Indústria tem desafio com cenário de estagnação da economia


Prognóstico de economistas da Esalq é que a situação persista até 2025
Pissinato avalia que um possível aquecimento da demanda pode não ser atendido em virtude da estrutura produtiva depreciada
A julgar pelo desempenho da economia no primeiro semestre deste ano, com elevadas taxas de juros, indefinição da política macroeconômica e incertezas externas, a indústria terá de continuar atuando num cenário de estagnação até o final de 2024 e, possivelmente, também no próximo ano. Este é o prognóstico do economista e doutorando em economia aplicada pela Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), Bruno Pissinato, e do economista e professor do curso de ciências econômicas da Esalq, Carlos Eduardo de Freitas Vian.
Membro da equipe de pesquisadores que desenvolve o Boletim Mensal de Conjuntura Industrial para o Simespi (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras), Pissinato tece uma série de considerações para justificar sua análise de conjuntura econômica.
“O Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 cresceu 2,9%, puxado pelo crescimento expressivo, de cerca de 15%, do agronegócio. Por sua vez, a indústria cresceu apenas 1,6%. No primeiro trimestre de 2024, o PIB aumentou 0,8%, sendo este desempenho relacionado, mais uma vez, à performance do agro, do comércio interno e da formação bruta de capital fixo”, explica.
O Boletim Focus, lembra o economista, aponta uma expectativa de crescimento da economia da ordem de 2,09% para 2024.
“Isso está, aparentemente, em consonância com os índices de confiança que melhoraram nos últimos meses. Os índices de situação atual e os de intenção de consumo melhoraram, destacando um impulso na demanda por bens duráveis, especialmente máquinas e aparelhos elétricos e, com maior intensidade, veículos e equipamentos de transporte”, destaca.

O número de empregados no setor industrial ficou próximo ao de serviços, o que ressalta a importância do setor na região
As cotações dos diversos tipos de aço, segundo Vian – que coordena a elaboração do Beletim de Conjuntura Industrial –, iniciaram 2024 em queda e reverteram esta tendência ao longo do primeiro semestre.
“Isso ocorreu pela alteração da cota de importação e aumento da taxa de importação impostas recentemente pelo governo federal, o que permitiu a adoção de alterações nas tabelas de preços das indústrias siderúrgicas nacionais. As projeções de preços que, nas previsões realizadas pelos pesquisadores do Boletim Focus, previam uma volta gradual ao nível pré-covid, se reverteram, indicando estabilidade das cotações ao longo deste ano”.
Vian explica, ainda, que até março, tanto os segmentos de produção de bens intermediários quanto de bens de consumo, que mostravam retração, repentinamente passaram a exibir números positivos.
“Isso pode ser creditado ao maior consumo das famílias e às medidas de proteção à indústria do aço”, justifica.
Pissinato avalia que um possível aquecimento da demanda pode não ser atendido em virtude da estrutura produtiva depreciada. Ele comenta que o nível de Utilização de Capacidade Instalada (UCI) fechou abril em 78,7.
“Este fato é agravado pelos impactos negativos da persistência de taxa Selic elevada, o que inibe a modernização e o potencial produtivo da economia. Assim, limita-se a capacidade de resposta da oferta no curto prazo”, afirma.
As projeções de produção efetuadas pela equipe do Boletim de Conjuntura Industrial mostram que a fabricação de equipamentos de informática e produtos eletrônicos e ópticos tem uma tendência de elevação mais acentuada para 2024 e meados de 2025.
“Fabricação de máquinas e equipamentos e máquinas e materiais elétricos tem uma tendência de pequenas variações no mesmo período”, relata Vian.
A fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias e de outros equipamentos de transporte possuem tendência modesta de crescimento, na avaliação do economista.
“Por sua vez, a metalurgia apresenta tendência de estabilidade da produção até meados de 2025”, analisa.
Entre 2022 e 2023, segundo Pissinato, houve meses com deflação no IGP e IPP.
“No primeiro semestre deste ano, os índices tornaram-se positivos e isso contribuiu para a manutenção da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária”, avalia.
O INPC projetado pelo Boletim de Conjuntura Industrial, no início deste ano, apontava um acumulado para 2024 menor que anos anteriores.
“Entretanto, nos últimos meses, quando ocorreram valores levemente maiores, as projeções apontaram um possível espectro de aumento dos índices gerais de preços. Tanto a tendência central, quanto as possíveis oscilações das projeções do INPC afastam o espectro anteriormente citado, reduzindo-o ao que já ocorrera no passado. Estamos ‘vacinados’. Entretanto, o valor acumulado do INPC já atingiu 2,42% até maio. A última projeção do INPC divulgada no Boletim, em junho, mostra o índice acumulando aproximadamente 5%, com possíveis oscilações entre -1,64% e + 11,82%”, afirma.
Vian explica que o mercado de trabalho em Piracicaba tem mantido saldo positivo entre admitidos e desligados.
“O número de empregados no setor industrial ficou próximo ao de serviços, o que ressalta a importância do setor na região. A dinâmica do setor fabril foi puxada em parte pela sua relativa boa participação nas exportações. Neste primeiro semestre, o saldo da balança comercial pendeu para números positivos”, recorda.
Os salários das indústrias localizadas na base do Simespi (Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras), de acordo com o economista, são maiores quando comparados ao estado de São Paulo.
“Nos segmentos da entidade patronal , os salários foram 2,7% superiores aos da indústria de transformação na região. As médias salariais entre admitidos e demitidos se mantém próximas”, conclui.

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