Honda e Nissan desistem de fusão


No meio de um plano de recuperação, Nissan pretende demitir 9 mil funcionários e reduzir 20% sua capacidade global. Fusão entre Nissan e Honda pode não sair do papel
g1
Honda e Nissan cancelaram, nesta quinta-feira (13), as negociações de fusão com a rival Honda, abandonando uma união de mais de US$ 60 bilhões que teria criado a terceira maior montadora de veículos do mundo.
A Nissan está no meio de um plano de recuperação em que pretende demitir 9 mil funcionários e reduzir 20% sua capacidade global.
A Honda, a segunda maior fabricante de automóveis do Japão, atrás da Toyota, e a Nissan, a terceira maior, disseram em dezembro que estavam em negociações para ganharem tração em um setor que enfrenta crescente competição da chinesa BYD e de outros fabricantes de carros eletrificados.
LEIA MAIS:
LISTA: veja as 10 motos novas mais vendidas do Brasil em janeiro
VÍDEO: veja como ficou a loja de Fuscas antigos atingida pela enchente em SP
Fiat Strada é o carro novo mais vendido em janeiro; veja a lista
A Honda, cujo valor de mercado de cerca de US$ 51,9 bilhões (mais de cinco vezes maior do que a Nissan), estava cada vez mais preocupada com o progresso da rival menor em seu plano de recuperação.
As negociações sobre a união coincidiram com a perturbação causada pelas possíveis sobretaxas de importação propagadas com frequência pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As tarifas contra o México serão mais dolorosas para a Nissan do que para a Honda ou a Toyota, segundo analistas.
E a parceria com a Renault?
Quando as primeiras notícias sobre a aliança entre Honda e Nissan surgiram na imprensa internacional, uma grande questão ficou no ar: como ficaria a parceria Renault-Nissan- Mitsubishi?
A parceira de aliança de longo prazo da Nissan, a Renault, havia dito que estaria aberta, em princípio, à fusão com a Honda. A montadora francesa possui 36% da Nissan, incluindo 18,7% por meio de um fundo francês.
Por mais que a intenção da Nissan e da Honda fossem a de rivalizar com a pujante indústria chinesa, com mais de um terço das ações da Nissan, foi a Renault quem decidiu o futuro da fabricante japonesa.
Dias após o anúncio da intenção da fusão, a fabricante francesa se manifestou com a seguinte nota: “O Renault Group reconhece os anúncios feitos hoje pela Nissan e Honda que ainda estão numa fase inicial.”
“Como principal acionista da Nissan, o Renault Group considerará todas as opções com base no melhor interesse do Grupo e de seus stakeholders. O Renault Group continua a executar sua estratégia e a implementar projetos que criam valor para o Grupo, incluindo projetos já lançados no âmbito da Alliance”, continuou a nota.
De acordo com Milad Kalume Neto, consultor independente do setor automotivo, a Renault já pensava em se proteger no caso de uma saída da Nissan.
“Como principal acionista da Nissan, a Renault indicava que iria exercer seus únicos interesses, considerando desde a cisão até a manutenção do negócio. E o que valerá será o que a Renault e seus acionistas definirem”, explica o especialista.
“Alliance (as três marcas atuais) em primeiro lugar, o que serve como um lembrete para a Nissan de que serão lançados modelos elétricos da Nissan em breve no mercado europeu, com tecnologia Renault, o que poderá ser um problema para a Nissan. Resumindo, não vejo possibilidade de a Nissan falir, mas a empresa não está bem. A Nissan só poderia se movimentar se a Renault quisesse. Caso contrário, a briga judicial seria enorme”, continuou.
Como ocorre uma fusão?
Assim como aconteceu com o Grupo Stellantis, que uniu marcas como Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën, uma fusão requer uma série de ajustes de todas as empresas envolvidas. É feita uma diligência prévia, administrada por uma auditoria independente, para atestar, entre outros fatores, a saúde financeira das empresas que pretendem entrar em fusão.
“Essa auditoria é totalmente confidencial. Não se sabe o que a Honda pode ter encontrado da Nissan e vice-versa. Provavelmente, a Honda não gostou da atual situação da concorrente e quem sairá perdendo será a Nissan. É preciso considerar, ainda, as necessidades de fechamento de fábricas”, analisa diretor de estratégia da Bright Consulting, Cássio Pagliarini.
E no Brasil?
Aqui, a Nissan depende das boas vendas de seu utilitário esportivo compacto, o Kicks. Basta verificar o número de vendas do SUV, que fechou 2024 entre os 10 carros mais vendidos do ano com 60.437 unidades comercializadas.
Enquanto isso, Versa, Sentra e Frontier amargam posições nada confortáveis no ranking geral de vendas. O Versa, concorrente direto de Chevrolet Onix Plus, Hyundai HB20S e Fiat Cronos, registrou 11.628 emplacamentos em 2024, deixando o modelo compacto na 41ª posição. Número bem distante dos 59.960 unidades de Onix Plus comercializadas.
Foram comercializadas apenas 6.014 unidades do sedã médio, o Sentra, de janeiro a dezembro do ano passado, o que o deixou na 47ª posição do ranking geral. Isso coloca o carro da Nissan 6,2 vezes abaixo do líder da categoria, o Toyota Corolla, que conquistou 37.668 novos clientes no mesmo período.
Por sua vez, a picape foi parar na casa de 9.258 novos consumidores em 2024, uma diferença de 40.752 unidades quando comparada às vendas da Toyota Hilux, líder da categoria no acumulado do ano passado.
Contudo, segundo o diretor da Bright Consulting, “apesar de vender poucas unidades dos modelos citados aqui no mercado brasileiro, o fato de a Nissan produzir em fábricas brasileiras para exportar para países vizinhos, pode fortalecer as instalações brasileiras. É difícil a Nissan falir”, comenta Pagliarini.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.