúde, onde foi atendido por um ortopedista, que confirmou a fratura na clavícula e imobilizou a região com uma tala.
O que aconteceu?
Em nota, a prefeitura afirmou que ocorreu uma distocia no ombro. O especialista em ginecologia e obstetrícia e gestação de alto risco, Sergio Floriano de Toledo, explicou que esta condição é uma emergência em que o membro fica preso, dificultando a saída do feto na hora do parto.
De acordo com Sergio, lesões podem acontecer acidentalmente na mãe e no bebê. Mas, segundo ele, em alguns casos, o próprio obstetra pode fraturar a clavícula da criança para diminuir o diâmetro e facilitar a saída do ombro.
O especialista, no entanto, explicou que a opção deve ser usada após o médico usar todas as manobras possíveis. “A incidência não é muito frequente. Hoje, estima-se que seja por volta de 0,5% a 2,5% de todos os partos normais”, disse o obstetra.
Ele afirmou ainda não ser possível prever, antes do parto, situações como a distocia no ombro. No entanto, dois fatores fazem o médico se preparar:
Gestantes diabéticas: As mulheres que têm diabetes, ou seja, muito açúcar no sangue, devem conduzir a gestação com atenção redobrada. Isto porque há chances de o bebê ficar grande e o corpo ficar preso, resultando em uma distocia no ombro.

Macrosomia fetal: Este termo é utilizado para definir recém-nascido com peso igual ou superior a 4 kg. “O tórax do bebê é muito grande e pode suscitar alguma dificuldade no transcorrer do parto”, explicou Sergio.
Nestes casos, que não eram o de Noah Gabriel, o ideal é que seja realizado um parto cesárea — por procedimento cirúrgico.
Fratura de clavícula
A pediatra Heloíza Ventura explicou ao g1 que, geralmente, o tratamento mais adequado é a imobilização do membro, assim como foi feito no bebê após a mãe sair da Maternidade Municipal, sem alta médica.
“O bracinho da criança é imobilizado e é formado um novo, o que a gente chama, calo ósseo. Ali vai sendo cicatrizado esse osso”, afirmou a especialista. Este tratamento foi aplicado em Noah Gabriel, que continua com a região imobilizada e foi encaminhado a um ortopedista pediátrico.
Sequelas
A clavícula é o osso responsável por conectar o ombro ao tórax, servindo como proteção para os nervos e vasos. Por este motivo, o ortopedista pediátrico Marcus Vinicius Moreira destacou que é necessário observar os movimentos do ombro, cotovelo, punho e mão do bebê.
De acordo com o ortopedista, a lesão pode atingir os nervos, principalmente, o plexo braquial que tem função motora e sensitiva para os braços. Quando isso acontece, conforme divulgado Sociedade de Pediatria de São Paulo, as consequências podem ser as seguintes:
Paralisia
Perda de sensibilidade
Deformações no membro
Atraso no movimento do membro
Heloíza acrescentou ainda que as sequelas nem sempre são definitivas. Dependendo da gravidade, podem ser revertidas com fisioterapia, imobilização e até mesmo cirurgia. Em todos os casos, o ideal é ter acompanhamento pediátrico, ortopédico e neurológico.
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O caso
A mãe estava cansada e disse não lembrar do momento em que o filho nasceu na segunda-feira (8). Mas, a madrinha do bebê estava acompanhando a amiga e explicou ao g1 que a parte abaixo do peito de Noah não estava saindo, então, a obstetra precisou usar a força.
“A obstetra puxou por baixo dos dois bracinhos dele e, na hora, ela soltou o bracinho esquerdo dele e continuou puxando até sair”, disse Larissa. Em seguida, ainda de acordo com a madrinha, Glória e o bebê foram para o quarto do hospital.
Em nota, a prefeitura afirmou que ocorreu uma distocia no ombro, complicação em que o membro fica preso, dificultando a saída do feto. De acordo com a pasta, a condição ocorre em 50% dos partos normais.
A administração municipal afirmou que, assim que foi levantada a hipótese da distocia no ombro, foi realizado um exame de raios-x, no qual foi constatada a fratura. “Neste tipo de situação, não há a necessidade de realizar exames adicionais”, afirmou a pasta.
No entanto, Noah não parava de chorar e não mexia o braço esquerdo. A madrinha lembrou do momento do parto e pediu para a pediatra exames de raios-x. Segundo Larissa, a médica disse que o bebê tinha sofrido uma lesão, mas que seria curado, sem intervenção médica, em duas semanas.
A madrinha explicou que a dor que o bebê estava sentindo fez com que Glória não conseguisse amamentá-lo e Noah começou a perder peso. Por este motivo também, o hospital não podia dar alta médica para a família. “Elas [equipe médica] não faziam nada em relação ao bracinho dele”, contou.
Sem alta médica
Diante da situação, o pai do bebê foi até a Delegacia de São Vicente, na quinta-feira (11), e questionou o que poderia ser feito, já que o bebê não recebia tratamento. Os policiais disseram que a família poderia ir embora do hospital, sem alta médica.
Eles saíram da unidade de saúde e, no mesmo dia, o bebê foi atendido por um ortopedista em um pronto-socorro no bairro Jardim Rio Branco. Na unidade de saúde, o médico confirmou a fratura na clavícula de Noah, como é possível ver na imagem acima, e imobilizou a região com uma tala.
“Assim que foi imobilizado o bracinho dele, ele já conseguiu mamar e parou de chorar um pouquinho, mais do que estava chorando”, contou a madrinha do menino.
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