Litoral baiano registra três encalhes de baleias-jubarte em menos de uma semana


Dados do Instituto Baleia Jubarte mostram que, até julho, 22 baleias encalharam na costa brasileira em 2024. Aumento dos encalhes acompanhou tendência de crescimento da população. Baleia-jubarte macho de 13,8 metros foi vista à deriva perto de Mucuri (BA)
Fabio Fontes/ Instituto Baleia Jubarte
Três baleias-jubarte encalharam no litoral do estado da Bahia desde a última sexta-feira (12), segundo técnicos do Instituto Baleia Jubarte.
De acordo com Milton Marcondes, médico veterinário e coordenador de pesquisa do instituto, duas baleias foram encontradas em Mucuri (BA) e um filhote perto de Comandatuba (BA). Este último foi o único encontrado vivo, mas veio a óbito depois.
Dados do instituto, com apoio das Instituições membros da Rede de Encalhes e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (Remab), apontam que 22 baleias-jubartes encalharam no Brasil em 2024, sendo 12 somente em julho.
“A imagem que costuma vir na cabeça das pessoas sobre encalhe de baleia, é a baleia viva na praia. No entanto, mais de 90% dos encalhes são baleias mortas, que morreram no mar e algumas chegam na praia. Baleia viva são menos de 10%”, comenta Milton.
Monitoramento de encalhes
Normalmente, o pico de encalhes ocorre no mês de agosto, quando começam os filhotes da espécie começam a nascer. Por ser uma fase sensível, muitos podem morrem em decorrência de malformações, por ataque de predadores ou ainda por se separarem das mães.
Em 2002, segundo o coordenador, a média de encalhes era em torno de 20 para uma população de cerca de 3.400 indivíduos. Hoje, a estimativa do instituto é que que a população esteja em 34 mil baleias, número associado à taxa de 114 encalhes em 2023.
Gráfico mostra número de encalhes de 2002 a 2023
Instituto Baleia Jubarte
De acordo com Milton, aumentos atípicos de encalhes (2010, 2017, 2018 e 2021) foram associados ao efeito de mudanças ambientais afetando a oferta de krill, principal alimento da espécie.
“A jubarte sai da lista de espécies ameaçadas em 2014, só que agora a gente tem esse desafio de tentar conviver com uma população grande dela, num ambiente em que o ser humano ocupa muito mais do que ocupava 200 anos atrás, quando a população também era nessa ordem de quase 30 mil animais”, diz Milton Marcondes.
Baleia encalhada em Mucuri (BA)
Fabio Fontes / Instituto Baleia Jubarte
“Precismos começar a reaprender a conviver com essa quantidade de baleias e também com essa quantidade de baleias que vão aparecer encalhadas no nosso litoral”, completa ao alertar sobre a tendência de aumento de encalhes nos meses de julho, agosto e setembro.
Recuperação da população
Como todas as espécies de grandes baleias, as baleias-jubarte sofreram pela caça comercial indiscriminada, que iniciou ainda no século 18 e se estendeu, para a espécie, até os anos 1960 no Hemisfério Sul.
A estimativa é que mais de 300 mil jubartes foram mortas pela caça predatória, até sua proibição pela Comissão Internacional da Baleia, em 1965.
Em 1987, a aprovação da Lei Federal 7.643, que proíbe a captura e o molestamento intencional de toda espécie de cetáceo em águas brasileiras inaugurou uma nova política a favor da conservação e do uso não-letal desses animais (pesquisa científica e ecoturismo).
Milton destaca a importância do Banco de Abrolhos para a conservação das jubartes e de outras espécies marinhas, como o peixe-boi, a baleia-franca e a tartaruga-marinha.
Apesar dos esforços para manter a área protegida, os animais sofrem constantemente com impactos da realização de atividades sísmicas (para extração de minérios e petróleo), presença de redes de pesca, poluição oceânica e colisão com embarcações.
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