Grave lesão muda a relação entre Thaísa e José Roberto Guimarães: ‘Hoje, a gente se ama’


No terceiro episódio da série especial do Jornal Nacional sobre as Olimpíadas, a história da parceria vitoriosa da bicampeã olímpica de vôlei e do técnico multicampeão da Seleção. Por trás da medalha: Thaísa vai participar da quarta edição de Olimpíadas graças a ajuda de Zé Roberto Guimarães
No terceiro episódio da série especial sobre as Olimpíadas, a história da bicampeã olímpica de vôlei Thaísa. Thaísa vai disputar a quarta edição dos Jogos na carreira. E ela só vai para Paris porque teve uma ajuda muito especial.
A Confederação Brasileira de Vôlei inaugurou o Centro de Desenvolvimento em 2003.
Repórter: São quantos anos de convivência?
Thaísa: Vixe, Maria.
José Roberto Guimarães: Eu nunca fiz essa conta.
Thaísa: Eu também não.
Mesmo ano em que José Roberto Guimarães, já campeão olímpico com os homens, assumiu o comando da seleção feminina.
Thaísa vestiu a camisa da seleção principal pela primeira vez pouco depois, em 2007.
“Ela sempre teve uma leitura do jogo fora de série, em todos os fundamentos. Tecnicamente é uma das melhores jogadoras que eu já conheci”, afirma José Roberto Guimarães.
Quem vê toda essa admiração não imagina como começou a relação de técnico e jogadora.
“Era uma relação assim não muito cordial, não muito tranquila”, conta José Roberto Guimarães.
“Eu achava que ele me odiava. Mas está tudo certo, vou ser profissional, vou fazer o meu melhor”, lembra Thaísa.
Thaísa, na época com 20 anos, via um treinador muito fechado, excessivamente disciplinador. O Zé Roberto, uma atleta rebelde e impetuosa. Só que a falta de intimidade, de um contato mais próximo, acabou compensada pelo resultado final do trabalho.
O bicampeonato olímpico – em Pequim 2008 e Londres 2012 – representou a fase mais vitoriosa do vôlei feminino do Brasil na história. Zé Roberto e Thaísa estavam entre os responsáveis por esse sucesso. Mas ainda faltava algo que os unisse definitivamente.
Depois de anos de convivência no esporte, os laços entre esses dois grandes campeões só foram se estreitar mesmo por causa de um episódio que poderia ter significado o fim. Mas que foi o início de uma amizade para a vida inteira.
Depois das Olimpíadas do Rio, em 2016, quando o Brasil ficou em quinto lugar, Thaísa foi contratada pelo Eczacibasi, da Turquia. Na temporada seguinte, sofreu a pior lesão da carreira.
“Era o menisco dela, lateral, completamente rasgado, destruído. Fora as lesões de cartilagem que ela estava tendo. Ela teve uma entorse grave do tornozelo também. Então, ela já estava sofrendo com o joelho, ela faz uma luxação do tornozelo, e aí é o momento em que ela para”, explica o fisioterapeuta da seleção de vôlei Fernando Fernandes.
Grave lesão muda a relação entre Thaísa e José Roberto Guimarães:
Jornal Nacional/ Reprodução
Uma das melhores jogadoras do mundo se viu diante da possibilidade de encerrar a carreira precocemente aos 29 anos.
“Vai voltar a jogar ou não vai voltar a jogar? E aquilo mexeu muito comigo por tudo o que a gente tinha feito juntos. Aí eu liguei para ela e falei: ‘Olha, vamos fazer um contrato. A gente vai cuidar de você, vem para cá’”.
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Zé Roberto levou a Thaísa para Barueri, clube que ele criou e mantém na Região Metropolitana de São Paulo. Salário, plano de saúde, fisioterapia, tudo. Sem a menor ideia de quando – e se – Thaísa voltaria às quadras.
“Para mim foi um tapa na cara. Por que você foi uma idiota? Por que você não se aproximou antes? Por que você não deu essa oportunidade antes de conhecê-lo melhor? Eu nunca vou poder pagar isso para eles. Eu teria parado de jogar vôlei, muito provavelmente”, diz Thaísa.
“Eu chorava junto. Porque eu via o desespero dela”, conta Zé Roberto.
“O tempo que ele estava ali na quadra comigo, com uma menina que poderia nunca mais jogar vôlei, ele estava lá comigo. Nem que fosse para jogar uma bola”, conta Thaísa.
Foi um processo longo e doloroso. Um ano e meio para a recuperação total.
“Não acabou. Não pode acabar assim. Quando ela começa a atacar as primeiras bolas saltando, eu digo assim: ‘Acho que a gente conseguiu’”, diz Zé Roberto.
O bicampeonato olímpico representou a fase mais vitoriosa do vôlei feminino do Brasil na história. Zé Roberto e Thaísa estavam entre os responsáveis por esse sucesso
Jornal Nacional/ Reprodução
Thaísa voltou mais forte, enfrentou o medo, a dor. A tristeza de não estar 100% e ficar de fora das Olimpíadas de Tóquio – onde o Brasil foi prata. E agora, aos 37 anos, a alegria e a ansiedade de viver Paris.
“Estou animadíssima. Super, de verdade, muito animada”, vibra Thaísa.
E sabendo que, ali, ao lado da quadra, vai estar mais do que apenas um técnico.
“Eu acho que hoje a gente se ama, sabe? A gente tem um relacionamento assim, de olhar, de gratidão um com o outro. Mas eu não vou deixar de cobrar ela jamais”, afirma Zé Roberto rindo.
Thaísa, Zé, o vôlei… Uma história de amor e amizade à espera de mais um final feliz em Paris.
“Fechar com chave de ouro é com ouro, ouro. Não é só fechar com chave de ouro. Não é só expressão. É o que a gente vai buscar. Eu acredito muito que esse time consegue chegar se quiser”, diz Thaísa.
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